NÓS SOMOS os enteados da confraria
NÓS SOMOS os não-citados na poesia
NÓS SOMOS os serviçais deste aparato
NÓS SOMOS deste espavento o seu recato
NÓS SOMOS os exilados em nossa terra
NÓS SOMOS os humilhados por esta guerra
NÓS SOMOS mera paisagem dos vossos dias
NÓS SOMOS quem varre o lixo da vossa orgia
NÓS SOMOS quem desespera nesta espera
NÓS SOMOS os açoitados pela besta-fera
NÓS SOMOS os fustigados nesta tortura
NÓS SOMOS apelidados de subcultura
NÓS SOMOS os que norteiam a liberdade
NÓS SOMOS os requerentes da igualdade
NÓS SOMOS os que conjuram fraternidade
NÓS SOMOS a pátria-mãe desta verdade
NÓS SOMOS os peregrinos da insurreição
NÓS SOMOS os paladinos da sedição
NÓS SOMOS conspiradores pela calada
NÓS SOMOS a fala viva da madrugada
NÓS SOMOS os arredios destes festins
NÓS SOMOS deste alerta os seus clarins
NÓS SOMOS quem salta à noite por sobre os muros
NÓS SOMOS os que reclamam o tal futuro
NÓS SOMOS deste navio embarcadiços
NÓS SOMOS mil gerações em rebuliço
NÓS SOMOS os que esperam à porta de entrada
NÓS SOMOS os que perscrutam a alvorada
NÓS SOMOS a navalhinha desta vindima
NÓS SOMOS onda gigante que se aproxima
NÓS SOMOS os que perduram para lá do tempo
NÓS SOMOS os que semeiam loas ao vento
NÓS SOMOS os que, rosnando, mostram os dentes
NÓS SOMOS putas e virgens impacientes
NÓS SOMOS os pecadores do fim do mundo
NÓS SOMOS a estafada vaga de fundo
NÓS SOMOS os que dão tudo a troco de nada
NÓS SOMOS os que não picam ponto na estrada
NÓS SOMOS os sem-vergonha nem universo
NÓS SOMOS quem no oceano está imerso
NÓS SOMOS quem anuncia a flor da aurora
NÓS SOMOS quem reivindica a nossa hora
NÓS SOMOS talvez arautos do mundo tenso
NÓS SOMOS desbravadores do mar imenso
NÓS SOMOS os ignorados pelas sondagens
NÓS SOMOS o mantimento desta voragem
NÓS SOMOS os estuprados pela cobiça
NÓS SOMOS quem, afinal, sai sempre à liça
NÓS SOMOS os militantes da nova era
NÓS SOMOS os guardiões dessa quimera
NÓS SOMOS a quem penhoram os nossos filhos
NÓS SOMOS de qualquer hino o estribilho
NÓS SOMOS os que acarreiam enorme fardo
NÓS SOMOS umas estrofes de informe fado
NÓS SOMOS os que procuram sem vela ou círio
NÓS SOMOS os que escoram vossos delírios
NÓS SOMOS uma canção desatinada
NÓS SOMOS uma pintura mal-amanhada
NÓS SOMOS âncora firme de caravela
NÓS SOMOS o lobo mau desta novela
NÓS SOMOS terra de saibro solo de rocha
NÓS SOMOS quem, pois, de noite carrega a tocha
NÓS SOMOS mel de abelha, fel de peçonha
NÓS SOMOS pele de ovelha que o lobo sonha
NÓS SOMOS os vagabundos da dignidade
NÓS SOMOS os receptores da ruindade
NÓS SOMOS pedra de toque ou cana doce
NÓS SOMOS peste e fedor, convulsa tosse
NÓS SOMOS os malcheirosos das epopeias
NÓS SOMOS todas as patas das centopeias
NÓS SOMOS abusadores de confianças
NÓS SOMOS os que emigram para outras franças
NÓS SOMOS os que julgais mortos em vida
NÓS SOMOS os que soterram a glória erguida
NÓS SOMOS os depravados sem polidez
NÓS SOMOS quem é ferrado com sordidez
NÓS SOMOS quem não esquece o predador
NÓS SOMOS quem limpa a merda do corredor
NÓS SOMOS quem corre a vida atrás dos dias
NÓS SOMOS os cantadores de aleivosias
NÓS SOMOS desta marinha os bucaneiros
