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domingo, 29 de outubro de 2017

CANTIGAS DE MALDIZER ...







 

É histórica e conhecida uma certa gabarolice portuguesa e uma verborreia que entra em nossa casa todos os dias pelos canais de televisão. Alguns que por aí andam, com a sua queda para “troca – tintas” do que agora é verdade amanhã é mentira, até conseguem trepar numa sociedade pouca dada a valores e mais interessada no mediatismo das páginas pagas a peso de ouro das revistas cor – de - rosa, onde  trafulhas de mil expedientes, metem ao bolso os seus direitos de imagem e aparecem em jantares em praias do sul, rodeados por gente de risos de plástico, que mais não são que um rancho de falidos e falidas. Nem tudo o que luz é ouro.

Mas onde vou eu parar nesta minha incontinência verbal ? Estou aflito, incapaz de desfazer este nó. De onde me vem esta estória da gabarolice enquanto vou olhando ao longe o mar profundo?

Bem, com esforço, lá me lembro. 

Vem de um texto que estive a refletir de António Lobo Antunes. Convivemos com um passado povoado de heróis anónimos. Em África, tivemos soldados e soldadesca. Soldados destemidos, capazes de fazer peito às balas, a varrer a bolanha a rajadas de metralhadora, na defesa da sua própria vida. 
Depois os outros, a soldadesca, a fugir da picadela de um mosquito e que gostavam de exibir os seus dotes de machos latinos mal resolvidos. 

Dos que na penumbra das casernas, se gabavam das suas aventuras com mulheres africanas. Quem conta um conto acrescenta-lhe um ponto, sábia constatação popular. Ao longo de vinte e oito longos meses de entrar e a sair da tabanca junto à minha base militar no mato, nunca vi nada de anormal. 
Só ouvia da boca desses taratas brejeiros, cantigas de maldizer.

Nos fins de tarde, eu visitava os meus soldados africanos e suas famílias, onde falávamos em clima fraterno das coisas da vida. 
Por vezes, deambulando por lá despreocupadamente com o meu cão, eu via por detrás das esteiras, mulheres desnudadas a tomar banho no seu asseio diário e, quando me pressentiam, escondiam o corpo num pudor natural e compreensível.

Hoje, António Lobo Antunes e a sua escrita, fez - me refletir. Falava de um tal Rei de apelido, a quem na Base chamavam “Reizinho”, que chorava de pavor de ter que integrar uma qualquer missão, fazendo-se incapaz e doente. 

Mas já no quartel, usava as suas artes manhosas para vender mercadoria barata que trouxera do continente, na esperança de ganhar mais uns cobres. Um farsante. 
Talvez mais um a engrossar as fileiras 
da soldadesca, a cair de costas aterrada ao bafo metálico de um canhão.

Porém, há que repor a verdade dos factos. 

De sacudir de uma vez por todas essa inverdade histórica, de que a África dos tempos de guerra, era um gigantesco bordel da soldadesca portuguesa. O anátema de que a mulher africana não tinha a sua dignidade própria. 
Sempre a teve. 
Eram mulheres com outras formas de estar no feminino, nas suas tradições, no seu trajar, na sua religião. Iguais à mulher europeia ou de outros continentes e costumes. 
Se ficaram filhos em África de soldadesca que se cruzou com africanas? 
Sim, sabemos que ficaram. 
Mas são casos pontuais, em que a generalização ofende. 
Elas, no seu papel de mães solteiras, assumiram criar os filhos que geraram no seu ventre. 
Eles, alguns deles, com a gabarolice dos covardes, partiram sem deixar rasto nem responsabilidades.

Por isso, mas noutra escala, olhando o circo mediático que foram as eleições autárquicas, com alguns atores manhosos e pouco recomendáveis com roupagens de candidatos, faz - me lembrar a soldadesca nos embustes e no ardil com que enganavam as vitimas, nestes casos os incautos eleitores. 

A gabarolice foi ontem como é hoje, uma instituição nacional. Tenhamos paciência. São os custos que temos de suportar dos oportunistas da democracia.


encontrogeracoesbnm.blogspot.pt

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