«A dívida externa da economia portuguesa é muito recente. No início dos anos noventa, a economia, no seu conjunto, praticamente não tinha endividamento externo. (...) O endividamento da economia portuguesa face ao exterior é, na verdade, um produto da União Económica e Monetária. (...) Mesmo do ponto de vista mundial, é esta ideia em que o mecanismo do crédito e do endividamento (...) substitui outros mecanismos muito mais sólidos e muito mais saudáveis, como por exemplo o chamado nexo salário-procura, ou o nexo investimento-crescimento, que caracterizaram as economias desde o pós-guerra. É este quadro de intenso domínio da economia pela finança e pela banca, de intensa circulação de capitais, que precisa de protagonistas - de quem use estes capitais, de quem se endivide (sejam as famílias, sejam as empresas, seja o Estado).»
Excerto de uma edição, já com uns meses, do programa «O princípio da incerteza», que teve como ponto de partida o mais recente livro de José Reis («A Economia Portuguesa: Formas de economia política numa periferia persistente (1960-2017)») e que suscitou um interessante debate com Viriato Soromenho Marques, Helena Matos e Daniel Deusado. De facto, quando uma boa parte da discussão sobre o país continua a resistir a ir para lá da espuma dos dias, vale a pena recuperar as questões de fundo, os seus contextos e as escolhas que as enformam, no tempo longo que estrutura as economias.
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