NÓS SOMOS a tal raposa nos galinheiros
NÓS SOMOS salteadores das sendas, trilhos
NÓS SOMOS os deflorados por vossos filhos
NÓS SOMOS os condenados à vossa esmola
NÓS SOMOS os que não escapam desta gaiola
NÓS SOMOS os que vocês transformam em caça
NÓS SOMOS quem já não crê na vossa farsa
NÓS SOMOS todo o esmalte de um poema
NÓS SOMOS todo o juro do banco de esperma
NÓS SOMOS o ser fecundo imaginado
NÓS SOMOS a meretriz da porta ao lado
NÓS SOMOS dias fugazes, noite ao relento
NÓS SOMOS todo o menino crescido ao vento
NÓS SOMOS lixo e detritos: a varredura
NÓS SOMOS quem é pisado por ditaduras
NÓS SOMOS os que padecem sob este jugo
NÓS SOMOS os miseráveis de victor hugo
NÓS SOMOS disse um poeta quem mais ordena
NÓS SOMOS os transformados na vossa pena
NÓS SOMOS quem dobra esquinas e vê navios
NÓS SOMOS os profanados anos a fio
NÓS SOMOS massa disforme espezinhada
NÓS SOMOS a consciência desrespeitada
NÓS SOMOS noite e breu, ferro forjado
NÓS SOMOS passado frio, presente ingrato
NÓS SOMOS chuva de verão, neve em agosto
NÓS SOMOS vossos escravos a contragosto
NÓS SOMOS quem ameaça com mundos outros
NÓS SOMOS quem submete a égua ao potro
NÓS SOMOS os naufragados desta procela
NÓS SOMOS dum filme mau as sequelas
NÓS SOMOS os que anseiam pela alforria
NÓS SOMOS os que padecem na enxovia
NÓS SOMOS os ignorados pela justiça
NÓS SOMOS os procurados pela polícia
NÓS SOMOS os rodapés dos livros de história
NÓS SOMOS os rasurados desta memória
NÓS SOMOS os figurantes destes invernos
NÓS SOMOS apalavrados ao fogo do inferno.
NÓS SOMOS os não-citados na poesia
NÓS SOMOS os serviçais deste aparato
NÓS SOMOS deste espavento o seu recato
NÓS SOMOS os exilados em nossa terra
NÓS SOMOS os humilhados por esta guerra
NÓS SOMOS mera paisagem dos vossos dias
NÓS SOMOS quem varre o lixo da vossa orgia
NÓS SOMOS quem desespera nesta espera
NÓS SOMOS os açoitados pela besta-fera
NÓS SOMOS os fustigados nesta tortura
NÓS SOMOS apelidados de subcultura
NÓS SOMOS os que norteiam a liberdade
NÓS SOMOS os requerentes da igualdade
NÓS SOMOS os que conjuram fraternidade
NÓS SOMOS a pátria-mãe desta verdade
NÓS SOMOS os peregrinos da insurreição
NÓS SOMOS os paladinos da sedição
NÓS SOMOS conspiradores pela calada
NÓS SOMOS a fala viva da madrugada
NÓS SOMOS os arredios destes festins
NÓS SOMOS deste alerta os seus clarins
NÓS SOMOS quem salta à noite por sobre os muros
NÓS SOMOS os que reclamam o tal futuro
NÓS SOMOS deste navio embarcadiços
NÓS SOMOS mil gerações em rebuliço
NÓS SOMOS os que esperam à porta de entrada
NÓS SOMOS os que perscrutam a alvorada
NÓS SOMOS a navalhinha desta vindima
NÓS SOMOS onda gigante que se aproxima
NÓS SOMOS os que perduram para lá do tempo
NÓS SOMOS os que semeiam loas ao vento
NÓS SOMOS os que, rosnando, mostram os dentes
NÓS SOMOS putas e virgens impacientes
NÓS SOMOS os pecadores do fim do mundo
NÓS SOMOS a estafada vaga de fundo
NÓS SOMOS os que dão tudo a troco de nada
NÓS SOMOS os que não picam ponto na estrada
NÓS SOMOS os sem-vergonha nem universo
NÓS SOMOS quem no oceano está imerso
NÓS SOMOS quem anuncia a flor da aurora
NÓS SOMOS quem reivindica a nossa hora
