Retalhos das minhas escritas.
Quando a Ramona era um terror...
Sou filho de gente humilde,meu pai era sapateiro de profissão e minha mãe vendedora ambulante. Vendia fruta na zona do Saldanha e das avenidas novas. E foi assim que,eu a partir dos nove anos de idade (1953) e até começar a aprender o ofício de Montador de elevadores com 13 anos de idade,acompanhei a minha mãe nas férias da escola,calcorreando ruas de Lisboa a vender fruta.
Para Tal, era obrigatória uma licença de venda ambulante. Mas, há sempre um mas,tal licença era uma aberração da lei,visto que na prática não permitia a dita venda. Pois, não nos era permitido fazer paragens para pesar, empacotar a fruta e receber o dinheiro da venda.
Era certo que, se fossemos apanhados pela policia de giro,nessa situação,éramos castigados no mínimo com uma multa de oitenta escudos e cinquenta centavos.
Também existia a Ramona (tipo carro celular da policia) verdadeiro terror dos vendedores ambulantes e que servia para nos levar detidos, assim como a fruta que nos era confiscada,até à esquadra de policia mais próxima. Ora, foi assim que, um dia, estando nós no passeio da rua das Picoas e a atender uma cliente, que fomos surpreendidos pela chegada da Ramona, e lá fomos ,eu e a minha mãe, de charola a caminho da esquadra do Campo Grande.
Entretanto eu não parava de chorar e barafustar contra tal violência e a minha pobre mãe,tentava desesperada tentava acalmar-me até que (talvez por um rebate de consciência dos policias) a Ramona fez uma brusca paragem já perto da Esquadra , e um dos policias,abriu as portas e gritou para a minha mãe: " Vá lá desapareça com o miúdo que já não o podemos ouvir mais! ".
E foi assim que acabou este episódio da minha vida e que muito me marcou. Enfim,era assim que acontecia,neste tempo sujo e triste de que um dia, nos falou Jorge de Sena.
Texto de Arlindo De Jesus Costa , publicado a 26 de Outubro de 2017 no Odivelas Noticias.
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