Mais de 60% dos crimes contra turistas são praticados por carteiristas, estrangeiros e portugueses, e há uma brigada especial na PSP para os combater. Mas também há crimes mais graves: até violações.
J. e A. andam lado a lado pela baixa de Lisboa. Por vezes, ela toca no ombro dele e trocam sorrisos, como se fossem um casal. Chegam a dar as mãos. Ele está de calções e ténis. Ela veste calças de ganga e ora usa um boné, ora o tira para mudar de aparência. Parecem ambos turistas, de mapa na mão e mochila às costas. Parecem, mas não são. J. e A. são dois agentes da PSP à procura de carteiristas pelas ruas da capital, integrados numa equipa de investigação criminal que, desde março, só faz este trabalho.
O agente A. estava ao serviço da Divisão de Segurança a Transportes Públicos, no Rossio, quando a Direção Nacional da PSP decidiu que ele e outros colegas passariam a trabalhar para a Divisão de Investigação Criminal a partir da Rua da Palma, para andar atrás dos carteiristas. A agente J. veio de uma outra divisão da PSP para se juntar às equipas durante um mês, como reforço e por estratégia. O comando gosta de mudar os polícias no terreno porque os carteiristas percebem rapidamente quem os persegue.
A decisão foi tomada por impulso dos números: mais turistas, mais crimes contra eles. Enquanto o Instituto Nacional de Estatística registava, em 2017, 14 milhões de dormidas e 6 milhões de hóspedes em Lisboa, a esquadra de turismo do Comando da PSP de Lisboa contava, nesse ano, um total de 6800 queixas contra turistas, mais de metade por furto por carteirista. Uma análise aos crimes participados nos primeiros semestres de 2017 e 2018 revelava mesmo um aumento de 5% (ver infografia).
Uma análise aos crimes participados nos primeiros semestres de 2017 e 2018 revelava mesmo um aumento de 5% (ver infografia)comandante da Divisão de Investigação Criminal da PSP, intendente Resende, chama-lhe “criminalidade parasitária”. E tem uma explicação para a sua existência. “Há uma série de movimentos económicos à volta do turismo e o crime é um deles. Da mesma forma que surgem negócios como o Tuk-tuk e afins, surgem atividades ilícitas e criminais”, refere, ressalvando, no entanto, que não estamos perante um fenómeno de “criminalidade violenta”, que até tem vindo a baixar.
Suportado na estatística, o oficial diz que os crimes mais participados são praticados por carteiristas, mas também há burlas com arrendamentos fictícios de casas, furtos em alojamentos temporários, venda de louro prensado como se fosse droga e a especulação dos taxistas. Num cenário limite, diz em tom irónico, um turista pode começar por ser enganado mal chega ao aeroporto, quando apanha um táxi pelo qual pode pagar o dobro ou o triplo do estipulado por lei, ter o azar de chegar ao alojamento local e ele não existir e, já na rua, ser vítima de um furto.
Também há burlas com arrendamentos fictícios de casas, furtos em alojamentos temporários, venda de louro prensado por droga e a especulação dos taxistas.
Ainda assim, Lisboa está entre as cidades mais seguras e há turistas que nem se dão ao trabalho de apresentar queixa, limitando-se a anular os cartões de débito ou de crédito e contribuindo para as chamadas cifras negras.
Polícias palmilham Lisboa a pé. São 16 km por dia
São 10h30 mas J. e A. já andam a bater o terreno há um par de horas. Chegam a palmilhar 16 quilómetros por dia. Na mochila trazem mudas de roupa que vão trocando ao longo do dia e tentam usar acessórios básicos de disfarce, como o tal boné ou uns óculos de sol. Mas se os carteiristas facilmente os descobrem, a polícia também os conhece bem a eles. A maior parte já foi detida várias vezes, mas os suspeitos são depois libertados e voltam ao ataque. O responsável pela equipa, o subcomissário Silva, também vai para o terreno. Mas como é mais uma cara conhecida dos carteiristas, opta por percursos de carro ou pontos de vigia estratégicos, de onde, depois, fornece informações às suas equipas.
Num desses locais de vigia vê-se o pátio Dom Fradique, em Alfama, à espera de obras de reconstrução. Um caminho fácil para quem vem das Portas do Sol e quer ir para o Castelo de São Jorge e quase perfeito para os carteiristas. O caminho é estreito e obriga os turistas a circularem mais próximos um dos outros e as ruínas chamam a atenção de quem procura o castelo. “Está ali a Laura, ainda na sexta-feira a detive”, diz do seu ponto de vigia.
