O líder e a porta-voz da formação no Congresso, Irene Mon-tero, querem calar com um referendo as críticas de que têm sido alvo
"Entregarias a política económica de um país a alguém que gasta 600 mil euros num apartamento de luxo?" Esta foi a mensagem que Pablo Iglesias, líder do Podemos, escreveu no Twitter em 2012, para criticar o facto de Luis de Guindos, então ministro da Economia espanhol e atual vice-presidente do Banco Central Europeu, ter comprado uma casa desse valor. O problema é que agora foi Iglesias que, junto com a companheira Irene Monteiro, porta-voz do Podemos no Congresso, comprou uma vivenda com piscina no norte de Madrid por 600 mil euros. O mal estar dentro da formação de esquerda tem vindo a crescer e para pôr um ponto final na situação, Iglesias convocou um referendo.
"Consideras que Pablo Iglesias e Irene Montero devem continuar à frente da secretaria-geral e do cargo de porta-voz parlamentar do Podemos?" Esta é a pergunta à qual devem responder os militantes do partido, que na última sondagem Metroscopia (para o El País) surgia em segundo lugar das intenções de voto, atrás do Ciudadanos de Albert Rivera. Caso os apoiantes votem "não", ambos renunciam a ser deputados. Os pormenores do referendo interno serão conhecidos hoje, depois da reunião semanal da direção do partido.
"Quando se questiona a credibilidade de alguém, essa pessoa não se pode esconder e precisa de dar a cara. Cabe aos militantes do Podemos decidirem se continuamos a ser dignos de manter as responsabilidades que temos ou se temos que nos demitir", afirmou Iglesias numa conferência de imprensa, lembrando que foi reeleito líder no ano passado com 89% dos votos. "Se alguém acha que temos algo do qual nos envergonhar, não cabe a nós julgá-lo. São as pessoas do Podemos, os militantes, que devem avaliá-lo", referiu a seu lado Montero.
Iglesias, de 39 anos, e Montero, de 29, estão a ser acusados, incluindo por membros do Podemos, de trair os princípios do partido - que nasceu do movimento dos indignados e das críticas contra a austeridade e corrupção. Da parte das outras formações políticas, denuncia-se o "populismo incoerente". Quando confrontada com o tweet de Iglesias, na sexta-feira no Congresso, Montero respondeu aos jornalistas que é diferente comprar uma casa para "empreender um projeto familiar" ou para "especular" (deixando no ar que seria esse o objetivo de Guindos, apesar de depois dizer não saber se foi assim).
Os dois dirigentes do Podemos, cuja relação se tornou pública no início de 2017 e que confirmaram em março que serão pais de gémeos no outono, vivem numa casa alugada. A vivenda que agora compraram tem 250 metros quadrados e está construída num terreno de quase dois mil metros quadrados, que inclui piscina e casa de hóspedes, em Galapagar, no norte de Madrid. Para a comprar, o casal pediu um empréstimo de 540 mil euros a 30 anos, devendo pagar uma prestação mensal a 1600 euros.
Num comunicado conjunto no Facebook, garantem que podem pagar a prestação graças ao seu salário, que corresponde a três salários mínimos - será de quatro quando forem pais - segundo o código ético da sua formação política. O resto do que auferem é doado ao Podemos e a causas sociais. No mesmo texto indicam que a entrada para a casa, assim como as obras que necessitava, foram pagas com as poupanças de ambos, sendo que Irene teve que pedir emprestado aos pais. Já Iglesias, além do ordenado de deputado, também tem dois programas na televisão (Fort Apache e Otra Vuelta de Tuerka) e recebe direitos de autor dos livros que escreveu. E menciona a herança que os pais lhe deixarão, que inclui vários imóveis.
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