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segunda-feira, 13 de março de 2017

A discrição do dinheiro


Quem tem milhares de milhões gosta da discrição, quanto menos souberem onde está o dinheiro melhor para a segurança de quem o tem. Os movimentos de milhares de milhões não se fazem aos balcões onde a populaça pede livros de cheques ou recebe a pensão, fazem-se com garantias de discrição. 

Mas desde a crise do Lehman Brothers que movimentar milhares de milhões coloca também um problema de segurança, ter tanto dinheiro num banco que de um dia para  o outro vai à falência. Recorde-se a posição da senhora Merkel e do governo alemão que defenderam que deveriam ser os depositantes a suportar os custos da falência de um banco. 

Aquando da intervenção da troika nos bancos cipriotas os depositantes ficaram a saber que deixou de ser seguro ter grandes quantias nos bancos, os russos aprenderam uma dura lição. Colocar dinheiro em banco que oferecem grandes rentabilidades, contando com negócios mais ou menos duvidosos passou a ser um risco. 

Se há fundos que evitam investimentos de risco, chegando mesmo a investir fortunas em dívida alemã mesmo que isso implique pagar juros para emprestar dinheiro, há outros que preferem o risco. Principalmente quando o dinheiro é ganho de forma menos transparente ou quando se pretende esconder o dinheiro dos olhos do público. Neste caso, em vez de operações tranquilas e baratas no mercado financeiro, opta-se por recorrer a banqueiros como Ricardo Salgado.

Ricardo Salgado era o porto seguro de muito dinheiro, com negócios rentáveis em mercados como Angola ou Brasil, habitualmente mercados onde a corrupção tudo decide. Só que investir no BES de Ricardo Salgado exigia muito mais do que uma transferência a partir da CGD ou o depósito do ordenado. A movimentação de milhares de milhões obriga a recorrer a advogados influentes e bem informados, com boas relações com o poder político e com a banca.

Colocar milhões, dezenas de milhões, centenas de milhões ou milhares de milhões num banco como o BES implica a certeza de que se algo correr mal o dinheiro pode ser tirado a tempo. Um investidor estrangeiro, venezuelano ou angolano, precisa de quem esteja bem informado para antecipar desgraças e com poder para que as operações sejam realizadas de forma discreta.

Não há aqui qualquer crime, qualquer fuga ao fisco, qualquer ilegalidade evidente, a discrição não é crime e se a utilização de informação privilegiado levasse a condenações seriam necessárias muitas cadeiras em Lisboa para albergar tanta gente, ainda por cima cadeias 5 estrelas, já que estamos a falar de gente fina. Estes especialistas em defender os ricos são facilitadores, não faltaria quem os defendesse com o argumento de que sem eles o país perdia milhões e milhões de investimentos, necessários à estabilidade do sistema financeiro. Este é o “dark side” do nosso sistema financeiro, que por causa de um incidente estatístico, o famoso bug do BES, ficou à vista de toda a gente.

jumento.blogspot.pt

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