Hoje o meu camarada Edgar Silva perguntava: onde começa o sul?
Sem propósito, dei por mim a responder-lhe....
Sem propósito, dei por mim a responder-lhe....
A viagem magnifica
Onde começa o sul?
No cardo, rosa do deserto, na imensa praia
Robaleira
Ao fim da tarde
Quando passam as caravanas
De açafrão
E as mulheres desviam o olhar de linho
Do viajante solitário.
No cardo, rosa do deserto, na imensa praia
Robaleira
Ao fim da tarde
Quando passam as caravanas
De açafrão
E as mulheres desviam o olhar de linho
Do viajante solitário.
Talvez no comboio
Velho
Rumo a Beja
Onde Al-Mu’tamid
Ensina
O sândalo
No cigarro livre à vigilância distante dos pais.
Velho
Rumo a Beja
Onde Al-Mu’tamid
Ensina
O sândalo
No cigarro livre à vigilância distante dos pais.
O sul são línguas do mediterrâneo
Lambendo no cante
a condição
dos Homens que transportam
na sua
a morte dos filhos.
O sul é a cal
Eterna
Ardendo rente à pele
Orvalhada dos limões.
Lambendo no cante
a condição
dos Homens que transportam
na sua
a morte dos filhos.
O sul é a cal
Eterna
Ardendo rente à pele
Orvalhada dos limões.
O sul cheira a cavalos selvagens
Rompendo restolhos
Onde brincam as infâncias
Esquecidas à impiedosa mão do tempo.
Rompendo restolhos
Onde brincam as infâncias
Esquecidas à impiedosa mão do tempo.
O sul são os estorninhos
E as andorinhas regressadas de Marrocos.
O sul é pão duro
E a lonjura dos olhos.
E as andorinhas regressadas de Marrocos.
O sul é pão duro
E a lonjura dos olhos.
O sul começa
Em Kayhan Kalhor e Erdal Erzincan
E reinincia
Na saudade.
Em Kayhan Kalhor e Erdal Erzincan
E reinincia
Na saudade.
O sul é a pele queimada dos ciganos
E o seu melancólico cantar chorar
Das fogueiras.
E o seu melancólico cantar chorar
Das fogueiras.
O sul não começa.
O sul não acaba.
O sul são cinzas
Depois dos amantes.
O sul são os álamos, as oliveiras
E os freixos.
O achigã grelhado
E a mão no ombro
Antes da solidão do cante.
O sul não acaba.
O sul são cinzas
Depois dos amantes.
O sul são os álamos, as oliveiras
E os freixos.
O achigã grelhado
E a mão no ombro
Antes da solidão do cante.
O sul são as navalhas abertas no balcão.
O Sul é uma gamboa intacta
Antes da fome.
E uma lebre que salta
Como o sonho dos homens.
O Sul é uma gamboa intacta
Antes da fome.
E uma lebre que salta
Como o sonho dos homens.
O sul é Aljustrel
E Marraquexe.
O Sul é Ferreira e a taberna do Carnau.
O sul é esta saudade sufocante.
E Marraquexe.
O Sul é Ferreira e a taberna do Carnau.
O sul é esta saudade sufocante.
O sul são os torresmos
Em Quintos
E o sonho em Baleizão.
O sul é a Alice chamando para a mesa.
Em Quintos
E o sonho em Baleizão.
O sul é a Alice chamando para a mesa.
O Sul é o Partido Comunista
E a enorme distância.
E a enorme distância.
o sul são beijos.
O Sul é este exilio.
O Sul é o local secreto
Cisterna sentida
Das lágrimas.
O sul é o respirar das mães
E o sufocar suão
Da solidão.
Cisterna sentida
Das lágrimas.
O sul é o respirar das mães
E o sufocar suão
Da solidão.
O Sul são os seios
como rolas amanhecidas
na puberdade.
como rolas amanhecidas
na puberdade.
O sul é a fome dos homens
E a resposta
Reforma agrária.
E a resposta
Reforma agrária.
O sul é o «rabo de raposa»
Para a aflição
Imediata.
Para a aflição
Imediata.
O sul são noites inteiras de pesca
E a palavra camarada
Como primeira.
E a palavra camarada
Como primeira.
O sul é pão.
O sul são estevas em brasa
Ante o frio rijo de Novembro.
O sul são crinas.
O sul são as fontes de Castro verde
E a sede da minha bebedeira.
O sul é minha mãe chamando
Como se a noite
Fosse a derradeira.
O sul são estevas em brasa
Ante o frio rijo de Novembro.
O sul são crinas.
O sul são as fontes de Castro verde
E a sede da minha bebedeira.
O sul é minha mãe chamando
Como se a noite
Fosse a derradeira.
António Lains Galamba
Ourém
28 Julho de 2017
28 Julho de 2017
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