Esta gente que nos (des) governa andou de falas mansas entricheirando-se nas famosas reformas estruturais, um eufemismo que todo o mundo sabe o que significa e finge não saber, lendo-o à medida das suas conveniências. Necessárias e urgentes por causa da crise, a nacional agravada pela internacional, bradava-se em todos os sítios e mais alguns. Políticos, dos partidos do chamado arco do governativo,  comentadores enfeudados a esses partidos, mesmo os que fazem questão de proclamar a sua ( falsa ) independência. A grita era continuada e muita, para nos convencerem da sua necessidade e urgência. Um gato escondido com o rabo de fora.
Essa gente, na esteira da canalha da estirpe de um Reagan e uma Thatcher, os santos do altar do capital financeiro onde sacrificam os trabalhadores, activos e reformados, o que quer é reduzir os salários até o mínimo de subsistência ficar garantido. Sempre é necessário  manter um sopro de alento vital à massa trabalhadora e um residual poder de compra.
Agora  Passos Coelho atira para o ar uma novidade semântica: a refundação. Aproveita para continuar as malfeitorias, o OE 2013 é uma atrocidade, é a sida que vai contaminar o país, enquanto distrai as hostes que tentam decifrar o que ele quer dizer com refundação. Mais outro gato escondido, este o rabo e meio corpo de fora. O que se trata na verdade é de acabar com o Estado Social. No sábado passado, Pedro Passos Coelho garantiu que, até 2014, vai realizar uma reforma do Estado que constituirá “uma refundação do memorando de entendimento”. Antes, nas jornadas parlamentares conjuntas do PSD e do CDS-PP, tinha afirmado que essa reforma do Estado constituirá“não uma renegociação”, mas sim “uma refundação do memorando de entendimento” e “deve comprometer todos aqueles que assinaram ou negociaram o memorando de entendimento”, como é o caso do PS, essa oposição intermitente que pisca à esquerda virando à direita, com ademanes de virgem ofendida sempre que se lhe descobre a careca.
Acrescentou “isso deve ser assim porque o novo patamar” que se pretende atingir, “quer na despesa pública, quer na forma como o Estado se apresenta perante os cidadãos não deve estar circunscrito à conjuntura de qualquer Governo, embora esteja evidentemente ligado ao momento crítico que todo o país nesta altura vive, e com este Governo e com esta maioria”.
De acordo com Passos Coelho, esta “nova fase” de redução da despesa através da reorganização das estruturas e funções do Estado vai ser “uma transformação para melhor e não uma compressão ou redução daquilo que existia até agora”feita “em nome do interesse comum de todos os portugueses”.
Quem faz estas afirmações só pode ser um farsante de alto gabarito. Sabe bem que está a lixar os portugueses e quando disse isto já os estava a tramar pelas costas, conluiado com a guarda avançada da troika, com os técnicos do FMI com quem preopara cortes brutais nas funções sociais do Estado. Isso é feito não para beneficiar mas para lixar o “interesse comum de todos os portugueses”.  A troika que ele tanto bajula  “ajuda-nos” emprestando dinheiro a uma taxa média de 5,20% ( o BCE empresta milhões à banca privada a taxas de 1% ou menos!!!), destrói a nossa economia e impõe sacrifícios bárbaros! São esses os seus amigos. Esses mais os traidores de Portugal, detentores e/ou vendidos ao grande capital financeiro.
A palhaçada vai mais longe. Passos Coelho, sem se referir a nenhuma área ou função em concreto, defende que “o Estado só deve fazer aquilo que faz bem, e deve fazer muito melhor aquilo que não pode deixar de fazer”.
Para esse biltre de alto coturno o que o Estado sabe fazer muito melhor é reduzir os salários e os direitos dos trabalhadores, é esvaziar a contratação colectiva, é aumentar o exército de reserva da mão-de-obra para criar condições mais favoráveis às políticas de empobrecimento dos trabalhadores, é transferir milhões do erário público para o sector financeiro.
Numa coisa ele tem razão. É necessário refundar Portugal. Correr com essa gentalha de uma vez por todas porque, como diz  lucidamente Samir Amin,  a questão não é “sair da crise capitalista, mas sim sair do capitalismo em crise”.Esse é o núcleo duro, a pedra de toque de uma unidade de esquerda.  

Praça do Bocage