(Joaquim Vassalo Abreu, 22/03/2017)
Ou o “Terrorismo”, vai dar ao mesmo. O que é, afinal, o “terrorista” ou o” terrorismo”? Em tese, e simplificadamente, será o ou quem provoca terror. Tão simples quanto isso.
Lembrei-me disto a propósito dos acontecimentos de hoje em Londres e estou ao escrever ao correr do pensamento.
Um indivíduo, desvairado, porque assim o desejou, porque lhe falharam os travões, porque queria chegar mais depressa a casa ou porque achava que se divertia abalroando peões, irrompeu sobre tudo o que aparecia na sua frente e parece que matou quatro pessoas. Coisa pouca, digo eu, para tanta hora de televisão e debates, sempre com os mesmos especialistas que dizem, recorrentemente, sempre a mesma coisa.
Quem é que de nós já não viu filmes vários, a que achamos sempre muita piada, em que o protagonista, o herói, em contra mão, abalroa tudo o que na frente lhe aparece, desvia, curva, faz pião e tudo e depois chega ao seu destino e é recebido em ombros? E dos abalroados? E dos que foram ribanceira abaixo? E dos desgraçados todos que morreram, o filme fala? É, ui…tantos e tantos…e achamos piada e porquê? Porque aquilo não é realidade!
Pois não, a realidade é coisa curta e próxima. Tudo o resto é longínquo e não interessa.
Na América, um puto, ou não mais puto, que tem acesso livre a uma arma, pega numa caçadeira, irrompe por uma Escola a dentro, dispara e mata a torto e a direito. Que era traumatizado, vítima de “bullying”, teve infância difícil e não sei que mais, todos logo dizem. Os especialistas, os psiquiatras, os pedopsiquiatras e outros “atras”, mas…”terrorista”? Não, isso não! “terroristas” são os outros!
Poderia dar mais exemplos, das “Máfias” aos “Carteis” etc. mas, o que concluo é que o apelidar de “terrorismo” ou o “terrorista” depende sempre do lado de onde se vê e do qual se está.
Eu era pequenito ainda (8 anos) quando comecei a ouvir falar da guerra em África. Ouvia falar vagamente da guerra da Argélia mas, na altura, tratava-se de uma guerra que era nossa. Tratava-se de defender a nossa Pátria e Grei e diziam…” Angola é nossa e gritarei, é carne é sangue da nossa grei..”, ou coisa parecida, ouvia eu na TV da época. E os nossos iam combater os “Turras”, lembram-se? Diminutivo de “terroristas” era escusado dizer…
Mas os “Turras” combatiam quem e porquê, comecei-me a perguntar…
Entretanto veio a guerra do Vietnam, e quem eram os “Turras”? Os Vietcongs, os do Norte, os de Hanói, dirigidos por Ho Chi Min! Os do Sul, os de Saigão, apoiados pelos Americanos eram, para a nossa imprensa da época, os bons. Mas, como tive a sorte, como já aqui disse, de ter ido para um Seminário de Missionários cujos professores tinham corrido mundo, desde a África à América do Sul e da Ásia à Oceânia, sempre ao lado dos mais desfavorecidos, cedo aprendi que não era bem assim…
Aprendi que os invasores eram os Americanos! Abri os olhos e comecei a ter acesso a verdades e factos que a maioria não tinha. Por estar num Seminário, vejam lá…esse “ferrete” de que falava um Amigo no Facebook, mesmo depois de eu lhe explicar… E comecei a ter visão do que viria a ser mais tarde a “Teologia da Libertação”!
Mas o que é o “Terrorismo”, pergunto eu novamente? Será que, no final, há um bom e há um mau? Quando um Povo se revolta contra um invasor ele é que é o “Turra”, mas quando, dentro do próprio país, se mata a torto e a direito, será o quê? De modo que me surge a sacramental pergunta: Mas o que vale a Vida Humana, afinal?
E, mais uma vez concluo, que está mais que visto que a vida de um Americano vale muito para os Americanos, a de um Europeu vale muito para os Europeus, mas que as dos que atravessam o Mediterrâneo, dos Sírios, dos Afegãos, dos Iraquianos, dos Sudaneses, dos Paquistaneses, dos Indonésios, dos Egípcios e mesmo as dos do sul da América ou do sul da Europa, para Americanos e Europeus, ambos do Norte, pouco valem…ou não valem nada!
Um Homem é um Homem, uma Mulher é uma Mulher, uma Criança uma Criança, um Ser Humano um Ser Humano! Todos iguais! Diferentes na pele, na língua, na religião, nos costumes, no artesanato, na cultura, no folclore (como bem dizia Galeano), nos hábitos, nas tradições, mas no respeito pelos mais velhos, como os Índios, ou pelas hierarquias, como nas Tribos! Todos fazendo parte de um mundo multirracial e multicultural, mas habitado por SERES HUMANOS!
Mas todos com virtudes e defeitos e vicissitudes várias ao longo da História. Podem os Cristãos atirar a pedra quando fizeram as Cruzadas, promoveram a Inquisição e mais recentemente se envolveram na Pedofilia? Podem os Muçulmanos falar de cátedra quando exterminaram gente sem fim, em nome de impérios e incendiaram Alexandria?
Podem os Espanhóis algo dizer quando, para conquistar a América do Sul, exterminaram povos inteiros e que o digam os Cortez e Pizarros desta vida? E os Americanos? Sim, os Americanos, os arautos das Liberdades, que durante décadas e décadas tomaram de assalto todas as economias das Américas do Sul e fizeram assim como que um “Tratado de Tordesilhas” com os Russos para dividir a África? E o mundo? Eles, os polícias do mundo, que instalaram os seus porta-aviões, contratorpedeiros, submarinos e fragatas sem fim por todos os mares? Como falar de “Terrorismo” quando, em nome não se sabe ainda de quê, mas adivinha-se, invadiram por duas vezes o Iraque e deixaram um rasto de mais de 600 mil mortos? “Terrorismo”?
Mas quem foram e são os “Terroristas”, afinal, ou os responsáveis pela sua existência?
Não serão aqueles que promovem a pobreza, que promovem as guerras, a exclusão e que impõem tiranias e “tiranetes”?
A História repete-se, já dizia o nosso Pai quando, ainda pequenos, nos falava da Segunda Guerra Mundial… Onde estão os bons? Onde estão os maus?
E, já agora, qual é o Deus que a tudo isto preside?
(Nota: Escrevi de “chofre”, mas com o coração…com razão ou não…).
estatuadesal.com
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