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segunda-feira, 13 de março de 2017

Onde é que eu já li isto?


«O euro está para ficar, é irrevogável», anunciou Mario Draghi numa retórica sem qualquer adesão à realidade, como tem sido hábito desde que em Maastricht se iniciou o caminho da União Económica e Monetária.
O Título deste texto é uma frase emprestada a Rufino Fino, personagem de Vasco Santana no filme Pátio das Cantigas, de 1942, na altura em que o irrevogável Salazar se sentava na cadeira da Presidência do Conselho, em São Bento. Vinte e seis longos anos depois, caía da cadeira e dava lugar a Marcello, que passados seis anos se via deposto pela Revolução de Abril.
Igualmente irrevogável foi a demissão de Paulo Portas do governo, em 2013, para evitar um «acto de dissimulação». O volte-face camaleónico ainda está fresco.
Ontem, Mario Draghi, presidente do Banco Central Europeu (BCE), anunciou uma nova irrevogabilidade, a da moeda única. «O euro está para ficar, é irrevogável», anunciou num discurso repleto de anúncios grandiloquentes mas sem qualquer adesão à realidade, como tem sido hábito nestes últimos 25 anos, desde que em Maastricht se iniciou o caminho da União Económica e Monetária.
«É irrealista propor algo diferente do euro», disse Draghi do alto da presidência de um dos três pés da troika cuja acção se desenvolve na Grécia, mas que se sente hoje, e se continuará a sentir por muito tempo, em Portugal. Nada de muito diferente do que o primeiro-ministro português afirmou após o baptismo da moeda única, em 1995: «Tu és euro e sobre ti construíremos a Europa.» A mesma grandeza retórica, a mesma pobreza de conteúdo.
Se a História nos mostra que o que hoje é irrevogável, amanhã irrevogável pode ser, o passado mais recente comprova a fragilidade de um projecto que serve os grandes da União Europeia, sejam os países do directório que a dirige, sejam os grupos económicos a quem o euro tem servido para impor reduções nos gastos públicos – leia-se, redução de salários, pensões e apoios públicos – e privatizações.
O próprio Draghi corporiza a subserviência da construção europeia face à alta finança: de director do Tesouro italiano passou para a Goldman Sachs, onde trabalhou na operação europeia, que ajudou a Grécia a ocultar parte da sua dívida pública; de lá transitou para governador do Banco de Itália e de lá para o a presidência do BCE, de onde impôs ao povo grego uma redução nominal de 200 euros no salário mínimo ou o pacote de privatizações.
O «irrealismo» que o presidente do BCE atribuiu a qualquer alternativa à ditadura da moeda única nada tem de real: é mais uma manobra de chantagem sobre os povos da União Europeia, uma tentativa de frustar quem se bate pela recuperação da soberania monetária. O que, de forma cada vez mais evidente, se vem demonstrando como uma condição necessária ao crescimento económico e ao desenvolvimento do nosso país.

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