Passaram quatro dias da detenção e a rapariga já está de volta. Tem pele morena e cabelo escuro e não terá mais de 20 anos. O corpo esguio está vestido com uma camisola e uma saia brancas. Na cabeça traz um chapéu de palha de abas largas e na mão um mapa. Segue entre os turistas, ao lado de outro suspeito, também conhecido pela PSP. Laura aproxima-se do grupo de estrangeiros e tenta colocar o mapa por cima de uma mochila para esconder a mão que há-de retirar minuciosamente a carteira do interior. Mas o turista dá um passo mais rápido e interrompe a manobra. “Noutro dia detivemos umas carteiristas nas escadas, ao pé das Portas do Sol, que até escolhiam o que queriam. A turista estava sentada nas escadas, a olhar para o rio, e elas iam tirando coisas da mochila e mandado para trás até chegarem ao que queriam, a carteira”, descreve o subcomissário responsável pela equipa que, desde março, anda no terreno.
Laura e o companheiro seguem a passo apressado em direção ao Castelo. Mudam de alvo e ainda não se aperceberam que estão na mira da polícia. Só páram nas Escadinhas de Santo Estevão, onde já está uma outra equipa policial no seu encalço. Cá de cima, num novo ponto de vigia, o subcomissário vê um movimento suspeito e desconfia que um deles furtou uma carteira. “Às vezes percebemos pelo movimento corporal que já ‘comeram'”, diz na gíria policial para o furto.
“Sorry…”, vira-se o subcomissário para a turista, que, desconfiada, tenta fugir dele. Só com insistência, e depois de mostrar a identificação policial, consegue a sua atenção. Pergunta-lhe se não lhe falta uma carteira. Por sorte, o assalto não se confirma.
Laura aproxima-se do grupo de estrangeiros e tenta colocar o mapa por cima de uma mochila para esconder a mão que há-de retirar minuciosamente a carteira do interior. Mas o turista dá um passo mais rápido e interrompe a manobra.
A dupla de criminosos segue em direção à Praça do Martim Moniz, depois de mais uma tentativa falhada de furto. Laura percebe, agora, que andam policias atrás dela. Afasta-se do companheiro, pega no telemóvel e apanha um táxi. Mas limita-se a dar uma volta à praça e mudar de sítio. “Fazem sempre isto quando se apercebem da nossa presença”, diz o agente M., há mais de 20 anos na profissão.
Lei não é amiga dos polícias e permite deter e soltar carteiristas
A própria lei permite que estes suspeitos cometam crimes e não fiquem presos. Segundo o código penal, o furto por carteirista só é considerado qualificado quando praticado no interior de transportes públicos, ou seja, só dentro de um metro, do comboio ou de um autocarro, por exemplo, o crime é punível com penas superiores a cinco anos de cadeia, permitindo, assim, que seja aplicada a prisão preventiva. Mas como os carteiristas já conhecem a lei, tentam que os crimes aconteçam sempre na rua. “Só quando o caso não segue para julgamento sumário e se conseguem juntar vários processos é que a pena a aplicar poderá ser superior a cinco anos, podendo dar a prisão preventiva”, refere o intendente Resende.
O juiz Lopes Barata sabe bem disso. Ainda há dias estava a fazer turno no Campus de Justiça quando se deparou com um caso assim. “Sabemos que vivem em Lisboa, muitas vezes em pensões e em condições precárias. Estão em Portugal uns meses, deslocam-se para outros países, mas temos que os soltar porque o crime só é punível com pena até três anos. Apliquei-lhes apresentações periódicas na esquadra, mas sei que não cumprem”, admite.
Para o intendente Resende, uma das soluções para este problema seria “qualificar todos os crimes contra os turistas”. Sempre que a vítima fosse um turista, a pena a aplicar seria mais grave. “Os crimes no interior dos transportes públicos reduziram depois da mudança na lei, esta podia ser uma solução”, refere o responsável da PSP. Lopes Barata, no entanto, não concorda que a qualificação seja por essa via. “Também há vítimas portuguesas ou de residentes estrangeiros em Portugal”, alerta. “Considero mais que o crime de furto por carteirista fosse por si só qualificado à semelhança do roubo, até porque está muito próximo de resultar num roubo (que pressupõe violência) se a vítima reagir”, disse ao Observador.
Há outro fator que contribui para a reincidência destes suspeitos. Apesar de serem julgados com frequência — na maior parte dos casos em julgamentos sumários — raramente têm cadastro e são considerados primários. É que depois de aplicada a pena, estes suspeitos costumam recorrer da decisão e esta pode demorar até 60 dias. Por outro lado, a sentença só transita em julgado cerca de 30 dias após a decisão judicial. Até lá, o cadastro dos suspeitos continua imaculado.
