Associação de Bombeiros Profissionais diz que só falha de comunicações explica que "estrada da morte" não estivesse cortada
O sistema de comunicações de emergência - SIRESP - teve falhas durante os incêndios de 2016, segundo confirma um relatório do ministério da Administração Interna (MAI), a que o DN teve acesso. O desempenho do SIRESP, ao qual têm sido apontadas também falhas no fogo de Pedrógão Grande, que que terão dificultado a resposta do socorro e combate, é uma das três questões que o primeiro-ministro quer ver esclarecidas (ver perguntas ao lado). Não é conhecida ainda uma avaliação oficial sobre esta situação, mas é convicção de peritos, como Fernando Curto, presidente da Associação Nacional dos Bombeiros Profissionais, que "só uma falha de comunicações entre o comando operacional e quem estava no terreno pode justificar que se tenham desviado tantas pessoas para a chamada "estrada da morte" que fazia parte do perímetro do incêndio e devia estar interditada".
O documento do MAI em causa diz respeito aos incêndios do concelho do Sardoal, em Agosto do ano passado e tem a data de 18 de abril último. É a resposta , em resposta às conclusões da Comissão Municipal de Defesa da Floresta da Vila do Sardoal, datada de setembro de 2016, que registou "falhas" no SIRESP que impediram as comunicações dos bombeiros. Oito meses se passaram entre o incêndio, a deteção dos problemas e a resposta do MAI.
Segundo a Comissão "a destruição pelo fogo de um cabo de transmissão levou a que mais de 50% dos meios de combate ficassem sem comunicações de rádio" e que "tendo sido deslocada uma estação base móvel para substituir a estação base que se encontrava fora de serviço aquela só chegou ao local na manhã de 24 de agosto" , quase 12 horas depois do corte de comunicações, transportada pela PSP, de Queluz até ao local,.
O MAI solicitou relatório à SIRESP SA, empresa que gere o sistema, e à PSP, entidade responsável pela base móvel. A PSP manifestou-se "satisfeita e orgulhosa no tempo de resposta, prontidão e operacionalidade mais uma vez demonstrada pelos seus homens no cumprimento das missões que lhe são atribuídas". O SIRESP SA reconhece que "o incremento exponencial de número de utilizadores e de tráfego em situações de emergência é inevitável e o seu impacto deve ser minimizado pela adoção dos mais corretos procedimentos para estas situações", como por exemplo, "evitar efetuar chamadas privadas" e "assegurar a disciplina nas comunicações, com chamadas curtas e objetivas".
Perante isto, o MAI identificou "duas oportunidades de melhoria", que afirma terem sido "traduzidas na respetiva alteração de procedimentos, para se ultrapassarem as falhas mais relevantes". Um tempo de resposta "máximo de 30 minutos" entre o pedido da Autoridade Nacional de Proteção Civil (ANPC) para "operacionalização da estação móvel" e a resposta da PSP. Nesse caso demorou 1:38 horas, sendo que só ficou operacional no local quase 12 horas depois.
Por outro lado, considera a "falha operacional mais crítica verificada" a demora entre o início da operação móvel e a desativação da fixa, que não permitia a comunicação com a rede SIRESP. Não havendo procedimentos predefinidos para estes casos, o MAI entendeu que as autoridades, como a ANPC, a tomar a decisão.
Duarte Marques, deputado do PSD pelo distrito de Santarém, salienta que "foram pedidas explicações em relação ao que aconteceu no Sardoal e em Abrantes e agora parece que as falhas aconteceram de novo. Perguntamos agora o que foi feito para resolver o problema do SIRESP?"
Questionado o gabinete da ministra da Administração Interna sobre se as recomendações do relatório tinham sido executadas e como se explicam as alegadas novas falhas no sistema, não foi enviada resposta.
Cortar a estrada EN 236-1
A alegada falha no SIRESP é, aliás, a única justificação que Fernando Curto encontra para explicar o facto de a chamada "estrada da morte" não ter sido cortada. Aqui morreram devoradas pelas chamas 47 pessoas. E é outra das questões que António Costa quer esclarecer. "Aquela estrada estava no perímetro do incêndio e o procedimento normal era que fosse cortada. A questão é que se o SIRESP não funcionou, não houve comunicação com quem estava no terreno para o fazer. Como bombeiro não posso permitir que, havendo uma área interdita, que haja pessoas a passar por lá", afirma Fernando Curto. Para este bombeiro profissional "não só é perfeitamente possível cortar uma estrada com aquelas características (com diversas entradas e saídas secundárias), como bastava ter interditado as entradas principais para ter evitado as consequências graves que ocorreram".
