Não sei quantas vezes já repeti isso, mas não me cansarei de fazer: - "Ser mulher ao longo da história foi uma profissão de risco.". Esta é a história de Milunka Savic, uma mulher que nasceu no povoado de Koprivnica, na Sérvia, hoje território croata, em 1889. Ela lutou nas guerras dos Bálcãs e na Primeira Guerra Mundial. Ferida em nove ocasiões, Milunka foi a mulher mais condecorada na história das guerras, e, não obstante, terminou a vida como senhora da limpeza em um banco.
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A juventude de Milunka é uma incógnita, ninguém sabe nada. Ela só apareceu em 1913, com 24 anos, quando seu irmão caçula foi chamado para se juntar as filas para lutar contra a Bulgária na Segunda Guerra dos Bálcãs. Como era seu irmão menor, ela não ia permitir que nada lhe ocorresse e decidiu ocupar seu lugar.
A jovem cortou o cabelo, vestiu-se com roupas de homens e apresentou-se com o nome de seu irmão. Poucas semanas depois de seu alistamento, e sem nem tempo para pensar na encrenca onde tinha se metido, entrou em combate contra os búlgaros na Batalha de Bregalnica (atual Macedônia) onde recebeu sua primeira medalha por bravura e sua primeira ferida de guerra.
A jovem cortou o cabelo, vestiu-se com roupas de homens e apresentou-se com o nome de seu irmão. Poucas semanas depois de seu alistamento, e sem nem tempo para pensar na encrenca onde tinha se metido, entrou em combate contra os búlgaros na Batalha de Bregalnica (atual Macedônia) onde recebeu sua primeira medalha por bravura e sua primeira ferida de guerra.
Milunka foi levada a um hospital e, logicamente, descobriram que era uma mulher. Quando seu oficial foi informado do engano, decidiu perdoá-la pelo valor mostrado no campo de batalha e disse que ela podia seguir carreira como enfermeira, se quisesse. Milunka fez questão de dizer que só serviria a sua pátria lutando na frente. Para dar uma lição naquela jovenzinha teimosa, seu superior disse que iria pensar antes de tomar uma decisão e que voltasse no dia seguinte. Mas Milunka não ia ceder, e colocando-se em posição de "sentido" disse:
- "Eu aguardo aqui mesmo senhor!" E ali permaneceu nessa posição. Depois de uma hora o oficial foi dar uma olhada e lá estava a marrenta no mesmo lugar; duas horas, do mesmo jeito e sem piscar. Na quarta hora, vendo que a pertinaz não ia ceder, ordenou-lhe que voltasse à frente com sua divisão de infantaria.
Durante 5 anos não teria trégua para Sérvia nem para a sargento Milunka, e ainda não tinha decorrido um ano da derrota dos búlgaros nas Guerras Bálcãs quando estourou a Primeira Guerra Mundial e Milunka seguiria demonstrando seu brio.
Durante 5 anos não teria trégua para Sérvia nem para a sargento Milunka, e ainda não tinha decorrido um ano da derrota dos búlgaros nas Guerras Bálcãs quando estourou a Primeira Guerra Mundial e Milunka seguiria demonstrando seu brio.
Em dezembro de 1914, na Batalha de Kolubara, os sérvios derrotaram às forças do Império austro-húngaro e nossa protagonista foi ferida com estilhaços de uma metralhadora e acabou recebendo a Ordem da Estrela de Karadjordje, a mais alta condecoração civil e militar outorgada pelo Reino da Sérvia. E não seria a única ocasião, pois em 1916 voltou à receber por capturar ela sozinha 23 soldados inimigos no rio Crna.
Apesar destes episódios bem sucedidos, a guerra não ia bem e o exército sérvio se viu obrigado a se retirar e evacuar os civis. Na retirada para a costa tiveram que suportar os contínuos ataques das forças austro-húngaras e uma penosa travessia pelas montanhas nevadas atravessando Montenegro, Kosovo e Albânia. Desde a costa foram evacuados por barcos franceses e britânicos até a ilha de Corfu, onde fizeram o balanço da situação: proteger dezenas de milhares de civis naquela travessia tinha custado muitas baixas ao exército sérvio e 7 ferimentos em Milunka.
Em Corfu reagruparam o exército sérvio que se uniu aos franceses para seguir lutando. A fama de Milunka entre os soldados aliados foi crescendo dia a dia, à mesma velocidade que as condecorações recebidas: duas da Legião de Honra de França, uma Ordem imperial e militar de São Jorge russa, uma Ordem de São Miguel e São Jorge britânica e a Cruz de Guerra Francesa (a única mulher da Primeira Guerra Mundial).
Após a guerra Milunka Savic recusou uma oferta do governo francês para instalar-se em Paris, além de uma substancial pensão, para voltar a sua terra natal onde se casou e teve uma filha. Divorciada pouco tempo depois e esquecida por seu país, teve que subsistir trabalhando onde podia.
Ainda assim, apesar de suas dificuldades econômicas, adotou três meninas órfãs de guerra. Em 1927 encontrou um trabalho estável como zeladora de um banco de Belgrado. Quando as coisas começavam a funcionar, e que tinha sido "promovida" a intendente do escritório do diretor, estourou a Segunda Guerra Mundial. Durante a ocupação alemã na Sérvia ela ficou presa no campo de concentração de Banjica por colaborar com a resistência. Conseguiu sobreviver no campo e, mais uma vez, a outra guerra.
Logo depois da guerra, recebeu um "reconhecimento" do governo sérvio em forma de uma pequena pensão, mas que não lhe permitiu abandonar sua velha casa, quase em ruínas, em que vivia com suas três filhas pequenas. Ela teve que esperar vários anos ainda, e graças à pressão da opinião pública e outros veteranos de guerra, para que o governo, dada sua difícil situação, lhe concedesse um apartamento. Milunka morreu em Belgrado, em 5 de outubro de 1973, com 84 anos e foi enterrada com honras militares em Novo Groblje.
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