Segundo os relatos históricos da época, supõe-se que D.José I mantinha uma relação amorosa com a dama D.Teresa de Távora, mulher do Marquês Luís Bernardo de Távora e que era esta quem informava o rei sobre tudo o que era dito na corte a seu respeito e do seu gabinete. Actuando contra a própria família, ela avisava o soberano para que este se precavesse contra os perigos que pressentia acumularem-se em seu redor.
Por outro lado, os Távoras foram sempre muito devotos e estavam estreitamente ligados à Companhia de Jesus. Quando se sucederam as perseguições a esta ordem, esta família encarou a questão como uma ofensa. O clima apresentava-se muito agitado e o tema da conspiração contra o rei era comentado por toda a parte.
A 27 de Agosto de 1758, morre a rainha de Espanha e irmã de D.José I, D.Maria Bárbara. Dias depois, a 3 de Setembro do mesmo ano, a notícia chega a Portugal. Segundo consta, apesar do acontecimento, D.José naquela noite saiu do Paço da Ajuda acompanhado pelo Sargento-mor, Pedro Teixeira, em direcção à sege deste último, para se encontrar com a amante.
Mais tarde, por volta das 11 horas, quando voltavam para o palácio, Teixeira tentou abrir a porta da Quinta de Baixo, que dava acesso às quintas, mas não conseguiu fazê-lo, dado que alguém entupira a fechadura.
Após sua limpeza e a abertura da porta, seguiram pela Calçada do Galvão até ao dobrar da esquina do norte das Casas da Quinta do Meio. Dessa esquina, surgiram no escuro três homens a cavalo que dispararam tiros sobre a carruagem, atingindo D.José no braço e na anca direita. Encontrando-se o rei gravemente ferido, o sargento-mor e o bolieiro Custódio da Costa, também atingidos pelos tiros, resolveram dirigir-se ao Bairro da Junqueira à casa do cirurgião-mor António Soares Brandão.
Depois de receber os curativos necessários, a sege dirigiu-se ao palácio. No dia seguinte, surgem diversos rumores acerca do sucedido. Houve quem dissesse que o rei adoecera, quem defendesse que o rei tinha sido alvejado por engano, sendo os tiros destinados a Pedro Teixeira, que era bastante odiado na corte e ainda quem acusasse a família Távora da tentativa de assassinato do rei, já que, por ser muito devota, não consentiria a ofensa que a relação entre o D.José I e a Marquesa constituía. Este acontecimento depressa foi encarado como uma represália familiar dos Távoras contra o rei, pela humilhação que este os fizera passar.
Ao longo de três meses, manteve-se, no Paço,um completo silêncio sobre o atentado. A «Gazeta de Lisboa» ia anunciando as melhoras do Rei, mas não houve reacções oficiais.
O silêncio quebra-se três meses após o atentado, a 9 de Dezembro*, dia em que são presos os presumíveis autores e cúmplices do atentado contra Sua Majestade. Na madrugada desse dia, foram cercadas as casas dos Távoras, Atouguias e jesuítas, tendo, igualmente, sido presos membros da alta nobreza, como D.José Mascarenhas (duque de Aveiro);
D. Francisco de Assis e D.Leonor Tomásia (marqueses de Távora); seus filhos Bernardo e José Maria; D.Jerónimo de Ataíde, 11º Conde de Atouguia; D.João de Almeida Portugal (marquês de Alorna); Manuel de Távora (conde de Vila Nova); D. Manuel de Assis Mascarenhas (3º Conde de Óbidos) e D. Guido da Câmara e Ataíde (5º Conde da Ribeira Grande). Muitas outras pessoas foram presas, entre elas padres e figuras femininas como D. Leonor de Távora; D. Teresa de Távora; a Duquesa de Aveiro; a Condessa de Atouguia e a Marquesa de Alorna.
A sentença de D.Leonor foi, no entanto, diferente da das outras mulheres. Esta foi presa a 14 de Dezembro, condenada sem provas objectivas e, a 13 de Janeiro de 1759, decapitada.. D.Leonor foi considerada uma das principais responsáveis pelo atentado, juntamente com o Duque de Aveiro e o seu director espiritual Gabriel Malagrida. As restantes mulheres foram distribuídas por diferentes conventos.
* Na bibliografia consultada, observámos que existe uma imprecisão em definir a data de prisão dos presumíveis implicados no atentado. Outras obras indicam 13 de Dezembro.
Os Távoras foram, também, acusados de utilizarem a sua casa como uma «oficina de confederações» ou reuniões, em que a conversação se resumia em concitar ódio e aversão contra Sua Majestade. O processo foi dirigido pelos Secretários de Estado Carvalho Tomás da Costa e D.Luís da Cunha, que presidiam aos interrogatórios juntamente com o juiz da «Inconfidência», que deveria julgar os culpados do processo.
A «Junta da Inconfidência» era composta pelos doutores João Pacheco Pereira de Vasconcelos; João Marquês de Bacalhau; Manuel Ferreira de Lima; Inácio Ferreira Souto e José António de Oliveira Machado. Ao longo dos processos, os juizes deveriam limitar-se a provar o acto criminoso encontrando-se proibidos de mencionar as causas que levaram ao atentado.
O processo devia ser secreto, pelo que apenas a sentença final deveria circular entre o público.
O interrogatório dos réus ocorreu entre 15 de Dezembro de 1758 e 8 de Janeiro de 1759. Este processo ocorreu em situações muito irregulares, pois os acusados não tiveram meios de defesa, visto não restarem dúvidas sobre o crime. O interrogatório dos réus ocorreu num cenário de imensa violência e tortura, para que estes se declarassem culpados. A sentença final foi proferida, a 12 de Janeiro de 1759, no Palácio da Ajuda, considerando o veredicto que todos os réus eram, de facto, culpados.
O Duque de Aveiro, os marqueses velhos de Távora, seus filhos Luís Bernardo e José Maria e o Conde de Atouguia foram condenados à pena capital. O mesmo sucedeu com Brás José Romeiro, João Miguel, Manuel Alves, António Alves Ferreira e José Policarpo de Azevedo.
Na madrugada seguinte, a 13 de Janeiro, no patíbulo de Belém, é, finalmente, executada a sentença na presença de uma enorme multidão. Os culpados foram, então, sujeitos aos maiores suplícios, sendo os seus restos posteriormente queimados e as cinzas deitadas ao mar. Os simpatizantes das famílias Távora, Aveiro e Atouguia foram presos no Forte da Junqueira durante longos anos, tendo alguns deles morrido «esquecidos do mundo».
Fonte: CITI
D. José I, c. 1773, por Miguel António do Amaral
1 comentário:
Entretanto como represália e a contento de alguns aveirenses cobardes e manteigueiros, Aveiro passou a chamar-se Nova Bragança, tendo mais tarde recuperado a antiga designação e elevada a cidade.
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