Depois de aplicada a pena, estes suspeitos costumam recorrer da decisão e esta pode demorar até 60 dias. Por outro lado, a sentença só transita em julgado cerca de 30 dias após a decisão judicial. Até lá, o cadastro dos suspeitos continua imaculado.
Nicoleta, de 40 anos, e Vandam, de 31, são exemplo disso. Já não é a primeira vez que são detidos pela PSP e já foram julgados em processos sumários no Campus de Justiça, mas continuam sem registo criminal. Quem os vê chegar ao tribunal, acompanhados por um homem mais velho, não lhes desfia uma ponta de nervos. Ambos fintam com o olhar os agentes da PSP que os detiveram e um dos polícias, em resposta, até os cumprimenta. Os suspeitos ignoram. O advogado de Vandam aproxima-se e explica que está a substituir o colega. Como o suspeito não o entende, tenta falar-lhe em espanhol. Nicoleta não larga o telemóvel, até chegar a advogada que a vai representar e com quem troca dois dedos de conversa.
Meia hora depois da hora marcada, começa o julgamento. Os arguidos estão sentados lado a lado, sem olharem ou falarem um com um outro. Ela, de cabelo preto apanhado num rabo de cavalo, está aparentemente calma. Ele, que veste calções e um casaco preto listado de branco, parece mais inquieto no banco dos réus. A juíza instrui a tradutora do que ela deve transmitir aos dois arguidos, mas ela parece já conhecer as práticas do tribunal. E fá-lo sem dificuldade. Os dois, que garantem viver numa pensão perto do Martim Moniz, recusam prestar declarações ou esclarecimentos do que aconteceu naquele dia junto ao Convento do Carmo, quando cercaram uma turista chinesa e lhe furtaram a carteira.
A história acaba narrada pelos três agentes da PSP que os detiveram em flagrante, uma vez que a ofendida nem sequer está presente no julgamento. Raramente estão.
O perfil dos carteiristas consoante a nacionalidade
É mais uma condenação, mas o trabalho no terreno continua. No elétrico 28, os três polícias espreitam pela janela quando veem o ‘”Sandokan” e o Guimarães, dois carteiristas portugueses com mais de 70 anos. “Já só há uns dez carteiristas portugueses. Uns morreram, outros estão velhos, outros foram presos”, diz um dos polícias. Têm um perfil diferente dos romenos ou dos búlgaros que costumam deter. Estes percorrem cidades europeias, estão sempre em movimento e há quem entenda que estão organizados e que trabalham para alguém. O Chefe Agostinho, há quase 30 anos a trabalhar com estes suspeitos, discorda da organização. Diz que estes grupos, a quem chama “mancha”, entraram em Portugal depois do Euro 2004 e vão circulando por onde existam mais pessoas. “Um dia estava numa esplanada em Granada e vi um dos que já tinha detido a passar”, conta. Já os portugueses furtam maioritariamente para alimentar o vício do jogo, do tabaco e, por vezes, do álcool.
Apesar da temperatura, Sandokan traz um impermeável cinzento pelas costas. Ele e Guimarães apanham o elétrico 28 na Rua da Conceição e deixam-se ficar imediatamente atrás do motorista, que também os conhece bem. Observam à volta e fixam-se no homem alto, que será um turista, e que traz uma mala a tiracolo. Parece ser a vítima perfeita. Tentam aproximar-se, não se percebe bem os planos de quem atacará, mas o homem vira-se. Passam meia dúzia de paragens enquanto os polícias os observam, sem que eles percebam. Já perto da Assembleia da República, abandonam o elétrico.
Um dos polícias não os deixa seguir. Quer confirmar que só levam o que é deles e encosta-os à parede. Sandokan e Guimarães têm agora uma cara desolada. Garantem que só iam beber um copo, que deixaram de “fazer carteiras” há muito. O polícia à civil revista os dois, telefona para a esquadra para perceber se têm processos pendentes e acaba por deixá-los ir. Eles seguem. E até se despedem sorridentes.
Não são só os motoristas dos transportes públicos, nomeadamente do elétrico 28, que conhecem os carteiristas. Os comerciantes também sabem quem eles são e eles próprios tentam alertar os clientes. E a polícia. Depois de Laura fugir, o gerente de um restaurante em Alfama, com uma esplanada com vista para o rio, chama a polícia e começa a mostrar no telemóvel as imagens de todos os suspeitos de furtos que ali passam e que ele fotografa. Acaba por assumir que é tão preocupado com o fenómeno que até criou uma página no Facebook para o expor. “A ‘pickpocket in lisbon’ existe, não para promover a violência, nem a justiça popular, mas sim para divulgar e fazer chegar ao maior numero de pessoas aquilo que se passa no país! Queremos ajuda, queremos justiça!”, lê-se na informação sobre a página. Depois, corre-se o perfil e leem-se inúmeras notícias sobre detenções e libertações e imagens dos suspeitos mais conhecidos que atuam nos bairros históricos de Lisboa.
