31.Março.2011
Quem perde
Pedro Passos Coelho, actual líder do PSD, transborda ambição e exsuda pressa, basta vê-lo e ouvi-lo.
A ambição refulge na pose de barítono em proscénio de aplausos, carreira que já confessou tê-lo fascinado «em jovem» e de que parece guardar o figurino para compor «figuras de Estado» – nomeadamente a que julga ir em breve bater-lhe à porta, como chanceler da confraria.
A pressa goteja-se-lhe no brilho de algumas exposições aos holofotes, denunciando-lhe um suor ansioso, porém discreto. Afinal de contas, o homem já tem algum traquejo nestas andanças pela ribalta, nomeadamente ao liderar a JDS e nela exibir uma juventude pessoal com duração de décadas, coisa só vista no coelho da Duracel.
E a ambição e a pressa põem-no a falar, o que acaba geralmente a estragar-lhe o retrato. Desta vez, como já se julga quase primeiro-ministro, o estrago também quase foi desastroso.
Primeiro, lançou a bronca do IVA, que se propôs «aumentar de imediato» mal se instale em S. Bento, o que lançou a sua entourage em palpos de aranha para fingir que o homem não quis dizer o que disse.
É que dizer que se defende as pensões de miséria dos reformados e, ao mesmo tempo, propor-se assaltá-las com novos aumentos do IVA não fazia lá muito sentido, nem mesmo nos alcatifados da Lapa.
Depois, foi a Caixa Geral de Depósitos que o novel estadista já esquartejava por «pequenos aforradores», a par da privatização da TAP e da RTP, o que também levou a entourage a mais contorcionismos para lhe civilizar a sanha privatizadora – de resto, toda ela já pautada nas entrelinhas do PEC elaborado pelo PS, mas sem o inábil espavento com que Coelho as debitou.
Portanto, Passos Coelho é capaz de começar a ganhar mais votos se começar a falar menos.
Na outra face desta má moeda está José Sócrates, um veterano nestas andanças. Se, há seis anos, era um extasiado provinciano tremeleando perante a taluda da maioria absoluta que o escalracho do consulado santanista lhe atirara ao colo, hoje é um artista da ribalta, um veterano dos holofotes e um apurado especialista na arte do faz-de-conta.
Assim sendo, conseguiu levar o seu Governo à demissão – e a ele próprio a demitir-se – lançando a ideia, em plena Assembleia da República, de que a culpa e as responsabilidades cabiam a Passos Coelho e ao PSD.
Obviamente, ambos querem eleições, ambos julgam que os responsáveis pela queda do Governo serão os mais penalizados nas urnas e, por isso, também ambos tentam freneticamente imputar ao outro a responsabilidade desta «crise».
Ambos, pois claro, jurando que apenas o «interesse nacional» os move, julgando assim, provavelmente, que ninguém vê o que salta à vista: que é apenas e só o interesse pessoal o que, na verdade, os move.
Foi por isso que Passos Coelho quis precipitar eleições – por achar que a vitória estava à vista.
Foi por isso que José Sócrates quis precipitar eleições – por achar que, no imediato, a derrota seria menos provável.
Mas o que está também à vista é que, com um, com o outro, ou mesmo com ambos de cambulhada e arranjinho, quem perde sempre é o povo e o País. E seriamente.
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