O caminho de António Costa
03Terça-feiraAbr 2012
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Conheço-lhe bem as capacidades no campo político. Entre elas, encontra-se a extraordinária habilidade com que faz intriga, chegando a ser genial na manobra para desestabilizar os seus adversários. Porque, note-se, o faz quase sempre num jeito melífluo, de quem está noutra.
É trabalhador, dedicado às missões que adopta, e tem consabida habilidade para se fazer passar por compagnon de route das esquerdas. Muito em especial quando se trata de tramar a esquerda.
É raro ouvi-lo erguer o tom discursivo, pelo menos em público, como fez agora contra a direcção do seu partido, a propósito da alteração dos estatutos e da condução do combate político.
Para quem quer um “caminho aberto” para o futuro em Belém, perder as estribeiras, como vi e ouvi na Quadratura do Círculo, a propósito da difícil actualidade socialista, é, pelo menos, estranho. Salvo se estiver com mais pressa do que seria suposto.
Vem esta prosa a propósito de algumas das peças da polémica: a crítica à forma e ao conteúdo das alterações estatutárias pretendidas por António José Seguro.
De facto, a direcção do PS fez aprovar uma proposta de revisão dos estatutos do partido, na qual António Costa vê diversas malfeitorias. Com alguma razão, aliás.
“Uma coisa como nunca vi”, disse, a propósito das eleições directas pelas bases do partido das listas de candidatos a deputados, ser realizada sem ser pelo método proporcional (a lista vencedora fica com todos os candidatos, mesmo que vença por escassa margem ou, até, não obtenha maioria absoluta).
Para o edil, a norma “violenta completamente a pluralidade” interna que tem sido uma marca do PS ao longo dos anos.
Mas, pergunto, não é isto que António Costa tem vindo a receitar como modelo político para as autarquias, ou seja, a fórmula dos chamados executivos maioritários e mono-colores?
É certo que, aquando do primeiro acto eleitoral para Lisboa, o PS admitiu tacticamente deixar cair a bandeira dos executivos mono-colores, em nome de um consenso o mais alargado possível com as outras forças políticas, que sempre se opuseram a uma vereação homogénea. Mas isso era para ganhar a eleição. Já depois, em sintonia com o PSD, voltaram à cassete da estabilidade e da eficiência da governação autárquica, às quais, dizem, se deve total obediência.
Sabe-se que o próprio CDS diz, pela voz do seu vice-presidente Nuno Melo, que “No dia em que se assegurar que um partido que tem uma maioria relativa consegue designar a totalidade dos vereadores do executivo está-se basicamente a matar qualquer possibilidade de fiscalização efectiva”.
Mas, então, o António Costa, político tão vanguardista e voluntarioso quando se trata de introduzir reformas neoliberais – mesmo quando cede à imprudência, como ilustra a sua iniciativa prematura de extinção de freguesias – não gosta, no seu partido, da mezinha que propõe para o país autárquico?
Como nota final, uma referência ao manifesto presidencialista que foi dado à estampa sob o nome de “Caminho Aberto”, e que reúne textos políticos de António Costa, escritos ao longo dos últimos 20 anos, de Janeiro de 1992 até 2011.
Logo no início, em algumas alusões à sua passagem por Loures, percebe-se bem aquilo que este homem político retém da sua acção: o metropolitano até Odivelas e a lei das AUGI (Áreas Urbanas de Génese Ilegal) foram, inteiramente, obras suas! Todos os contributos de tanta gente que pugnou por estes objectivos, antes e depois da sua breve passagem por Loures, não merecem relevo nas suas memórias.
Enfim, para ser inteiramente justo, fez alusão ao burro do Ferrari e ao Joãozinho dos clandestinos.
Praça do Bocage
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