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sexta-feira, 20 de abril de 2012



No sentido de Faro

 



fotografias de Faro, sem legendas.
( clique nas fotografias para aumentar )
NO SENTIDO DE FARO.
Quem vinha de fora, anos cinquenta, ao entrar em Faro, deparava-se com o Posto da Polícia de Viação e Trânsito, onde os polícias de serviço eram apodados de "canairinhos" por estarem vestidos de farda amarela. Eram três, o Monteiro, o Marinhas e outro do Norte que já não me lembro o nome. Quando entravam na cidade, os camponeses, que eram transportados em carros de mula com os produtos hortícolas para vender na "praça", eram vistoriados pelos polícias de serviço, que, em princípio, não os multavam mas sempre iam ficando com umas couves e umas batatas à borla, pois estes polícias eram mesmo autoridades a sério e metiam medo ao pessoal. Uma palavra deles era para cumprir.Eram arrogantes e autoritários e era assim que faziam cumprir a lei.Vindo de fora e voltando à esquerda em direcção ao Refúgio, nas primeiras casas em frente ao Posto da Polícia, ficava aí uma estalagem, onde se albergavam as mulas que transportavam os carros que traziam as hortaliças. Era a estalagem do ferrador, um companheiro lá dos meus sítios, genro dos Rosas. Ali se ferravam os animais, um trabalho que exigia muita perícia e consistia em retirar dos cascos as ferraduras já puídas e meter outras novas., fixadas a cravos e martelo. Também aqui se procedia à tosquia dos animais, trabalho esse que era feito com uma tesoura normal ou adaptada aquele serviço. Alguns animais estrebuchavam e o ferrador, para acalmar os bichos, colocava-lhes na boca o azial que talvez lhe provocasse algumas dores mas mantinha-os calados. A seguir à estrebaria, havia um estabelecimento que vendia empretas, umas tiras da largura de quatro dedos da mão feitas de palma. Era daqui que se faziam as gorpelhas, utensílios que se usavam no campo para o carregamento das massarocas de milho e outros. Fazia-se primeiramente as tamissas, que eram uma espécie de atilhos que, uma vez enfiadas no fundo da agulha, serviam para coser as empretas donde resultavam as gorpelhas e as alcofas. Penso que tudo isto acabou, resta a saudade. Nesse tempo, Faro ainda era uma cidade onde o homem do leite o ia levar de manhã às portas e, como dizia a Maria Vilhena, as pessoas, mesmo com poucos recursos eram felizes, como era o caso do Caça Brava, que vendia perdizes às quatro da tarde na Rua de Santo António e zangava-se com a rapaziada quando se lhe dizia qualquer coisa. Falando de figuras típicas que marcaram essa época, havia ainda o Armando Pató, o inventor das cataplanas, que jogava à bola em Santa Bárbara de Nexe, camisa oito, cuja equipa formava assim: Zé Ladeira,Virgílio, João Pinto, Joaquim Cristina e Tarrina. Francisco Coimbra. David, Adolfo e Américo Bolias. Pató e Raul. Foi mais ou menos por esse tempo, anos cinquenta e tais, que chegou para o Farense o argentino Catoira para jogar a ponta de lança. Do senhor Cuco não me lembro nada, mas lembro-me perfeitamente bem do Senhor Serafim daTipografia, cujo estabelecimento ficava mais ou menos em frente da loja do senhor Rodrigues, a loja mais "fina" desse tempo que havia em Faro.Num dos comentários ao texto da Maria Vilhena, falava-se de uma figura que Faro não pode esquecer; o Padre José Gomes, que era pároco em S.Pedro. O Padre, tinha muito jeito para as missas, para as catequeses e sobretudo para os casamentos fora de portas, onde era muito querido e amigo do povo, pois contava aquelas anedotas picantes e o pessoal gostava daquilo. O Padre era padrinho do crisma da quase totalidade da cidade, meu inclusivé, e, dispunha de um automóvel preto que fazia transportar a gente para os locais da catequese. Era muito popular na cidade e morreu num acidente de viação quando, ao que parece, se deslocava para um casamento, ali para a zona do Bate Cu, onde lá está a cruz a indicar o acontecimento. Curioso recordar os casamentos desse tempo, também com muitos automóveis a apitar, e com, vejam bem, os convidados que iam dentro dos carros a atirar cigarros três vintes ou outra marca para o chão,que as pessoas apanhavam e fumavam ou não. Nunca mais vi disto. Nesses casamentos o Padre Gomes estava ali uma hora ou duas, contava as anedotas, comia e bebia e depois batia a asa e a festa ficava na mão do Mendonça, pai dum rapaz que trabalhou na sapataria Constantino em Faro. Os convidados, atiravam vivas aos noivos ou a outros, mais ou menos em jeito de cantoria e diziam assim: Eu vou tirar uma viva/ A esta bonita mesa/ Viva a brilhante Sociedade/ E também a D. Teresa.(isto por exemplo). O senhor Mendonça, esse, quando iam para o local do copo de água, vestia logo um avental, tomava conta da festa, pegava num jornal ao contrário e lia o que lá estava e o que não estava.Uma vez leu esta quadra assim: SOBE O CAFÉ SOBE A AGUARDENTE/ SOBE O VINHO QUE NOS DERRUBA/ SOBE TUDO E CÁ PARA A GENTE/ SÓ BAIXA O QUE EU QUERO QUE SUBA.

João Brito Sousa

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