A agiotagem, o compadrio, o nepotismo e a submissão aos grandes grupos económicos, destroem SNS.
ENTREVISTA a António Arnault sobre o estado do SNS.
"O Serviço Nacional de Saúde (SNS) não corre perigo de vida pelas “dificuldades
orçamentais” que hoje marcam a vivência nacional… Mas por outras malfeitorias
diz António Arnault “É a agiotagem, o compadrio, o nepotismo, a submissão
aos grandes grupos económicos e a falta de sensibilidade social que põem em
causa a sustentabilidade do SNS e demais conquistas de Abril”. Quem o diz é
António Arnaut, o “pai” do SNS, que em entrevista exclusiva ao nosso jornal antecipa cenários: “Este mal só acabará quando, como dizia o Torga, ‘o povo vier à tona da
história’, ou seja, quando o povo empunhar uma grande vassoura para, com o cabo,
dar umas vergastadas nos carreiristas, e depois varrer o lixo para a vala comum
dos medíocres”… (...)
P -Como pensa ser possível expulsar os “bandidos”, desde logo os agiotas, quando é certo
P -Como pensa ser possível expulsar os “bandidos”, desde logo os agiotas, quando é certo
que à cabeça dos ditos cujos, encontramos a troika, que como sabe cobra mais de 3% pelo
dinheiro emprestado… Muito mais do que qualquer banco empresta ao mais empedernido
salafrário.
António Arnaut – A troika emprestou 78 mil milhões e cobra, em juros e comissões,
António Arnaut – A troika emprestou 78 mil milhões e cobra, em juros e comissões,
35 mil milhões. Bancos nacionais e estrangeiros emprestaram dinheiro a
Portugal a juros, em alguns casos, superiores a 10%, que pediram ao BCE a 1%.
É esta “agiotagem”, de que já falava o Eça, que tem impedido o progresso dos
países pobres e ameaça o Estado Social e, também, o SNS.
P -E o compadrio? Como pensa ser possível acabar com uma cultura que, poder-se-ia afirmar
P -E o compadrio? Como pensa ser possível acabar com uma cultura que, poder-se-ia afirmar
sem receio de falácia, integra o ideal a que pomposamente se apodou de “Alma Lusa”,
e que encontra o seu apogeu na máxima “a família está primeiro” e se verte, na oralidade,
entre tantas outras formas, na singela: “vê lá se arranjas alguma coisita para o Manelinho,
que o coitado anda a precisar de ganhar algum…”
O compadrio e o nepotismo são uma instituição nacional. Por isso há tanto
O compadrio e o nepotismo são uma instituição nacional. Por isso há tanto
incompetente nos lugares cimeiros. Este mal só acabará quando, como dizia o
Torga, “o povo vier à tona da história”, ou seja, quando o povo empunhar uma
grande
vassoura para, com o cabo, dar umas vergastadas nos carreiristas, e depois
varrer o lixo para a vala comum dos medíocres.
P -Apontou, também, como culpada pela desgraça em que se vai afundando o SNS, a
P -Apontou, também, como culpada pela desgraça em que se vai afundando o SNS, a
submissão do Governo aos grandes grupos económicos… Ao mensalão pago a “parasitas”
a “viver à custa do sector público, através de convenções espúrias e de outras manigâncias
conhecidas”. Como pôr fim a esta “gula devoradora”, como aqui há dias a descreveu?
Não esquecendo que falamos de “arranjos” blindados; que em caso de rescisão dos contratos
PPP… Obrigam a indeminizações cujo montante nem a troika arranja…
A pergunta já contém a resposta. Ninguém hoje duvida que os grandes grupos
A pergunta já contém a resposta. Ninguém hoje duvida que os grandes grupos
económicos mandam nos governos, porque são eles que subsidiam as campanhas
eleitorais. Quem ataca o SNS são os que querem fazer da saúde um negócio e
precisam de aumentar a sua clientela para aumentar os seus lucros. Ficam ressalvadas
as pessoas sérias que ainda há na política e no mundo empresarial.(...)
