O material roubado de Tancos pode servir para criar cenários de horror em mãos terroristas. Os 53 quilos de plástico explosivo dão para deitar um prédio abaixo. As LAW são um perigo para transportes.
Os cenários que se colocam com a possibilidade de uso do material roubado em Tancos são assustadores, segundo especialistas em armamento e em explosivos contactados pelo Observador. Sobretudo se o material for usado em ações terroristas. Os explosivos podem detonar vários carros-bomba com um potencial destrutivo considerável.
Mais de 50 quilos de plástico PE4A podem deitar um prédio abaixo. Os foguetes anti-carro têm capacidade para derrubar aviões perto de aeroportos, explodir viaturas VIP blindadas ou tudo o que estiver na imaginação de quem quiser utilizar o material com os piores fins.
Pelas explicações que o Observador obteve, é compreensível o estado de alerta e o nervosismo que este furto de material está a gerar a nível internacional. O Exército não confirmou ao Observador a descrição do material nem as quantidades divulgadas pelo jornal El Español este domingo, mas é possível dar uma ideia do que está em causa para a segurança coletiva se este armamento estiver nas mãos erradas.
O armamento descrito pelo jornal espanhol enquadra-se na informação oficial divulgada pelo Exército, num comunicado de sexta-feira, em que descrevia assim os objetos do furto: “Em relação aos materiais em falta, para além das granadas de mão ofensivas e das munições de 9mm, foram também detetadas as faltas de ‘granadas foguete anticarro’, granadas de mão de gás lacrimogéneo, explosivos e material diverso de sapadores como bobines de arame, disparadores e iniciadores”.
Embora um dos especialistas contactados pelo Observador tenha especulado que algum deste material pudesse estar fora de validade, não é muito provável que tenha acontecido.
Equipamento armazenado nos paióis militares, como explosivos, que fique fora de validade, deve ser destruído de forma controlada pela Engenharia ou utilizado em treinos e instrução.
Trata-se de um explosivo militar com uma capacidade de detonação superior ao TNT. No total, o PE4A roubado de Tancos corresponde a 52,8 quilos de explosivo. Os riscos são imensos.
Com mais detalhe e quantidades, é possível perceber o perigo que o uso do armamento roubado pode representar. Um dos exercícios de serviços de informações, polícias, unidades anti-terroristas ou militares é tentarem pensar como pensam os terroristas e usar a imaginação para prevenir eventuais atentados. Neste caso, as fontes contactadas pelo Observador — que pedem anonimato dada a sensibilidade da informação — consideram que a disseminação deste material representa mesmo um problema sério de segurança.
Explosivos suficientes para deitar um prédio abaixo
264 unidades de explosivo plástico PE4A. Cada carga destas consiste num pequeno cilindro de 200 gramas de plástico moldável que parece plasticina. Trata-se de um explosivo militar com uma capacidade de detonação superior ao TNT. “Um carro bomba com cinco quilos deste material no meio de uma cidade pode fazes estragos incalculáveis”, explica um dos especialistas contactados pelo Observador. No total, o PE4A roubado de Tancos corresponde a 52,8 quilos de explosivo. Os riscos são imensos. Uma carga deste calibre nas mãos de um especialista que a soubesse colocar poderia deitar um prédio abaixo. Pode ser um dos materiais que mais preocupam as autoridades.
112 cargas de corte. O El Español refere-se ao roubo de 30 unidades de CCD10, a 57 unidades de CCD20, e a 15 unidades de CCD30. Os especialistas contactados pelo Observador interpretam a descrição do jornal como sendo “cargas lineares de corte”, ou seja: se a descrição do jornalista espanhol estiver correta, são explosivos para colocar de forma cirúrgica para rebentar portas blindadas: por exemplo, a porta de uma das carrinhas de valores assaltada recentemente em Portugal terá sido cortada com “uma carga linear de corte”. No uso militar, pode servir para inutilizar infraestruturas: cortar carris de comboios, deitar pontes abaixo. Se forem combinadas com cobre ou chumbo, aumentam o seu poder explosivo.
30,5 Lâminas KSL ou lâminas explosivas. São também explosivos, mas apresentam-se em folhas. Imagine uma folha A4 com dois ou três milímetros de espessura, embora haja várias dimensões destas lâminas. Servem para colar numa porta para a rebentar, por hipótese. Ou para, em situações de guerra, danificar infraestruturas inimigas, como as cargas de corte referidas anteriormente. Tanto estes explosivos como os anteriores podem ser muito perigosos se chegarem à posse de organizações terroristas, tendo em conta os múltiplos usos que lhes pode ser dado.