Um antigo quadro superior da Proteção Civil, que pediu anonimato, também não entende porque não se cortou aquela estrada e concorda com Curto na eventual falha nas comunicações. "É perfeitamente exequível interditar uma via daquelas. Basta bloquear a entrada e saída principais do troço e colocar alguém no início das ramificações. É assim que faz em qualquer sítio. Até nas autoestradas", afirma. Não entende porque "tendo sido cortada a IC8 não se cortou de imediato essa estrada paralela, dentro do perímetro de segurança do incêndio, que era previsível que as pessoas fossem usar como alternativa".
O general do Exército Leonel Carvalho, que liderou o Gabinete Coordenador de Segurança e foi segundo comandante da GNR, não vê que seja assim tão fácil cortar uma via como a EN 236-1, nas condições em que se encontrava . "Acho praticamente impossível. Nos acessos principais pode ser feito, mas nos secundários é mais complicado. A GNR não pode estar ao longo de toda a estrada", assinala, sublinhando que "a GNR atua sempre se acordo com as indicações que tem do comando operacional. Se não agiu de outra forma era porque a informação que tinha não era contra desviar as pessoas para ali".
Alertas de "instabilidade" climatérica
A terceira questão do chefe de governo, sobre se houve "condições meteorológicas e dinâmicas físicas invulgares" que possam justificara dimensão da tragédia, já foi parcialmente respondida pelo Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), numa conferência de imprensa esta segunda-feira. O IPMA garante que informou a ANPC sobre a situação meteorológica "caracterizada por temperaturas muito altas, associadas a instabilidade vertical na atmosfera", com risco de incêndio "muito elevado". No entanto, o IPMA lembra que "as áreas de risco identificadas dizem respeito a áreas significativas do território nacional e não a localidades específicas". Fonte próxima deste Instituto garantiu ao DN que no dia 12 foi enviada informação à ANPC a dar conta da instabilidade meteorológica na zona centro e dois dias depois, a 14, houve um novo aviso do IPMA em relação a descargas elétricas.
A ANPC não respondeu, até à hora do fecho desta edição, sobre que medidas tomou no terreno para prevenir os prováveis fogos. No entanto, o DN teve acesso a dois comunicados para os comandos distritais alertando para as "condições meteorológicas adversas". No primeiro, dia 15, a ANPC determinou um alerta "amarelo"para todos os distritos e só a 18, depois da catástrofe em Pedrógão Grande, esse alerta é elevado para "laranja", com o consequente reforço de meios no terreno e mais medidas de prevenção.
O documento do MAI em causa diz respeito aos incêndios do concelho do Sardoal, em Agosto do ano passado e tem a data de 18 de abril último. É a resposta , em resposta às conclusões da Comissão Municipal de Defesa da Floresta da Vila do Sardoal, datada de setembro de 2016, que registou "falhas" no SIRESP que impediram as comunicações dos bombeiros. Oito meses se passaram entre o incêndio, a deteção dos problemas e a resposta do MAI.
Segundo a Comissão "a destruição pelo fogo de um cabo de transmissão levou a que mais de 50% dos meios de combate ficassem sem comunicações de rádio" e que "tendo sido deslocada uma estação base móvel para substituir a estação base que se encontrava fora de serviço aquela só chegou ao local na manhã de 24 de agosto" , quase 12 horas depois do corte de comunicações, transportada pela PSP, de Queluz até ao local,.
O MAI solicitou relatório à SIRESP SA, empresa que gere o sistema, e à PSP, entidade responsável pela base móvel. A PSP manifestou-se "satisfeita e orgulhosa no tempo de resposta, prontidão e operacionalidade mais uma vez demonstrada pelos seus homens no cumprimento das missões que lhe são atribuídas". O SIRESP SA reconhece que "o incremento exponencial de número de utilizadores e de tráfego em situações de emergência é inevitável e o seu impacto deve ser minimizado pela adoção dos mais corretos procedimentos para estas situações", como por exemplo, "evitar efetuar chamadas privadas" e "assegurar a disciplina nas comunicações, com chamadas curtas e objetivas".