P -O que sente quando ouve o Dr. Paulo Macedo referir que não quer ser o coveiro do SNS;
P -O que sente quando ouve o Dr. Paulo Macedo referir que não quer ser o coveiro do SNS;
que “a redução de custos vai levar a uma maior eficácia”… Para logo apontar: coveiro será
quem não tomar medidas de redução da despesa”…
Ainda dou ao Dr. Paulo Macedo o benefício da dúvida. Disse-lhe há dias que se
Ainda dou ao Dr. Paulo Macedo o benefício da dúvida. Disse-lhe há dias que se
ele quer, efectivamente, salvar o SNS estarei ao seu lado. Caso contrário, estarei
à sua frente. (...)
P -Tem afirmado que “só haverá paz social se o sacrifício for equitativamente repartido por todos”.
P -Tem afirmado que “só haverá paz social se o sacrifício for equitativamente repartido por todos”.
Considera que as recentes medidas adoptadas pela tutela vão nesse sentido? Por exemplo…
O aumento das taxas moderadoras, como foi aplicado, responde à exigência de equidade?
O aumento excessivo das taxas moderadoras e a criação de novas taxas,
O aumento excessivo das taxas moderadoras e a criação de novas taxas,
dificultam ou impedem o acesso a cuidados de saúde de muitos cidadãos.
Em Janeiro houve menos 58.000 consultas hospitalares e nos dois primeiros
meses do ano, menos 4.000 cirurgias. Os números não mentem…
P -A troika mandou cortar! O governo cortou (muito embora cerca de 50% da poupança
P -A troika mandou cortar! O governo cortou (muito embora cerca de 50% da poupança
tenha resultado de reduções administrativas nos preços dos medicamentos e não em reformas
estruturais).
Fica-se com a impressão de que há medo de mexer no resto… Nos interesses instalados… Partilha esta
opinião?
O governo cortou mais do que a troika mandou. Há medo e conivência.
O governo cortou mais do que a troika mandou. Há medo e conivência.
É chocante verificar que são sempre os mais carenciados que pagam as crises.
Sabe porquê? São muitos e já estão habituados…
P -Nesta onda de “cortar a eito” reduziu-se a produção, como se esta fosse irmã-gémea de
P -Nesta onda de “cortar a eito” reduziu-se a produção, como se esta fosse irmã-gémea de
eficiência… E aumentou, como nunca, o número de utentes em espera para cirurgia, primeiras
consultas, recurso às urgências… e o número (considerado inusitado) de mortes em idosos nos
primeiros meses do ano… Pressente ligação entre umas coisas e outras?
Admito que sim, mas não podemos ter a certeza. Certo é que muitos cidadãos
Admito que sim, mas não podemos ter a certeza. Certo é que muitos cidadãos
deixaram de procurar cuidados de saúde e de aviar receitas por carência económica.
Sou testemunha desse drama.
P -É legítimo pedir tanto à população portuguesa? E o pior é que vem por aí mais;
P -É legítimo pedir tanto à população portuguesa? E o pior é que vem por aí mais;
as medidas da troika não ficam por aqui. Na “calha” está um novo aumento das taxas
moderadoras, a restrição dos custos dos subsistemas, o corte dos preços dos genéricos e
a diminuição dos custos operacionais, no valor de 100 milhões de euros. Tudo este ano!
Por detrás de algumas medidas draconianas está um programa ideológico
Por detrás de algumas medidas draconianas está um programa ideológico
ultraliberal que visa destruir o Estado Social e o próprio Estado Democrático.
Habermas já acusou a Europa de estar a desconstruir a democracia e
Mário Soares alertou-nos para um novo tipo de fascismo, a que Boaventura Sousa Santos
chamou há tempos “fascismo social”. Pode ser forte a comparação, mas eu,
que sou homem de esperança, digo: “Não passarão”… (...)
É preciso bom senso. Com a saúde não se brinca. O grande problema é que a
É preciso bom senso. Com a saúde não se brinca. O grande problema é que a
maior parte dos nossos políticos, de todos os governos, não conhece o país real
nem sente o sofrimento do povo. Muitos deles nunca entraram numa unidade
do SNS. (...)fonte
ARTIGO COMPLETO: http://apodrecetuga.blogspot.com/2013/03/a-agiotagem-o-compadrio-o-nepotismo-e.html#ixzz2MVqcwhSw
Não votem mais neles, pensem !
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