Lá em cima, quase no extremo norte do Mundo, no último andar, à esquerda, vivem uns seres humanos, normalmente loiros, algumas vezes, altos; muitas vezes, com olhos claros. Que, talvez por causa do frio, não param quietos, se incomodam, refilam e não se resignam: são os islandeses.
Filhos de deus, como nós, aqui há uns tempos (ainda se lembram?), foram vítimas da tentação consumista do sistema e, sobretudo, dos Bancos e agências de rating crapulosas e parasitas que nada produzem; objectos e bode expiatório da cólera de um deus menor, os islandeses foram atingidos pela implosão de um vulcão de nome esquisito e bíblico e, quase pior do que isto, pela bancarrota virtual. Para além da agiotagem "marcana" e daqueles rapazitos anoréxicos da Moody's, da Standard & Poor's e quejanda tropa fandanga do Universo, que estavam a morrer de tédio e sem nada para fazer de útil (ou inútil), a Islândia foi atingida pela insolvência, decretada pela ditadura económico-financeira mundial. Ultimamente, no entanto, deixou de se falar dos islandeses. Mas eles reagiram, positivamente, do seu sótão alto e frio, só que quase ninguém tem conhecimento disso. Estão irrequietos, atentos e vivos, até pelos sacrifícios e ignomínia a que foram sujeitos.
Será que o Google dá alguma pista sobre isso? Não.
A Associated Press tem informado? Também não.
A Reuters refere os acontecimentos recentes na Islândia? Não.
A Lusa fala deles? Claro que não.
Mas a sociedade civil islandesa não está quieta e mexe. Primeiro afastou o Governo, e votou outro de centro-esquerda. Depois, em referendo, aprovou que os Bancos não fossem reembolsados das "falcatruas" que provocaram. E, mais importante ainda, foi criada uma Assembleia Constituinte de 25 membros para reescrever a Lei fundamental islandesa, que data de 1944.
Já agora e em tempo, alguém saberá de uma insubordinação generalizada da sociedade civil, no estado americano do Winsconsin? Alguém estará devidamente informado sobre isto? As agências calaram-se que nem ratas. Os rapazitos das agências de notícias não sabem de nada. E os preclaros anoréxicos dos ratings estão entretidos, e deliciados, a fatiar o queijo flamengo do Euro. Porque, se não fosse isso, com certeza que já teriam declarado o Winsconsin insolvente, tinham-lhe baixado a nota, e reprovavam-no, no exame.
para ms.
Pub. APS
blog. Arpose
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