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terça-feira, 23 de outubro de 2012

Mãos Visíveis

E a saga continua

by Tiago Santos


José Rodrigues dos Santos volta a entrar de forma arrogante em campos que não conhece. Já o tinha feito com o último livro, "o último segredo" e sobre este vale a pena ler a crítica escrita pelo padre e filósofo Anselmo Borges, no DN.
Desta vez, discorre sobre a economia. A formula será basicamente a mesma, ou seja, com um número muito limitado de fontes, discorrerá sobre temas que não domina fazendo de parvos quem lê e quem estudou estes temas ao longo de vidas inteiras.
Nada disto mereceria a minha atenção e a atenção deste blogue se a posição priviligiada de JRS não lhe garantisse uma enorme cobertura mediática e por isso, a garantia de um sucesso comercial. Com isto tudo, as pessoas vão-se sentir informadas mas tudo não passa de mais um exercício de desinformação. Opinião pura e pouco fundamentada de JRS travestida de realidade, com o carimbo da sua suposta credibilidade enquanto pivot de televisão - aquele que nos retrata a realidade.
Deixo algumas pérolas que podem ser encontradas na entrevista do autor à Visão:
"Faz-me confusão que protestem agora, mas que não o tenham feito quando se ordenou a construção da segunda ou da terceira autoestrada Lisboa--Porto, nem quando se construíram dez estádios para o Euro 2004, sendo precisos apenas sete. Quando o dinheiro já tinha sido derretido, todos estavam contentes. Agora que chega a fatura, é que se protesta."
"São os principais culpados da crise do subprime. A crise europeia, e a crise portuguesa, decorrem de outro tipo de responsabilidades. O que nos aconteceu foi um acidente de avião. Quando os aviões caem, nunca é por uma só razão, mas por várias, que ocorrem simultaneamente. Ouvimos dirigentes políticos a dizerem: "Ah, a culpa [da crise] é da desregulação nos EUA." É verdade, mas não é toda a verdade. Houve desregulação na América, e a Alemanha tem um desemprego de 4% e uma economia pujante."
"Depois, há a crise do euro e das economias todas. E um problema de fundo: a desindustrialização do Ocidente. Termo-nos endividado não tem nada a ver com o subprime, isso é uma desculpa de quem está a tentar esconder a verdade. Uma segunda crise é a das economias. Para termos um determinado nível de vida, temos que produzir de acordo com ele. Mas como há uma transferência dos meios de produção para a Ásia, que é o problema de fundo, passámos a produzir menos mas a querer manter o mesmo nível de vida. E então, endividámo-nos. Mas este endividamento é insustentável. Portanto, há um momento em que os bancos recuam - aí, sim, entra a crise do subprime. Mas esse momento havia de acontecer na mesma, mais cedo ou mais tarde. Se passar um camião a grande velocidade na minha rua, isso causa um tremor. De repente, caem quatro casas. Mas estes edifícios estavam com falhas estruturais sérias... E a falha mais importante, no caso desta crise, tem a ver com a transferência de produção para o Oriente, e a falta de competitividade."
Esperem um pouco até verem postas inflamadas pelo facebook a socorrerem-se das ideias veículadas por este novo guru da economia. É também aqui que a crise começa...

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