Lança-granadas que podem destruir blindados VIP e até pôr aviões em perigo
44 granadas foguete anti-carro ou Light Anti-tank Weapon(LAW). Imagine um tubo com um metro de comprimento e a grossura de um punho, que só pesa dois quilos, e que pode esconder-se e transportar com facilidade. Esta é mais uma das ameaças a considerar, porque o seu uso é tão simples quanto isto: estica-se o tubo, que fica quase com o dobro do comprimento, coloca-se a mira, põe-se ao ombro e executa-se o disparo. O objetivo militar é a luta anti-carro de combate — ou anti-tanque, em linguagem corrente — mas pode ter as mais diversas utilizações, que dependem das intenções de quem possua este arsenal de 44 armas. Mesmo as viaturas blindadas das entidades VIP, como alguns políticos, não têm proteção para este tipo de arma: o carro explode, “queima tudo lá dentro”, diz um antigo militar. Embora esta fonte refira que a LAW não é uma arma com grande precisão de tiro à distância, outro especialista mais habituado a lidar com a ameaça terrorista diz que pode ser uma arma muito perigosa para os transportes públicos. E que, apesar dos problemas de precisão, pode mesmo ser usada contra aviões em descolagem ou na aproximação a aeroportos.
Estas granadas fazem muito barulho, podem causar danos irreversíveis nos tímpanos, e servem, por exemplo, para neutralizar e atordoar alvos dentro de uma casa antes da infiltração de uma equipa.
150 granadas de mão ofensivas. O El Español descreve que foram roubadas em Tancos 90 granadas de mão ofensivas M321, 30 granadas de mão ofensivas M962 e 30 granadas de mão ofensivas M321. São modelos diferentes do mesmo tipo de arma. Mas não faça confusão: estas não são as granadas defensivas, usadas em situações de guerra, com o objetivo de matar o inimigo com os estilhaços de ferro. As granadas ofensivas têm um efeito de sopro e não o objetivo de espalhar estilhaços. No entanto, há sempre risco de morte para quem for sujeito a este tipo de arma, se for apanhado pela espoleta ou outro material da própria granada. Estas granadas fazem muito barulho, podem causar danos irreversíveis nos tímpanos, e servem, por exemplo, para neutralizar e atordoar alvos dentro de uma casa antes da infiltração de uma equipa. Em mãos terroristas, despoletar várias granadas destas ao mesmo tempo tem um potencial destruidor que não se pode negligenciar, sobretudo se estiverem associadas a pregos ou parafusos, uma técnica comum dos grupos terroristas quando colocam bombas artesanais.
18 granadas de gás lacrimogéneo. Terão sido roubados três modelos diferentes de granadas de gás lacrimogéneo como as usadas pelas forças policiais para dispersar manifestações. Pode não ser uma arma letal, mas depende do meio em que forem usadas. Em grandes concentrações humanas ou em áreas fechadas, este material pode ser muito perigoso ao causar o pânico. No ano 2000, em Lisboa, houve sete mortes na discoteca Luanda por ter sido lançada uma granada de gás lacrimogéneo dentro de um espaço fechado e cheio de gente.
Material diverso para fabricar bombas e armadilhas
22 bobinas de fio para ativação por tração. São fios de metal, muito finos — como fios de nylon — que servem para fazer armadilhas. Montam-se fios que na gíria os militares chamam “fios de tropeçar”, que estão ligados depois a um meio mecânico ou eletrónico que aciona um fulminante que faz explodir a carga (podem ser os plásticos acima referidos).
25 disparadores e 60 iniciadores. No caso de uma armadilha como acima descrito, o fio aciona o disparador que desencadeia o iniciador que faz rebentar a carga. O El Español faz referência ao desaparecimento de “um disparador de descompressão”, a 24 “disparadores de tração lateral multidimensional inerte” (os que estão ligados aos fios de ativação). Ainda menciona que foram roubados 60 “iniciadores IKS”. O disparador ativa a detonação e é possível que estes iniciadores — da forma como estão descritos — sejam o material fulminante que associado aos disparadores fazem explodir o plástico.
Munições para armas das mais usadas
450 cartuchos de 9 mm são 1450 munições. É um dos calibres mais utilizados quer em pistolas de polícias e de militares, quer em pistolas metralhadoras, como as MP5. O uso de munições convencionais não será o fator mais decisivo para a realização de atentados terroristas, mas é possível vender facilmente as munições no mercado negro ou utilizá-las nas armas de uma determinada organização.
observador.pt
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