Perante isto, o MAI identificou "duas oportunidades de melhoria", que afirma terem sido "traduzidas na respetiva alteração de procedimentos, para se ultrapassarem as falhas mais relevantes". Um tempo de resposta "máximo de 30 minutos" entre o pedido da Autoridade Nacional de Proteção Civil (ANPC) para "operacionalização da estação móvel" e a resposta da PSP. Nesse caso demorou 1:38 horas, sendo que só ficou operacional no local quase 12 horas depois.
Por outro lado, considera a "falha operacional mais crítica verificada" a demora entre o início da operação móvel e a desativação da fixa, que não permitia a comunicação com a rede SIRESP. Não havendo procedimentos predefinidos para estes casos, o MAI entendeu que as autoridades, como a ANPC, a tomar a decisão.
Duarte Marques, deputado do PSD pelo distrito de Santarém, salienta que "foram pedidas explicações em relação ao que aconteceu no Sardoal e em Abrantes e agora parece que as falhas aconteceram de novo. Perguntamos agora o que foi feito para resolver o problema do SIRESP?"
Questionado o gabinete da ministra da Administração Interna sobre se as recomendações do relatório tinham sido executadas e como se explicam as alegadas novas falhas no sistema, não foi enviada resposta.
Cortar a estrada EN 236-1
A alegada falha no SIRESP é, aliás, a única justificação que Fernando Curto encontra para explicar o facto de a chamada "estrada da morte" não ter sido cortada. Aqui morreram devoradas pelas chamas 47 pessoas. E é outra das questões que António Costa quer esclarecer. "Aquela estrada estava no perímetro do incêndio e o procedimento normal era que fosse cortada. A questão é que se o SIRESP não funcionou, não houve comunicação com quem estava no terreno para o fazer. Como bombeiro não posso permitir que, havendo uma área interdita, que haja pessoas a passar por lá", afirma Fernando Curto. Para este bombeiro profissional "não só é perfeitamente possível cortar uma estrada com aquelas características (com diversas entradas e saídas secundárias), como bastava ter interditado as entradas principais para ter evitado as consequências graves que ocorreram".
Um antigo quadro superior da Proteção Civil, que pediu anonimato, também não entende porque não se cortou aquela estrada e concorda com Curto na eventual falha nas comunicações. "É perfeitamente exequível interditar uma via daquelas. Basta bloquear a entrada e saída principais do troço e colocar alguém no início das ramificações. É assim que faz em qualquer sítio. Até nas autoestradas", afirma. Não entende porque "tendo sido cortada a IC8 não se cortou de imediato essa estrada paralela, dentro do perímetro de segurança do incêndio, que era previsível que as pessoas fossem usar como alternativa".
O general do Exército Leonel Carvalho, que liderou o Gabinete Coordenador de Segurança e foi segundo comandante da GNR, não vê que seja assim tão fácil cortar uma via como a EN 236-1, nas condições em que se encontrava . "Acho praticamente impossível. Nos acessos principais pode ser feito, mas nos secundários é mais complicado. A GNR não pode estar ao longo de toda a estrada", assinala, sublinhando que "a GNR atua sempre se acordo com as indicações que tem do comando operacional. Se não agiu de outra forma era porque a informação que tinha não era contra desviar as pessoas para ali".
Alertas de "instabilidade" climatérica
A terceira questão do chefe de governo, sobre se houve "condições meteorológicas e dinâmicas físicas invulgares" que possam justificara dimensão da tragédia, já foi parcialmente respondida pelo Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), numa conferência de imprensa esta segunda-feira. O IPMA garante que informou a ANPC sobre a situação meteorológica "caracterizada por temperaturas muito altas, associadas a instabilidade vertical na atmosfera", com risco de incêndio "muito elevado". No entanto, o IPMA lembra que "as áreas de risco identificadas dizem respeito a áreas significativas do território nacional e não a localidades específicas". Fonte próxima deste Instituto garantiu ao DN que no dia 12 foi enviada informação à ANPC a dar conta da instabilidade meteorológica na zona centro e dois dias depois, a 14, houve um novo aviso do IPMA em relação a descargas elétricas.
A ANPC não respondeu, até à hora do fecho desta edição, sobre que medidas tomou no terreno para prevenir os prováveis fogos. No entanto, o DN teve acesso a dois comunicados para os comandos distritais alertando para as "condições meteorológicas adversas". No primeiro, dia 15, a ANPC determinou um alerta "amarelo"para todos os distritos e só a 18, depois da catástrofe em Pedrógão Grande, esse alerta é elevado para "laranja", com o consequente reforço de meios no terreno e mais medidas de prevenção.
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