por Amato
A cada encruzilhada da estrada governativa, o governo PS vai tomando as suas opções. Com cada uma, define também o conjunto dos seus aliados e o conjunto dos seus opositores políticos.
A decisão de não incluir o PCP na escolha dos juízes para o Tribunal Constitucional é meramente simbólica, carece de substância política propriamente dita. O simbolismo, todavia, dissimula em si um conteúdo de natureza primordial. Chamemos-lhe confiança política. Chamemos-lhe sinceridade, respeito ou lisura. Mais do que qualquer coisa diversa, os acordos políticos com partidos coerentes, dirigidos por pessoas de palavra — como o é o PCP —, assentam neste tipo de valores.
Produz-se, deste modo, prova acabada de como o acordo de suporte parlamentar ao governo PS é visto por este último como circunstancial, como uma contingência dos tempos, e não como algo de sério e potencialmente transformador para o país que deve ser nutrido tanto como alargado. O PCP é claramente visto não como um parceiro parlamentar mas como uma pedra no sapato na governação socialista. Não existisse o PCP e lá estaria o PS a fazer todas as vontades à Alemanha e a voltar com a palavra atrás nas promessas de campanha eleitoral. A sua governação não seria mais que um redesenhar do plano de austeridade.
Neste contexto, com o governo sob constante pressão europeia e ansioso por produzir oferendas políticas para Wolfgang Schäuble, espera-se com curiosidade o que trará o orçamento de estado do próximo ano. Este tipo de indelicadezas apenas contribuirão, contudo, para que os visados se encontrem mais livres — se é que alguma vez se sentiram condicionados — para decidir o seu voto em conformidade e coerência com os compromissos assumidos com o seu eleitorado.
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