Muda-te tu, ó Camilo
O indivíduo que suponho ser jornalista e que dá pelo nome de Camilo Lourenço acaba de descobrir, após a reunião do Conselho de Estado, que o mal está em que "o país não quer mudar". E o pior é que, segundo ele, o "mal" tanto afecta a Esquerda como a Direita.
Estivesse certo o diagnóstico de Camilo e o caso era grave, pois o mal, afectando a Direita e Esquerda, não tinha mesmo remédio. Felizmente, acontece que o diagnóstico de Camilo, para além de apressado, é errado.
A prova de que o país quer mudar está nas recentes manifestações populares demonstrativas de que o povo quer sair do sufoco criado pelas medidas tomadas pelo governo de que ele é, sem dúvida, um dos últimos e um dos mais acérrimos e mais acríticos defensores, medidas que se revelaram claramente contraproducentes, razão por que o país se recusa a aceitar mais do mesmo, uma vez que as medidas anunciadas vão no mesmo sentido e, ainda por cima, vêm acompanhadas de agravantes.
Há, no entanto, que reconhecer que o país não quer mudar para o modelo perfilhado por Camilo e por este governo que é o de, através da baixa de salários e do corte, a torto e a direito, dos direitos dos trabalhadores, transformar Portugal na China do Ocidente.
De forma que, Camilo, se não estás de acordo com a opção da maioria da população, tens bom remédio: muda-te tu para a China e aproveita para levar contigo toda a pandilha que segue a tua cartilha. (Digo pandilha só para rimar).
Ah! e antes que me esqueça: leva também o Crespo e larga-o em Washington. Fazes-lhe um favor a ele, que está mortinho por viver lá, e outro a muitos de nós, ou, pelo menos, a mim que já tenho, há muito, o enorme desejo de o ver pelas costas.
Segue o meu conselho e se, daqui por uns tempos, deres uma volta por cá, verás que até o ar se tornou muito mais respirável.
Terra dos espantos
O TEXTO DO CAMILO AQUI ABAIXO
A divisão no Conselho de Estado é o espelho da sociedade portuguesa: o país não quer mudar.
Esqueçam a questão da TSU. O problema de Portugal é outro. As informações passadas por quem esteve na reunião do Conselho de Estado mostram que os presentes partiram-se entre apoiantes das medidas do Governo e os que não concordam com elas (ver "Público" de ontem) independentemente do posicionamento ideológico. Ou seja, a fractura teve pouco a ver com a tradicional divisão entre Esquerda e Direita. O que reforça uma ideia: as mudanças que temos de fazer não agradam a ninguém. Nem à Direita (veja-se a inacreditável entrevista de Freitas do Amaral à SIC, na semana passada e as declarações de Bagão Félix nas últimas semanas) nem à Esquerda (cujo rol, de tão extenso, me dispenso de referir aqui). Porquê? À partida poder-se-ia pensar que a Esquerda estaria mais inclinada a defender aquilo que criou nos últimos 38 anos (com a ajuda de alguns governos de Direita): uma presença sufocante do Estado na sociedade, traduzida na absorção de 50% da riqueza que o país cria. Mas não é isso que se passa: a mudança assusta tanto a Direita como a Esquerda.
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