Quando a terra rugiu em Lisboa, Voltaire escreveu que “chegara o último dia do mundo”
Nas igrejas cheias, porque era dia de Finados, foi onde houve maior número de mortos. Não tardou que hordas de padres rondassem as ruínas e à dor juntassem o medo, dizendo que o desastre tinha sido castigo divino, exigindo penitências. O padre Malagrida opunha-se mesmo à reconstrução de Lisboa que “Deus destruira devido à brandura para com os hereges”. Havia mesmo quem acusasse os que se tentavam recompor de “lutar contra o Céu”. Um cidadão britânico, a viver na cidade, espanta-se por os trabalhos de socorro estarem a ser dificultados pelas ladainhas de tanta gente a atormentar os moribundos com carpidas rezas e gritos de misericórdia.
O futuro seria propício para a Igreja, que terá os seus edifícios como os primeiros a ser re-erguidos. A restante cidade, hoje a “baixa pombalina” que nasceu do traço de Manuel da Maia e de Eugénio dos Santos, demoraria mais de 50 anos para ser reconstruída. O “marquês de Pombal” que ficou na fotografia como “o grande empreendedor”, andava à época entretido com outros assuntos mais urgentes – a queimar livros, entre eles o “Dicionário de Filosofia” e os “Poemas sobre o Terramoto” de Voltaire, que inquiria:
"Estais vós seguros de que a eterna causa que tutela,
Que tudo faz, que tudo sabe, que tudo criou por ela,
Não poderia atirar-nos para este triste revés
Sem formar vulcões acesos por baixo de nossos pés"?
Ontem, como hoje, a beatice lusitana e os resquicios da Inquisição continuam a ser as causas dos castigos dos nossos males.
xatoo.blogspot.pt
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