Sobre a alegada censura na TVI: os jornalistas deviam ser obrigados a estudar a história do jornalismo português
As notícias sobre asacusações da jornalista da TVI, Ana Leal, à directora-adjunta, Judite de Sousa, de que esta teria censurado uma peça sua no Jornal das 8, que viria a ser emitida na TVI24, vieram chamar a atenção para várias questões relacionadas, por um lado, com o exercício do jornalismo, tais como os poderes da direcção, a autonomia dos jornalistas e o conceito de censura. Por outro, o funcionamento de uma redacção com um histórico tão sensível e complicado como é a redacção da TVI.
Sobre as primeiras questões, elas são matéria recorrente. Direi apenas, por agora, que os jornalistas deviam ser obrigados a estudar a história do jornalismo português para perceberem que se há jornalistas que têm obrigação de saber o que é a censura são os jornalistas portugueses, muitos dos quais a sofreram e contra ela lutaram. A autonomia dos jornalistas não se exerce contra os directores e editores mas sim contra os poderes exteriores à redacção, nomeadamente o poder económico, incluindo dos accionistas, político e outros. A lei e a ética reconhecem à direcção editorial a responsabilidade sobre a selecção e hierarquização das notícias, sem prejuízo do direito que assiste também aos jornalistas de questionarem e discutirem com as suas hierarquias e nos órgãos próprios as decisões que lhes pareçam questionáveis. Confundir isso com censura é desconhecer noções básicas da organização de uma redacção.
A questão fundamental, neste episódio, é talvez outra, e tem a ver com a redacção da TVI. Como escrevi aqui, José Alberto de Carvalho e Judite de Sousa encontraram na TVI uma cultura de redacção criada por Moniz e secundada por Manuela Moura Guedes – caracterizada por uma direcção centralista e dominadora - não obstante a existência de clivagens internas que se mantiveram na sombra enquanto durou o domínio de ambos mas que explodiram na altura da sua saída daquela estação.
Processos como o Freeport, além de outros assuntos tendo José Sócrates como protagonista, deram visibilidade e poder a jornalistas da redacção da TVI, até então pouco conhecidos, que traziam ao “famoso” Jornal Nacional de Sexta as estórias sobre Sócrates que faziam subir as audiências de que a TVI precisava.
No período seguinte, após a queda de Moniz e Moura Guedes, Júlio Magalhães enfrentou a custo as “vedetas” da redacção, retirando-lhes, e às suas peças, o protagonismo que adquiriram com Moniz e Moura Guedes. Também nessa altura a sua direcção foi acusada de censura.
José Alberto e Judite vieram a seguir e encontraram o caminho meio “aplanado”. A princípio tudo parecia correr bem (pelo menos para o exterior). Os novos directores cederam, a meu ver algumas vezes, ao sensacionalismo herdado de outros tempos. Em certos momentos, a TVI de José Alberto e Judite mais parecia a TVI de Moniz e Moura Guedes…
Para quem observa de fora, o conflito agora tornado público na redacção da TVI não é mais do que um remake do que aconteceu depois da saída de Moniz e Moura Guedes embora de menor dimensão, por enquanto….
Mas não deixa de ser um bom sinal que a TVI tenha mantido o “conde” Paes do Amaral, mesmo depois de ele ter vendido a sua posição na Media Capital. Ou não fosse ele o homem que quis dar à informação da TVI a credibilidade perdida com Moniz e Moura Guedes. Veremos se consegue, agora que alienou o “capital”…
Resistirão José Alberto e Judite?
Vai e vem
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