NÓS SOMOS talvez arautos do mundo tenso
NÓS SOMOS desbravadores do mar imenso
NÓS SOMOS os ignorados pelas sondagens
NÓS SOMOS o mantimento desta voragem
NÓS SOMOS os estuprados pela cobiça
NÓS SOMOS quem, afinal, sai sempre à liça
NÓS SOMOS os militantes da nova era
NÓS SOMOS os guardiões dessa quimera
NÓS SOMOS a quem penhoram os nossos filhos
NÓS SOMOS de qualquer hino o estribilho
NÓS SOMOS os que acarreiam enorme fardo
NÓS SOMOS umas estrofes de informe fado
NÓS SOMOS os que procuram sem vela ou círio
NÓS SOMOS os que escoram vossos delírios
NÓS SOMOS uma canção desatinada
NÓS SOMOS uma pintura mal-amanhada
NÓS SOMOS âncora firme de caravela
NÓS SOMOS o lobo mau desta novela
NÓS SOMOS terra de saibro solo de rocha
NÓS SOMOS quem, pois, de noite carrega a tocha
NÓS SOMOS mel de abelha, fel de peçonha
NÓS SOMOS pele de ovelha que o lobo sonha
NÓS SOMOS os vagabundos da dignidade
NÓS SOMOS os receptores da ruindade
NÓS SOMOS pedra de toque ou cana doce
NÓS SOMOS peste e fedor, convulsa tosse
NÓS SOMOS os malcheirosos das epopeias
NÓS SOMOS todas as patas das centopeias
NÓS SOMOS abusadores de confianças
NÓS SOMOS os que emigram para outras franças
NÓS SOMOS os que julgais mortos em vida
NÓS SOMOS os que soterram a glória erguida
NÓS SOMOS os depravados sem polidez
NÓS SOMOS quem é ferrado com sordidez
NÓS SOMOS quem não esquece o predador
NÓS SOMOS quem limpa a merda do corredor
NÓS SOMOS quem corre a vida atrás dos dias
NÓS SOMOS os cantadores de aleivosias
NÓS SOMOS desta marinha os bucaneiros
NÓS SOMOS a tal raposa nos galinheiros
NÓS SOMOS salteadores das sendas, trilhos
NÓS SOMOS os deflorados por vossos filhos
NÓS SOMOS os condenados à vossa esmola
NÓS SOMOS os que não escapam desta gaiola
NÓS SOMOS os que vocês transformam em caça
NÓS SOMOS quem já não crê na vossa farsa
NÓS SOMOS todo o esmalte de um poema
NÓS SOMOS todo o juro do banco de esperma
NÓS SOMOS o ser fecundo imaginado
NÓS SOMOS a meretriz da porta ao lado
NÓS SOMOS dias fugazes, noite ao relento
NÓS SOMOS todo o menino crescido ao vento
NÓS SOMOS lixo e detritos: a varredura
NÓS SOMOS quem é pisado por ditaduras
NÓS SOMOS os que padecem sob este jugo
NÓS SOMOS os miseráveis de victor hugo
NÓS SOMOS disse um poeta quem mais ordena
NÓS SOMOS os transformados na vossa pena
NÓS SOMOS quem dobra esquinas e vê navios
NÓS SOMOS os profanados anos a fio
NÓS SOMOS massa disforme espezinhada
NÓS SOMOS a consciência desrespeitada
NÓS SOMOS noite e breu, ferro forjado
NÓS SOMOS passado frio, presente ingrato
NÓS SOMOS chuva de verão, neve em agosto
NÓS SOMOS vossos escravos a contragosto
NÓS SOMOS quem ameaça com mundos outros
NÓS SOMOS quem submete a égua ao potro
NÓS SOMOS os naufragados desta procela
NÓS SOMOS dum filme mau as sequelas
NÓS SOMOS os que anseiam pela alforria
NÓS SOMOS os que padecem na enxovia
NÓS SOMOS os ignorados pela justiça
NÓS SOMOS os procurados pela polícia
NÓS SOMOS os rodapés dos livros de história
NÓS SOMOS os rasurados desta memória
NÓS SOMOS os figurantes destes invernos
NÓS SOMOS apalavrados ao fogo do inferno.
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