CDS – Partido Corcunda
08SET
Depois de Passos Coelho ter anunciado ao país que é para manter e extremar a sua deriva ideológica de poupar os ricos e pôr a pagar os pobres – trabalhadores, reformados e pensionistas -, ocorreu-me mesmo que o governo poderia cair naquela noite. Bastava para isso que, na sequência disto e disto, Paulo Portas e toda a trupe ministerial do CDS decidissem anunciar a sua demissão. Era aquilo que qualquer político convicto, vertical e sério faria ante uma basilar e estratégica dissonância de opções governativas, sobretudo numa matéria tão sensível e tão fundamental como a do agravamento de impostos sobre os mais fracos e sacrificados, sobre quem trabalha e sobre os idosos que vivem com pensões de miséria. Ao que parece, a anunciada subida de impostos, para o CDS, «não é uma subida de impostos». E nem sequer o justificam. Sem ponta de nexo, sem ponta de vergonha, o CDS faz valer-se hipocritamente do texto da Constituição da República Portuguesa, documento este que, aliás, como é sabido, aquele partido e particularmente Paulo Portas sonham rasgar há muitos anos. Bem dizia Jerónimo de Sousa há dias, que o CDS, que dava ares de torcer o nariz ao parceiro de governo, mais tarde ou mais cedo «iria ao sítio». E foi, claro está. Ao «sítio» de partido corcunda. À postura submissa e hipócrita de quem governa por mero oportunismo. À forma de partido sem voz própria nem pulso, sem rosto nem identidade. Um partido-bengala que tudo faz – até vende a alma se necessário for – para manter lugares na governação. Um partido de espinha quebrada, cegamente servil ao PSD, à troika, aos interesses e ao grande capital.
Que os portugueses não esqueçam. Que todos os trabalhadores, reformados, pensionistas percebam que há um claro «nós» e «eles». Que se consciencializem que estas políticas são criminosos actos de guerra dos senhores do dinheiro contra quem nada tem e apenas vive do seu trabalho. Que todos aprendam, de uma vez por todas, que a História é feita de dominadores e dominados, e que os actuais governantes não passam de serventuários e, nalguns casos, são eles próprios parte de quem domina. Que não esperem sequer pela hora do voto, quando o governo também não espera na hora de quebrar promessas e compromissos estabelecidos em campanha eleitoral. Que o povo aja ruidosamente nas ruas. Que os trabalhadores que não o são se sindicalizem nas organizações que não subscrevem nem dão guarida à austeridade. Que os desempregados sejam parte activa junto das organizações sociais e políticas que se opõem de forma clara e coerente ao pacto de agressão em curso. Que todos participem nas manifestações e em todas as formas legítimas de protesto organizadas. Que mostrem de forma evidente, na prática, dentro dos preceitos constitucionais da livre expressão, do direito à indignação, à opinião e ao protesto, o seu descontentamento, onde quer que o governo vá, onde quer que algum membro de governo apareça. Eles têm de saber que o povo não aprova esta conduta. Eles têm que ser derrotados nas suas intenções. Não basta dizer que «atingimos o limite». É preciso com urgência «impor o limite». E ontem… já era tarde.
Ad Argumentandum
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