Papiniano Carlos (1918-2012) – Uma semana negra!
Registando a partida do poeta e companheiro de sempre, Papiniano Carlos, nenhuma palavra é melhor do que lembrar algumas das suas. Militantes, certeiras, belas!
Renovação
Em cada dia morre um homem em mim.
Em cada dia nasce um homem em mim.
Só o itinerário é o mesmo, e isso decerto basta.
E eu tenho saudade dos homens que fui!
E eu anseio, espero os homens que serei!
Dia após dia, eu me renovo, sigo sempre.
Meus olhos de ontem não são meus olhos de hoje.
Um mundo morre, outro mundo nasce em cada dia.
Só o itinerário é o mesmo, e isso decerto basta.
(Papiniano Carlos)
Itinerário
Os milhares de anos que passaram
viram
a nossa escravidão.
NÓS carregámos as pedras das pirâmides,
o chicote estalou,
abriu rios de sangue no nosso dorso.
NÓS empunhámos nas galés dos césares
os abomináveis remos
e o chicote estalou de novo na nossa pele.
A terra que há milhares de anos arroteámos
não é nossa,
e só NÓS a fecundamos!
E quem abriu as artérias? quem rasgou os pés?
Quem sofreu as guerras? quem apodreceu ao abandono?
E quem cerrou os dentes,
quem cerrou os dentes
e esperou?
Spartacus voltará: milhões de Spartacus!
Os anos que aí vêm hão-de ver
a nossa libertação.
(Papiniano Carlos)
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