Deputados do PS admitem perdão de dívida e reestruturação com perdas para os credores
O deputado socialista Duarte Cordeiro admite um perdão da dívida, enquanto o líder do PS/Aveiro, Pedro Nuno Santos, fala em reestruturação com perdas para os credores e sustenta que o euro não pode sacrificar um povo inteiro.
As questões da dívida e do futuro do euro foram dois dos temas de uma entrevista à agência Lusa dos três líderes da Juventude Socialista (JS) durante a liderança de José Sócrates no PS: Pedro Nuno Santos (2004/2008), Duarte Cordeiro (2008/2010) e Pedro Delgado Alves (2010/2012).
Pedro Nuno Santos defende uma aliança entre os Estados-membros da Europa do sul para forçar uma mudança na União Europeia e acredita que o futuro do socialismo democrático depende muito do sucesso do projeto europeu.
"Infelizmente, o euro é um problema. O euro não pode ser um fetiche europeu ao qual nós estamos dispostos a sacrificar um povo inteiro em nome desse ideal. A União Europeia é um projeto de paz e de solidariedade, mas o euro é hoje infelizmente um motivo de desconfiança entre os povos, de xenofobia, de desagregação e de destruição do próprio projeto europeu - e nós queremos continuar a salvá-lo", declara.
Pedro Nuno Santos acredita que Portugal não tem solução sem reestruturar a dívida e diz observar com "profunda frustração a forma como o país trata este problema".
"Quando se coloca um anátema na solução 'não pagamos', digo que a única instituição que não pagou foi o Governo português. Para não falhar um cêntimo com os credores, decidiu não pagar pelo menos dois salários aos pensionistas e aos trabalhadores do setor público. Escolheu não pagar aos mais vulneráveis, aos nossos, para não falhar com os credores internacionais", acusa.
Na questão da reestruturação da dívida, o líder do PS/Aveiro entende que "numa relação entre devedor e credor, quando alguma coisa corre mal, não pode ser apenas o devedor a assumir responsabilidades".
"O credor, que emprestou da maneira que queria, nas condições que lhe interessava, com o objetivo de lucrar, tem também de partilhar as perdas. A economia travou, o país ficou em dificuldade e as perdas devem ser assumidas pelas duas partes", sustenta.
Duarte Cordeiro apresenta uma visão globalmente semelhante e considera ilegítima a ideia de que "ou aceitamos este euro ou saímos do euro", contrapondo: "Nós temos de estar dentro do euro e lutar por uma política monetária diferente. É esse o grande desafio da nossa geração".
O deputado socialista advoga que se deve "indexar ao crescimento da economia o pagamento da dívida".
"Podemos dilatar os prazos de pagamento, reduzir os juros e, inclusivamente, pedir perdão de dívida. O que não faz sentido é adotarem-se políticas recessivas que nos impedem de pagar qualquer dívida. Quando não se cresce, não há condições para pagar a dívida. Por esta via não é possível pagar a dívida. É uma falácia tem sido vendida", afirma.
Pedro Delgado Alves lamenta que, quando se foi construindo o modelo de governação económica para a Europa, optou-se apenas por um dos caminhos possíveis.
"De forma pouco democrática, acabámos por consagrar e gravar quase na pedra, uma orientação económica como se fosse a única, remetendo as outras para as franjas. Não é possível que em todos os momentos, todos os Estados estejam num momento de crescimento e de prosperidade. Deitámos fora um conjunto de instrumentos e de ferramentas em termos de opções que permitiriam às economias reagir", aponta.
De acordo com Pedro Alves, Portugal aderiu a este modelo "de forma relativamente acrítica, porque se olhou mais para a ambição de criar um espaço alargado de prosperidade na construção de uma Europa comum".
"Pela beleza que está subjacente a isto, deixámo-nos encantar e não olhámos para as letrinhas pequeninas do contrato. Assinámos um contrato de seguro, mas não verificámos exatamente no detalhe quais as condições quando as coisas correm mal e, de facto, hoje as coisas estão a correr mal e estamos confrontados com uma dificuldade em dar respostas", frisa o docente universitário.
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