Apresentada hoje em Lisboa, a nova fundação quer influenciar a agenda mundial dos oceanos para o século XXI, dizem os seus responsáveis
Assume-se como a maior aposta de sempre na promoção da sustentabilidade dos oceanos por parte da sociedade civil portuguesa, com um investimento global de 55 milhões de euros nos próximos dez anos para atividades de educação ambiental e conservação de ecossistemas marinhos. A Fundação Oceano Azul, que é lançada hoje em Lisboa, nasce com a ambição de "influenciar a agenda mundial dos oceanos para o século XXI" .
Criada pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, a dona da cadeia de supermercados Pingo Doce, a Fundação Oceano Azul ganhou em 2015 a concessão por 30 anos do Oceanário de Lisboa, equipamento que terá "um papel central na estratégia" da nova fundação, como reconhece o presidente da sua comissão executiva, Tiago Pitta e Cunha. "O Oceanário é de longe a organização que em Portugal mais investiu em educação para os oceanos e, com a fundação, vai poder aumentar muitíssimo a escala dos seus investimentos", explica este responsável (ver entrevista).
José Soares dos Santos, chairman do conselho de administração, garante que "todos os lucros gerados pela fundação ficam na própria fundação, para serem investidos na causa da proteção dos oceanos".
Neste ano de arranque, explica Soares dos Santos, "não gastaremos mais de dois milhões de euros e para o ano, dependendo das atividades, imagino que poderemos duplicar esse valor", adianta. "Se dentro de cinco anos estivermos com um investimento anual de cinco milhões de euros, é bom, mas vamos querer chegar lá mais depressa", sublinha Soares dos Santos. E, uma vez atingida a velocidade de cruzeiro, por essa altura, o objetivo é chegar a um orçamento anual entre "os seis e os sete milhões de euros", destinados à promoção da sustentabilidade marinha e da educação ambiental.
Literacia azul e sustentabilidade
A atividade da instituição "vai assentar em três pilares": a educação ambiental, destinada, para já, ao público infantil entre o 1.º e o 4.º anos de escolaridade; a promoção da sustentabilidade dos oceanos, através de atividades de conservação de ecossistemas marinhos, em colaboração com parceiros nacionais e estrangeiros, e ainda o que os responsáveis da fundação designam "capacitação". Esta, explica Tiago Pitta e Cunha, "é uma das marcas distintivas da fundação, relativamente a outras que também fazem conservação dos oceanos". A ideia é "contribuir para o desenvolvimento do pensamento estratégico da conservação e da sustentabilidade dos oceanos e na economia do mar para este século, que tem ser a da preservação do capital natural."
Em concreto, a Fundação Oceano Azul quer influenciar a agenda internacional para as questões do mar, através "da participação em conferências das Nações Unidas" mas também "junto da Comissão Europeia e de outras instâncias internacionais". Este pilar da capacitação passará também por um programa dedicado aos oceanos e à sua relação com o clima. "Vamos querer inventar uma nova figura chamada "clima azul", e com isso vamos ter de encontrar maneiras de investir, provavelmente através da atribuição de um prémio, em projetos que consigam mostrar às pessoas que a ligação entre o oceano e o clima é profundamente umbilical", explica Tiago Pitta e Cunha. Dentro de dez anos, diz o responsável, a fundação "quer ser uma referência a nível mundial na questão dos oceanos".
A instituição é lançada hoje, mas, como sublinha o presidente da sua comissão executiva, nasce já com trabalho feito. "Ao longo de 2016, começámos a trabalhar em projetos nas áreas marinhas protegidas", explica. Em parceria com a WWF Portugal, fez-se o levantamento das áreas marinhas protegidas em Portugal. "São 71, mas até agora ninguém sabia quantas eram, porque não existe um organismo gestor centralizado", afirma Tiago Pitta e Cunha, explicando que "o trabalho de base foi feito pela WWF e financiado pela fundação".
Outra atividade, essa em colaboração com a Waitt Foundation, foi uma expedição científica aos Açores, durante dez dias, em setembro, para fazer o levantamento dos valores naturais marinhos na zona do Grupo Oriental do arquipélago. "No futuro, queremos trabalhar com o governo regional dos Açores e com o governo da República, para proteger ainda mais aquela região tão importante do ponto de vista da biodiversidade", diz. E conclui: "Queremos ser parceiros do país e do Estado português no levantamento, diagnóstico e implementação de áreas marinhas protegidas."
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