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terça-feira, 13 de novembro de 2012


Língua portuguesa pode perder-se na era digital

“São necessárias medidas imediatas para assegurar a sua posição internacional de comunicação”, alerta António Branco

2012-11-09
Por Susana Lage

António Branco foi um dos investigadores portugueses envolvido no estudo
António Branco foi um dos investigadores portugueses envolvido no estudo
Muitas línguas europeias enfrentam um futuro incerto em termos da sua sobrevivência na Sociedade da Informação, adverte um recente estudo realizado por investigadores europeus em tecnologia da linguagem.

A investigação, elaborada por mais de 200 especialistas e documentada numa colecção de Livros Brancos, avaliou o nível de desenvolvimento da tecnologia da linguagem para 30 das cerca de 80 línguas europeias existentes e concluiu que em 21 delas este é, na melhor das hipóteses, ‘nulo’ ou ‘fraco’. 

No caso da língua portuguesa, apesar de ser a quinta mais falada no mundo, com cerca de 220 milhões de falantes em quatro continentes, o que o Livro Branco indica é que, “dependendo das diferentes vertentes em análise, o desenvolvimento da tecnologia da linguagem para a língua portuguesa apresenta um nível muito baixo, ou mesmo nulo, na generalidade dessas vertentes”, afirma António Branco ao Ciência Hoje.

Segundo o investigador da Universidade de Lisboa envolvido neste estudo, isto revela que “em termos de tecnologia da linguagem e de preparação para a era digital, a língua portuguesa se encontra próximo de outras línguas faladas por comunidades bem mais minoritárias e exposta a riscos similares quanto à sua sobrevivência na era digital”.

Tecnologia da linguagem
As revoluções tecnológicas que no passado envolveram a linguagem natural (o advento da escrita, a imprensa mecânica, etc.), levaram a que muitas línguas perdessem a sua relevância e algumas acabassem por se extinguir à medida que os seus falantes deixavam de poder beneficiar desses avanços tecnológicos. “Para uma língua prosperar na era digital que se avizinha, é necessário que esteja devidamente equipada do ponto de vista tecnológico de forma a poder ser usada para se aceder a todas as pessoas, serviços e bens que irão ficando disponíveis apenas na e através da sociedade da informação”, afirma António Branco.
De acordo com o investigador português, “a tecnologia da linguagem é o novo factor disruptivo que está a desencadear uma nova revolução tecnológica, sem precedentes, para a linguagem natural. Apenas a tecnologia da linguagem desenvolvida e adaptada especificamente para a uma dada língua permitirá que esta sobreviva na era digital e que os seus falantes e a sua cultura tenham assegurada uma cidadania plena na sociedade da informação”.
Em face destes resultados, no Livro Branco para o português é assinalado que “são necessárias medidas imediatas para que se possam obter progressos importantes para o português assegurar a sua posição como língua internacional de comunicação”, refere. "Uma dessas medidas é a adesão de Portugal à recém criada Infraestrutura Europeia de Investigação CLARIN, dedicada à ciência e à tecnologia das linguagens naturais”, ilustra.

O Livro Branco para a língua portuguesa vai ser lançado no próximo dia 16, na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa. Trata-se de uma obra dirigida a um público o mais vasto possível, não especializado nestas matérias, incluindo comunidades linguísticas, jornalistas, políticos ou docentes, entre muitos outros.

“As consequências desejáveis são as de que as suas conclusões ajudem a desenhar as melhores políticas da língua para o português e as melhores políticas de apoio à ciência e tecnologia da linguagem aplicada ao português, em vista do superior interesse da língua portuguesa”, diz António Branco.

Uma vez identificadas as principais lacunas na investigação sobre a tecnologia da linguagem aplicada ao português, os próximos passos na investigação serão assim o “desenvolvimento de recursos linguísticos e ferramentas de processamento específicos, por toda a comunidade que trabalha sobre a língua portuguesa, que possibilitem caminhar no sentido de eliminar estas lacunas, desde que este trabalho seja apoiado por políticas de desenvolvimento científico e tecnológico adequadamente planeadas”, avança o professor.

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