Lembranças do Bacalhau
Em 1996, discorrendo àcerca do bacalhau, o ilustre dr. Eduardo Mayone Diasanotou que por muito tempo o bacalhau foi chamado em Portugal o fiel amigo. Obacalhau era, de facto, “um amigo fiel p’rós tempos mais apertados, quando a
bolsa não permitia deitar carne na panela. Cozido com batatase grelos era umarefeição substancial e não muito cara. Hoje em dia, o bacalhau anda pelo preçodo bife. Se existe algum alimento nacional português, o bacalhau deve ocupar esse lugar”.
No entanto, como acentuou Mayone Dias, “o bacalhau é um peixe estrangeiro,jamais visto nas águas pátrias. Desde os fins do século 15 que os portuguesesvão pescar o bacalhau à Terra Nova. Ainda há 40 ou 50 anos eram barcos à vela
(lugres), que iam em sua busca. Dos lugres arriavam-se pequenos botes (dories),onde um pescador solitário passava horas, por vezes no meio de denso nevoeiro,lançando no mar as suas linhas dotadas de numerosos anzóis.
Depois, a bordo do lugre, o pescado era limpo e salgado. Mais tarde em terra, secava-se ao sol. Quando chega à cozinha dos portugueses, o bacalhau é mais
um peixe espalmado, coberto de sal fino e duro como uma tábua. Só depois de ter passado uma noite de molho é que se pode cozinhar.
Dizem que há cem maneiras de cozinhar bacalhau, mas como de vez em quando um restaurante lança ainda mais uma fórmula, pode ser que haja ainda mais. O bacalhau cozido “com todos” e os plebêussimos pastéis de bacalhau continuam,
contudo, a defender os seus lugares como as mais castiças de todas as modalidades”.
No seu precioso livro Cooking with a Portuguese flavor, o casal August e Elizabeth Vaz (Castro Valley, CA) presenteia-nos com a seguinte transcrição: “Não restam dúvidas ter sido um navegador português quem primeiro descobriu a Terra
Nova (Newfoundland), muito antes de John Cabot. João Vaz Costa Corte Real, por ordens de D. Afonso V (1438-1481), avistou em 1463 a Terra dos Bacalhaus,
posteriormente denominada Newfoundland, onde certamente os portugueses já pescavam e se tinham estabelecido nos fins do século 15. A faina da pesca aobacalhau progrediu com a presença de entre duas e três centenas de embarcações
vindas, quase unicamente, dos portos de Viana e Aveiro”. (Dionysius Lardner, The History of Maritime & Inland Discovery, Vol. II, London 1830).
Segundo as informações fornecidas pela Encyclopedia Britannica, não podemos precisar com exactidão a data da descoberta da Terra Nova, mas tão somente
sugerir que os pesqueiros locais eram já conhecidos antes da viagem de John Cabot em 1497, de naturalidade italiana (Giovanni Caboto, 1450-1498). Juntamente com
a família, Cabot transferiu-se p’ra Londres em 1484, tendo iniciado as suas explorações anos depois, partindo do porto inglês de Bristol. Esteve em Lisboa
em 1498, encontrando-se com João Fernandes, chamado O Lavrador, que anteriormente havia percorrido a Islândia e Gronelândia. À memória do explorador
português, Cabot deu o nome de Labrador’s Land à costa leste da Gronelândia.
Aparentemente, o termo Newfoundland identificou-se como expressão moderna do genérico “new-found-land” (terra nova descoberta), que Cabot usou no seu mapa
em 1496. A Encylopedia Britannica registou igualmente o testemunho do explorador português Gaspar Corte Real em 1501 àcerca da riqueza dessas águas a
fervilhar com bacalhau.
Maguelonne Toussaint-Samat (History of Food) claramente aponta o bacalhau na categoria de prato nacional português, e que foram os Bascos (Espanha) os
primeiros pescadores na descoberta e apanha do bacalhau na Terra Nova. Visto que o bacalhau é essencialmente voraz, ele atira-se a todas e quaisquer linhas,
facilitando os pescadores no uso de múltiplas linhas em cada barco. Encontrei semelhantes referências, e muitas outras curiosidades, no livro de Mark Kurlansky
ao título Cod, a biography of the fish that changed the world (Bacalhau, uma biografia do peixe que transformou o mundo). Porém, por carência de espaço, deixo tudo isso em “águas de bacalhau” de parceria com aqueloutras expressões:
“Seco como um bacalhau; Estender o bacalhau, ou seja, cumprimentar alguém com a mão; e finalmente, P’ra quem é, bacalhau basta”.
Seguidamente, estes provérbios que consegui “pescar” àcerca do peixe: É p’la cabeça que o peixe começa a cheirar mal. O peixe é apanhado pela boca e o homem pelas suas palavras. O peixe pode nadar três vezes: na água, no molho e no
vinho. Nem tudo o que vem na rede é peixe. Melhor um peixe pequeno do que um prato vazio. Ao fim de três dias, peixes e hóspedes começam a enjoar. Quem dorme não apanha peixe. Se não podes apanhar peixe, apanha camarão. O peixe não vai atrás do anzol mas de isca. Pela boca morre o peixe. Filho de peixe sabe
nadar.
www.portuguesetimes.com
A SEGUIR FOTOS DE PORTUGUESES NA PESCA DO BACALHAU
http://allburrica.blogspot.pt
portugal marítimo
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quinta-feira, 5 de dezembro de 2013
Lembranças do Bacalhau Em 1996, discorrendo àcerca do bacalhau, o ilustre dr. Eduardo Mayone Dias anotou que por muito tempo o bacalhau foi chamado em Portugal o fiel amigo. O bacalhau era, de facto, “um amigo fiel p’rós tempos mais apertados, quando a bolsa não permitia deitar carne na panela. Cozido com batatas e grelos era uma refeição substancial e não muito cara. Hoje em dia, o bacalhau anda pelo preço do bife. Se existe algum alimento nacional português, o bacalhau deve ocupar esse lugar”.
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