A resolução dos problemas do Aeroporto de Lisboa e o futuro das infra-estruturas aeroportuárias nacionais não passa pelos lucros da Vinci. Do Governo exige-se a vontade e a coragem para os enfrentar.
AbrilAbril | editorial
Horas em filas de espera, incidentes de segurança, voos suprimidos, adiados ou atrasados, queixas crescentes por parte dos passageiros. Este cenário será familiar a quem trabalha no Aeroporto de Lisboa; uma realidade que tem responsáveis.
O número de passageiros vinha crescendo ao longo da década passada e só a crise económica mundial que se iniciou em 2008 é que travou essa tendência. Esses anos foram, também, um período de elevados investimentos na infra-estrutura aeroportuária nacional, quando a sua gestão ainda era pública.
A recuperação da economia trouxe consigo a recuperação da dinâmica sentida: o número de voos e passageiros que têm Portugal e Lisboa como destino voltou a aumentar. Mas, em sentido contrário, o volume de investimento caiu. O que aconteceu pelo meio? A privatização da ANA.
O bloco central, com o CDS-PP, aceitou e assinou com a troika o documento onde constava a privatização da gestora dos aeroportos nacionais, que foi entregue à transnacional Vinci com a concessão por 50 anos.
Mas a Vinci não cortou só o investimento em cerca de 50 milhões ao ano: promoveu a subcontratação, a precariedade e a degradação das condições de trabalho nos aeroportos. Enquanto o número de passageiros cresceu quase 70%, o número de trabalhadores subiu pouco mais de 7%. Ou seja, os movimentos nos aeroportos nacionais (especialmente no de Lisboa) cresceram apesar da privatização, não por causa desta.
Ao mesmo tempo, a Vinci aumentou as taxas aeroportuárias exponencialmente e viu os seus lucros subirem de forma espantosa: no final do ano passado, chegou aos 250 milhões de euros. Nos últimos cinco anos, os lucros da ANA já ascenderam a quase metade dos 1,2 mil milhões de euros que a Vinci pagou pela empresa. Paga quem aterra na Portela e paga o País.
Mas a privatização pode ainda ter outros custos, caso o Governo continue sem colocar os interesses do País à frente dos da Vinci no que diz respeito ao novo Aeroporto de Lisboa. A transnacional quer gastar o menos possível e é isso que explica a aposta no modelo Portela+1, com a reconversão da Base Aérea do Montijo em aeroporto civil. Uma hipótese que hipoteca o futuro, ignorando que só um novo aeroporto assegura as necessidades futuras – cuja localização ideal já está identificada há anos, no Campo de Tiro de Alcochete, que vai ao encontro das várias exigências, ambientais, de segurança, de expansão.
O Governo do PS tem perante si várias exigências neste momento, no que à infra-estrutura aeroportuária diz respeito. Para além da exigência de que a Vinci cumpra com os investimentos necessários, deveria preparar a recuperação do controlo público da ANA e não permitir que os interesses nacionais (invocados com tanta ligeireza de forma recorrente) não sejam submetidos aos lucros de uma transnacional.
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