Os lobbies dos hoteis também costumam atrair criminosos. A polícia tem registo de furtos de bagagem a turistas quando estes fazem o check in ou quando estão relaxados a ler um jornal. "Temos visto cenas hilariantes nos sistemas de videovigilância dos hotéis", confessa um dos polícias.
O furto por carteirista é o mais comum nas estatísticas dos crimes cometidos contra quem está de passagem por Lisboa, mas há outros que preocupam as autoridades. Na baixa de Lisboa, a rapariga búlgara que anda a vender leques tem por hábito aproximar-se das mesas e, enquanto mostra o produto aos potenciais clientes, furta-lhes o que quer que tenham em cima da mesa, normalmente o telemóvel. Também há um par de suspeitos que costuma andar vestido de palhaço e que, aparentemente, está ali na Rua Augusta para fazer animação. Mas, de vez em quando, fazem aquilo a que a subcomissária Joana Luís, comandante da Esquadra de Turismo, chama de “furtos de oportunidade”.
Os lobbies dos hotéis também costumam atrair criminosos. A polícia tem registo de furtos de bagagem a turistas, quando estes fazem o check in ou quando estão relaxados a ler um jornal. “Temos visto cenas hilariantes nos sistemas de videovigilância dos hotéis”, confessa um dos polícias. Mas há outro crime que preocupa: a venda de louro prensado. Aos turistas passa a ideia de que nas ruas de Lisboa é muito fácil comprar haxixe, no entanto o que estes homens tentam vender não é droga, mas louro pensado. O engano leva a que estes vendedores não possam ser detidos por tráfico de droga. E a única forma de os fiscalizar é através da Câmara de Lisboa, que os pode multar “por venda ambulante ilegal”, explica o intendente Resende.
Os polícias que dão a cara… e as informações aos turistas
Ao contrário dos polícias que tentam passar por turistas para apanharem assaltantes, as equipas da Esquadra de Turismo da PSP de Lisboa têm por missão mostrar aos turistas como a PSP está presente e pode ajudá-los. Por isso, um dos requisitos para trabalhar nesta esquadra é falar várias línguas. O agente Lima chegou a este serviço há cerca de dois anos e meio. Na farda exibe três pequenas bandeiras. Fala inglês, francês e espanhol. Ao lado, o agente Quintelas leva já quatro anos naquele serviço. “Temos polícias que estão a aprender mandarim. E até temos quem já tenha aprendido língua gestual”, informa o comandante. No fundo, admite, são “um posto de informação móvel”. “A nossa presença acaba por dissuadir outras coisas más”, remata.
A esquadra de turismo funciona em dois locais, um em Santa Apolónia — próxima dos cruzeiros que atracam em Lisboa — a outra na Praça dos Restauradores. “Há um boom no turismo. Estamos no top 5 mundial ao nível dos países mais seguros. Além disso, temos promovido muitos eventos que trazem turistas a Lisboa, como o Web Summit ou mesmo o Eurovisão. Também percebemos quais as nacionalidades que mais nos visitam pelas épocas do ano. No inverno, temos mais sul-americanos e asiáticos, porque devem ser as férias deles. Nesta altura, temos mais europeus”, explica o polícia.
Os polícias notam como “o turismo de cruzeiros” tem vindo a crescer e no novo terminal do Porto de Lisboa até já têm um posto de atendimento para as vítimas de furto que precisem de tratar de documentação rapidamente, para voltarem a embarcar. O Porto de Lisboa registou, no primeiro semestre de 2018, 221 072 passageiros vindos de embarcações, a maior parte em trânsito. Foram mais 28 387 passageiros que no primeiro semestre de 2017. Todos os dias, a PSP sabe quantos cruzeiros vão chegar. Faz parte da articulação entre operadores turísticos e polícia. “Chegámos a ter cinco cruzeiros ao mesmo tempo. Este ano, até um navio da Disney veio. Fizemos 2 mil pulseiras para as crianças”, recorda o agente Quintelas.
