Medina Carreira, de comentador encartado a palhaço-sério...
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De comentador encartado a palhaço-sério...
Ouvi atentamente Medina Carreira com um colega seu, a seu lado (tipo eco), a malhar forte e feio naquela coisa que se prepara para ser obrada. E porque não cortar na despesa, assim? E porque não cortar na despesa, assado? Porque este governo, assim. Porque este governo, assado. E assim foi durante não sei quantos minutos a fio e de onde se conclui que o homem, o que advoga, é que não há dinheiro para macacos viciados e que isto é um circo cheio de vícios incutidos por uma constituição que está datada e que hoje já não vale nada. Diz o comentador encartado (agora palhaço-sério), mais ou menos isto: este governo vai gastar demais na saúde, no ensino e no Estado social. Ponto Final. Ponto final, pois. Porque o este palhaço sério, que já vive há muito do circo, omite como se sai do vicioso circulo... (ver resumo)
Claro que o homem falava sem contraditório. Não parecia nada mal colocar alguém que tirasse o palhaço do sério e lhe espetasse pelos olhos dentro a realidade da despesa monstruosa que cresceu à custa do circo e que, não por acaso, o Medi(ci)na omitiu:
"O debate sobre a despesa pública está há muito inquinado por dois grandes erros de percepção. O primeiro corresponde à imagem da administração pública como um conjunto de repartições onde nada se faz de útil, quando maioritariamente é constituído pelo conjunto de pessoas e estruturas (como escolas e centros de saúde) que asseguram muitas das funções que permitem que vivamos numa sociedade minimamente decente. O segundo erro de percepção diz respeito à distinção entre a qualidade e o volume da despesa. A melhoria da qualidade da despesa deve ser uma preocupação de todos, sobretudo a partir de uma verdadeira posição de esquerda, tendo em conta a forma como a despesa pública tem crescentemente vindo a ser determinada pela promiscuidade entre os poderes político, económico e financeiro (como ilustrado pelos casos mais flagrantes das PPP, do BPN ou da privatização de monopólios naturais). Porém, a preocupação com a qualidade da despesa não deve levar à conclusão errada segundo a qual o volume total da mesma - e sobretudo o défice - devem ser cortados de qualquer forma e em qualquer momento.
O Orçamento de Estado para 2013 consegue o pior em todas estas frentes: é profundamente pro-cíclico (tendo em conta a carga fiscal brutal e o saldo primário visado, no contexto de uma gravíssima crise económica e social) e afecta a qualidade da despesa da pior forma (sacrificando ben públicos essenciais para o desenvolvimento e bem-estar). Onde cortar, então? Naturalmente, no mais inútil dos ministérios: o ministério do serviço da dívida. Tem um orçamento superior à Saúde e à Educação, corresponde à sangria de recursos do país numa altura crítica (aprofundando por isso a recessão) e tem como única função adiar uma reestruturação que todos sabemos já ser inevitável, dada a relação entre o volume da dívida, os juros reais e o (de)crescimento a que estamos condenados por esta via. Teria consequências? Sim. Será inevitável mais cedo ou mais tarde? Sim. Seria preferível fazê-lo já? Certamente."
Conversa avinagradaALEXANDRE ABREU, in "Ladrões de Bicicletas"
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