O Governo gere a situação do país de forma incendiária, num tempo de grande imprevisibilidade. E se for preciso novo resgate, a Europa pode nem o aceitar. Poiares Maduro sobre a Europa e Portugal.
O Governo de António Costa "continua numa lógica de acender cigarros num contexto altamente inflamável", critica Miguel Poiares Maduro, ex-ministro no Governo de Passos Coelho. "Acho extraordinário tanta reação negativa ao ministro Schauble (que não devia ter dito o que disse), quando mais grave é a proposta de um referendo sobre a nossa permanência na UE. Faz muito mais dano à confiança em Portugal do que as declarações do sr Schauble", diz o atual professor em Florença, na Entrevista TSF desta semana.
Poiares Maduro anota, de resto, a sua grande desconfiança face a referendos sobre temas como a Europa: "É uma falsa escolha. A nossa permanência na UE não é uma questão de branco e negro. É para questões muito complexas que temos democracias representativas. Neste momento suscitar a questão é mais um passo gravíssimo de fazer o país perder confiança externa. Que é ainda mais necessária em momentos de imprevisibilidade", diz, criticando diretamente a proposta do Bloco - "um partido da coligação" que lidera o país.
Acreditando que, ao contrário do que sugeriu o ministro alemão, Portugal não precisará de um segundo resgate, o ex-ministro deixa - mesmo assim - um alerta: "Espero que não seja preciso um segundo resgate, até porque temo que se precisarmos as condições na Europa não o permita" - tendo em conta a pouca predisposição noutros países para o aprovarem. Mas Poiares Maduro diz também ter "poucas dúvidas de que Portugal vai ter uma crise económica ou política antes do final do ano. Muito por culpa das políticas do Governo", explica, desconfiado de que "António Costa tentará provocar primeiro a crise política, sem que seja visível a crise e ainda poder beneficiar das medidas que tomou".
A Europa precisa de uma mudança (mas ela é pouco provável)
O Brexit expôs as fragilidades da Europa de hoje. "A UE legitimou-se sempre pelos resultados que tinha. Era garantia de paz, de democracia, de progressivo crescimento económico e convergência. A crise colocou em causa isto. E quando começou a falhar nesses resultados, começou a ser posta em causa". Agora, cabe aos líderes europeus "encontrar uma nova justificação para a sua existência". Desde logo de responder à globalização. Mas também de organizar um espaço político "que consiga reconciliar os diferentes problemas dos diferentes países" - um desafio tão mais difícil quando "os anseios dos países europeus são muito diferentes."
Tudo isto exige compromissos dos países da UE. E Poiares Maduro dá dois exemplos: "Temos de aceitar que vai haver disciplina orçamental. Mas depois temos de dizer que ela não basta - porque cria uma tensão muito grande [dentro dos países sob ajustamento] e é muito injusto, porque concentra os esforços de ajustamento de forma muito localizada na periferia. Temos de pedir - não uma mutualização das dívidas. Mas um orçamento europeu um fundo de desemprego e para gerar mais capacidade de crescimento da Europa", sugere o ex-ministro.
A perspetiva, porém, "é muito difícil. Temo que, infelizmente, se continue a encontrar respostas minimalistas e ir gerindo as crises". Nesse caso, avisa, "não vamos ter uma implosão" da UE, mas claramente "uma erosão" do projeto europeu.
Ouça aqui a entrevista Poiares Maduro na íntegra
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Poiares Maduro: "Mais grave que Schauble foi a proposta de referendo do Bloco"
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