É Maio, maduro Maio, dia primeiro de todas as lutas que nos tornam gente: por salários de gente, porque neste país uma pessoa não tem direitos de pessoa com menos de 800 euros; por contratos de gente, daqueles que vêm com direitos de pessoas, como um futuro, uma família e, já agora, sonhos próprios; e horários de gente, e não de bestas mudas de carga alheia que só prestam para albardar. É dia de não trabalharem aqueles que trabalham os outros dias todos. É dia de vir aprender com os trabalhadores do Lidl a não sermos mais tomados por parvos e exigirmos o que por direito é nosso.
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O Dia Internacional do Trabalhador, é a assumpção da nossa História, dos mais altos voos aos mais fundos lodos, na primeira pessoa do singular: dizermo-nos sujeitos do devir como nos dizemos cantoneiros, professores, operários, vigilantes ou lojistas e ouvirmo-nos, sob o sol vernal da Alameda como nas antiquíssimas festas deste mesmo dia de plenilúnio pagão, a nossa voz colectiva, como um marulhar de povo por entre os prédios, ao ritmo das palavras de ordem que são literalmente palavras que dão ordens. «É mesmo necessário o aumento do salário», «igualdade salarial é urgente em Portugal», «emprego estável sim, precariedade não».
Se vives do teu trabalho, hoje é o teu dia. Afirma-o teu como se afirma a dignidade. Que a voz não te esmoreça a turba rompeu.
O Dia Internacional do Trabalhador, é a assumpção da nossa História, dos mais altos voos aos mais fundos lodos, na primeira pessoa do singular: dizermo-nos sujeitos do devir como nos dizemos cantoneiros, professores, operários, vigilantes ou lojistas e ouvirmo-nos, sob o sol vernal da Alameda como nas antiquíssimas festas deste mesmo dia de plenilúnio pagão, a nossa voz colectiva, como um marulhar de povo por entre os prédios, ao ritmo das palavras de ordem que são literalmente palavras que dão ordens. «É mesmo necessário o aumento do salário», «igualdade salarial é urgente em Portugal», «emprego estável sim, precariedade não».
QUEM TE QUEBROU O ENCANTO, NUNCA TE AMOU
Maio é a desobediência histórica de nos apercebermos iguais entre os da nossa condição de trabalhadores, de mulheres e homens que vendem a força do seu trabalho e recebem muito menos do que a riqueza que criam. E para onde vai o resto? Quem tem o resto? A velha pergunta ressoa nova como há cem anos e a Alameda prossegue a marcha, rumo à grande desobediência de nos sentirmos capazes de mudar tudo e sermos, finalmente, gente. Lembramo-nos de onde vimos e do que não vivemos: a minha avó paterna, operária e cinco vezes mãe de filhos que só mantinha vivos roubando, escondido na roupa interior, o esparguete que ela mesma produzia na Fábrica dos Leões, em Évora. Para, quase cem anos depois, os netos lhe descobrirem, com um orgulho que se chama «classe», a verdade simples de que não é possível uma mulher roubar aquilo que ela própria criou. A nós tudo pertence porque nós tudo criamos.Se vives do teu trabalho, hoje é o teu dia. Afirma-o teu como se afirma a dignidade. Que a voz não te esmoreça a turba rompeu.
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