Naquele dia, o novo terminal de Santa Apolónia está vazio. No antigo está um cruzeiro de 200 pessoas. “Os mais pequenos são mais seletivos, por isso não significa que sejam menos importantes”, alerta Quintelas, mais falador. Os passageiros vão embarcar pelas 13h e a partida será feita uma hora depois. “Por causa da baixa-mar, senão os mastros não passam na ponte 25 de abril”, explica um funcionário do terminal.
Normalmente, estes turistas chamam a polícia quando lhes são furtados documentos ou quando os perdem. Mas também o fazem por outras razões. A subcomissária Joana Luís lembra-se quando, pouco tempos depois de se tornar a comandante de esquadra, uma turista que sofria de Alzheimer se perdeu do marido. A mulher chegou ao navio e disse à tripulação que não podia partir sem encontrá-lo. A PSP acabou por localizá-lo. Tinha perdido a mulher de vista quando ela foi à farmácia e manteve-se no mesmo local na esperança que ela o encontrasse, mas ela foi até ao navio à sua procura. “Quando chegámos com o marido, começaram todos a bater palmas no barco”, diz.
O agente Lima também teve uma história com um final feliz, um dia, ao serviço da esquadra de Turismo nos Restauradores. Uma senhora idosa entra para fazer queixa por furto de carteira e só chora. Não pelo dinheiro que tinha no interior, mas por algumas coisas que lá trazia com valor sentimental. “Chorava muito e eu a tentar animar a senhora. Nisto, entra uma mulher na esquadra e diz que tinha encontrado uma carteira na rua. Era a carteira da senhora”, recorda. “A senhora desatou aos pulos, a chorar de alegria. E eu acabei por emocionar-me”.
Uma pequena percentagem de crimes graves como roubos e violações
Na esquadra dos Restauradores, no rés do chão do Palácio Foz, os turistas chegam a fazer fila para serem atendidos. Todos foram vítimas de crime. À entrada, existe um sistema de senhas triado por língua. Fala-se sempre inglês, mas, consoante os polícias de serviço, pode comunicar-se noutras línguas. Em 2017, foram ali apresentadas 4645 queixas por furto por carteirista, 631 por furto de oportunidade e 367 em veículo motorizado — estes três crimes representam mais de 80% das queixas. Mas na percentagem mais pequena cabem outro tipo de crimes, por vezes com violência.
Leandro (nome fictício) chega de braço ao peito e pergunta ao polícia que está à porta como pode apresentar queixa. À noite, no Cais do Sodré, envolveu-se em confrontos e acabou por ser agredido e ficar sem o telemóvel. Não sabe se o perdeu ou se o roubaram. Por vezes chegam outras histórias que o consumo de álcool, ou até de drogas, não deixa pormenorizar. Chegam ali mulheres que acordaram na casa de desconhecidos com quem travaram conhecimento na noite e que não sabem se foram ou não violadas. E há, até, casos de violência doméstica, entre casais que escolhem Lisboa para passar férias.
Em fevereiro a PJ anunciou a detenção de um homem de 19 anos que residia junto ao elevador da Glória e que ali terá violado, pelo menos, três estrangeiras. No caso eram todas estudantes de Erasmus.
Os casos mais graves acabam por cair na alçada da Polícia Judiciária. E se alguns em nada dão, outros chegam a culminar em processos complexos. Em fevereiro, a PJ anunciou a detenção de um homem de 19 anos que residia junto ao elevador da Glória e que ali terá violado, pelo menos, três estrangeiras. No caso, eram todas estudantes de Erasmus.
Ainda este mês foi detido um outro suspeito, de 27 anos, por vários roubos à mão armada. A PJ referiu em comunicado que ele assaltou, pelo menos, dois turistas na via pública — levando-lhes o dinheiro e o telemóvel. Os crimes também foram praticados na zona histórica de Lisboa. Ambos os suspeitos estão em prisão preventiva.
E nem sempre os crimes correm como o planeado. A PSP conhece casos de assaltos a asiáticos, conhecidos por normalmente andarem com muito dinheiro, porque nos seus países o custo de vida é mais elevado, que acabam em nada. Recentemente, uma chinesa apresentou queixa, mas na carteira trazia apenas 2,5 euros. Ainda assim, a polícia incentiva à participação criminal, para que os números não caiam nas cifras negras e os suspeitos passem incólumes. Noutros casos, a sorte parece estar no lado dos vítimas. Como o casal que escondeu mil euros em notas entre as folhas dos livros que traziam para ler, quando foram alvo de um furto no carro que traziam. “Conseguimos recuperar a mala, que estava completamente remexida. E, quando a devolvemos e eles começaram a folhear os livros, estava lá o dinheiro todo”, contou um dos polícias.
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