AVISO

OS COMENTÁRIOS, E AS PUBLICAÇÕES DE OUTROS
NÃO REFLETEM NECESSARIAMENTE A OPINIÃO DO ADMINISTRADOR DO "Pó do tempo"

Este blogue está aberto à participação de todos.


Não haverá censura aos textos mas carecerá
obviamente, da minha aprovação que depende
da actualidade do artigo, do tema abordado, da minha disponibilidade, e desde que não
contrarie a matriz do blogue.

Os comentários são inseridos automaticamente
com a excepção dos que o sistema considere como
SPAM, sem moderação e sem censura.

Serão excluídos os comentários que façam
a apologia do racismo, xenofobia, homofobia
ou do fascismo/nazismo.

terça-feira, 31 de outubro de 2017

TENHO UM APERTO NO CORAÇÃO DIZ O POVO E COM RAZÃO



Tenho um aperto no coração de tantos incêndios e de tantas "explicações" que re repetem há décadas e nada se solucionam a não ser arrranjar tachões para figuras retrógradas e obedientes ao poder.
Tenho um aperto no coração por ver o meu povo ser acusado de malandragem a nível interno e ser gabado a nível externo como um povo trabalhador mas que consegue "milagrosamente" viver dentro das suas fronteiras com a miséria do ordenado mínimo, com o trabalho precário, com a carestia de medicamentos, com as reformas que pouco mais lhes permitem comprar uma lata de conserva, um pão, enquanto outros usufruem de reformas douradas que atingem as dezenas de milhar de euros.
Tenho um aperto no coração ao ouvir luso descendentes quando vindos de férias a Portugal criticarem por tudo e por nada a nossa organização de vida, as nossas reivindicações e desbocados afirmarem que lá por terras de França votam na Le Pen.
Tenho um aperto no coração por constatar que o meu povo inexplicavelmente continua a votar no que na mesa do café criticam, nos que o roubam, nos que o humilham, nos que fazem da nossa gente gato sapato e quotidianamente usam a mentira e a gatunice enquanto têm os cordelinhos do poder.
Tenho um aperto no coração por ver passar nas televisões toda uma gama de vigaristas, de fala baratos educados pelo capital, de marionetas perfumadas e maquilhadas que desprezam acima de tudo o seu próprio povo, o traem, o enganam só com o fito de manter os seus luxos e devaneios.
Tenho um aperto no coração de ver a passerelle de tanta incultura, de ausência de coinsciência de classe, de respeito, de tanta falta de sensibilidade, de tanto desprezo pelo operário, o pedreiro, o pintor, o mecânico, o carpinteiro, e a automatica bajulação dos empregos liberais nos quais não se sujam as mãos com o cimento, o breu, a terra que nos dá de comer.
Tenho um aperto no coração de ouvir tanta negação ao racismo, à xenofobia, enquanto a prática do dia a dia nos mostra precisamente o contrário.
Tenho um aperto no coração desta justiça que condena quem rouba um enlatado de feijão com chouriço e perdoa e indemniza os que roubam milhões, assassinam sofisticadamente com o crime organizado destruindo a nossa vida.
Tenho um aperto no coração a quem promove as culturas fúteis, as que alienam e são supérfluas nada respeitando ou ensinando as nossas origens, as nossas tradições, a nossa língua.
Tenho um aperto no coração, um doer de peito como diz José Fanha:
Dr.
dói-me o peito
do cigarro
do bagaço
do catarro
do cansaço
dói-me o peito
do caminho
de ida e volta
do meu quarto
à oficina
sem parar
sempre a andar
sempre a dar
dói-me o peito
destes anos
tantos anos
de trabalho
e combustão
dói-me o luxo
dói-me os fatos
dói-me os filhos
dói-me o carro
de quem pode
e eu a pé
sempre a pé
dói-me a esperança
dói-me a espera
pelo aumento
pela reforma
pelo transporte
pela vida e pela morte.
Dr.
já estou farto
de não ser
mais que um braço
para alugar
foi-se a força
e o meu corpo
é como o mosto pisado
como um pássaro insultado
por não poder mais voar.
Dr.
eu não sei ler
os caminhos
por dentro
dos hospitais
mas alguém há-de aprender
entre as rugas do meu rosto
o que não vem nos jornais
e não há nada no mundo
nem discurso
nem cartaz
capaz de gritar mais alto
que as palmas das minhas mãos
que o meu sorriso sem jeito,
Dr.
Dói-me o peito…
Tenho um aperto no coração de tantas palavaras, só palavras !
Tenho um aperto no coração de tantos anos de amargura, de tanta espera, apesar de ter visto, de ter sentido, de ter lutado nas fileiras do anti fascismo, nas fileiras do Abril, do Maio libertador.
Tenho um aperto no coração por verficar que muita gente do meu povo julga ter tudo, saber tudo, só porque com o dedo indicador percorre o smartphone e ilusoriamente se convencer que nada mais tem que aprender.
Tenho um aperto no coração não querendo estar condenado a viver o resto dos meus dias neste hotel da macaca onde não se pensa, não se age e se procura ter sempre à mão o espelho para observar o próprio umbigo.
António Garrochinho

Sem comentários: