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terça-feira, 2 de setembro de 2014

CARTA AO AMIGUE HENRIQUE RAPOSO

Carta ao amigue Henrique Raposo.

Desculpe lá mê amigue Raposa, pêçe desculpa, amigue Rapose, mas a gente aqui no Algarve nunca se deu bem com as letras. Vai daí os pôques que ajuntem três palavras nem pra isse têm tempe.
Levê uma semana pr
a ler a sua cróineca “Os Algarvios” no Expresse. As palavras são assim uma espéce de mar encrespade em que a gente sai duma onda e já está a levar com outra na fucinhêra que nos dêxa desalvorades com falta d’ar. Mas li tude. Perceber, nã percebi; mas li tude.

Dizem-me agora que mecêa levou na corneta (nã leve a expressão pra outre lade…) por mode das coisas que escreveu dos algarvios. Parece que vem dezer que nã foi bem aquile que escreveu que mecêa queria dezer e por’aí fora. Que afinal mecêa até gosta da gente e que só um ou outre é que tresmalha do rebanhe.

Atão vames lá ver:

“Mantenho há vinte anos uma relação de amor-ódio com o Algarve…” – disse o amigue Rapose.

Ó P****…! Já ia dezende um palavrão… Mas atão vinte anos de amor-ódio…? Quer dezer que isse já vem dos seus 15 aninhos e o amigue Rapose nã se consegue decidir; ou amor ou ódio. Mas se puder explique-me lá: amor a quem e ódio a quem? Amor à natureza, às praias, o sol e o bom tempo e ódio a tudo quanto mexe? Quer dezer; por sua vontade, bom mesme pr’a si era o Algarve sem algarvios. Porque, ou munte me engano, ou aqui no Algarve nã escapa um que s’aprovête, tende em conta o que vem a seguir:

“… Irrito-me com a antipatia militante do algarvio puro, aquele que é típico de Odiáxere, Vila Real, Monte Francisco, Castro Marim ou Monte Gordo… mas também cidades como Portimão ou Lagos… parece que os algarvios fazem gala da sua antipatia…”

Se bem me parece mecêa varreu o Algarve de ponta a ponta, bastando perceber o que fica entre Lagos e Monte Gordo. Ou atão, vai-me desculpar, de geografia mecêa nã vê um boi. Mas é vou-lhe dezer. Passar por essas terras todas e nã encontrar um algarvio decente, ou é pouca pontaria, azar, ou com sua licença, a sua cara põe mal disposta qualquer pessoa que s’atravesse na sua frente. Se nã é da cara é dos jêtes…, que a malta aqui é muito desconfiada.

Depois, como mecêa diz “… todos os anos viro costas a empregados e a proprietários de cafés…”, pode ser por aí que a malta desconfia e fica de pé atrás.
Acrescentando mecêa que “… é como se eles sentissem que os alfacinhas amaricados só estão ali para roubar ou sugar o Algarve!”… vai nã vai a malta é bem capaz de desconfiar que o amigue Rapose vai ao café nã é bem do cafezinho que vai à procura, e este pessoal por aqui ainda nã se acostumou a certas modernices. O amigue Rapose desculpe lá mas esta malta é mesme desconfiada.

Depois mecêa descompõe-se:

“… se tivermos sorte de sermos adotados pela tribo… (estou em crer que iste nã será um insulte…) podemos descobrir que os algarvios e as algarvias podem ser os maiores amigos e as maiores paixões…!”

Espere lá aí mê amigue. Mas atão que rai de algarvios são estes…? Nã são os mesmes lá de trás…? Atão uns sã brutes que nem calhéus e depois outres sã molinhos e gente capaz de ser amiga que nem os lisboetas, que devem ser tude gente de primeira apanha e nada de rebusque?

Já agora mê amigue Rapose. Diz mecêa:

“… os algarvios têm mesmo razão de queixa, porque estiveram sempre desligados do resto do país…”

E agora é que mecêa disse uma coisa com razão. Essa é que é uma grande verdade.
E já reparou numa coisa? Sabe quem é que descobriu o Algarve…? Nem mais: foram os tais “camones”, os “bifes” e os “avecs”, porque os “lisboetas” só se alembraram da gente quando os “bifes” gritaram bem alto:

“Há um paraíso no sul de Portugal!”

Até aí nem estradas decentes se alembraram de fazer até ao Algarve. E está a ver…? A malta andou desquecida do país durante muitos anos, pra nã dezer séculos e isso leva muito tempo a desquecer, tá percebende?

E vou-lhe contar outra que estou pra imaginar que o mê amigue nã conhece:
Antes dos “bifes” e dos “camones” nos descobrirem (há que fazer também honra ao Infante de Sagres…) Lagos, Portimão, Silves, Albufeira, Loulé, Faro, Olhão, Tavira e V.R.de Stº António tinham sotaques claramente diferentes que distinguia os seus habitantes. Sotaques e alguma terminologia própria que os distinguia com clareza. Veja bem a distância entre as terras; eram mesme ali ao lado. E sabe porquê? Porque os de Lagos nã precisavam dos de Portimão, nem os de Faro precisavam dos de Olhão nem os de Tavira dos de Monte Gordo. Tinham tude ali mesme à mão de samear. Pelo que os contactos que havia… ou era para andarem à porrada quando havia bola, ou uma ou outra visita a um familiar, lá bem de tempos a tempos. Ora veja bem já naquele tempo a falta que nos faziam os lisboetas…

Même pra acabar amigue Rapose.

Apareça por cá com tempe. Nã venha quande o pessoal anda pr’aqui uns por cima dos outres e é precise aforrar algum pró reste do ano. E vai ver a gente boa que anda por aqui. Olhe que o Infante de Sagres nunca se arrependeu. De permeio ainda o pomes a dançar um corridinhe só pr'a gente se rabular de rise de ver o mê amigue andar de rableta do corete abaixo.
Tamos à espera.

Abraces.
Zé Marrache.


http://pedrocabrita.wordpress.com/


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