John McCain, chefe de orquestra da «primavera árabe», e o Califa
John McCain, chefe de orquestra da «primavera árabe», e o Califa
por Thierry Meyssan *
Todos notaram a contradição dos que qualificavam, recentemente, os membros do Emirado islâmico como «combatentes da liberdade» na Síria, e se indignam hoje com as suas barbaridades no Iraque. Mas, se este discurso é incoerente em si, ele é perfeitamente lógico no plano estratégico: os mesmos indivíduos que sendo, ontem, apresentados como aliados devem sê-lo hoje como inimigos, mesmo se estão sempre às ordens de Washington. Thierry Meyssan revela os bastidores da politica dos E.U. através do caso pessoal do senador John McCain, chefe-de-orquestra da «primavera árabe» e interlocutor de longa data do Califa Ibrahim.
" Violando o acordo de defesa Iraquiano-americano, o Pentágono não interveio e deixou o emirado islâmico prosseguir a sua conquista e os seus massacres. Um mês depois, enquanto os peshmergas do governo regional curdo haviam recuado sem batalha, e quando a emoção da opinião pública mundial se tornou demasiado forte, o presidente Obama deu a ordem para bombardear posições do Emirado islâmico. No entanto, segundo o general William Mayville, diretor de operações no Estado-maior: «Estes bombardeamentos são pouco suscetíveis de afetar as capacidades globais do Emirado Islâmico, ou as suas atividades noutras regiões do Iraque ou da Síria»24. Obviamente, eles não visam destruir o exército jihadista mas, apenas, garantir que cada ator não ultrapasse o território que lhe foi atribuído. Além disso, de momento, eles são puramente simbólicos e não destruíram senão um punhado de veículos. Na realidade tem sido a intervenção dos curdos do PKK, turco e sírio, nisto, que parou a progressão do Emirado Islâmico e, abrindo um corredor, permitiu às populações civis escapar ao massacre."
Barack Obama e John McCain são adversários políticos, como o representam, ou colaboram em conjunto na estratégia imperialista do seu país?
John McCain é conhecido como o chefe de fila dos republicanos, candidato malsucedido à presidência norte-americana em 2008. Isto não é, como o veremos, senão uma parte da sua real biografia, a que lhe serve de cobertura para conduzir acções secretas em nome do seu governo.
Na altura do ataque «ocidental» eu estava na Líbia, aí, pude consultar um relatório dos serviços de inteligência exterior. Nele podia ler-se que a Otan tinha organizado, a 4 de fevereiro de 2011, no Cairo, uma reunião para lançar a «Primavera Árabe» na Líbia e na Síria. De acordo com o documento, ela tinha sido presidida por John McCain. O relatório detalhava a lista de participantes líbios, cuja delegação era liderada pelo n.º 2 do governo da época, Mahmoud Jibril, que mudara abruptamente de campo, à entrada para esta reunião, para se tornar o chefe da oposição no exílio. Lembro-me que, entre os delegados franceses presentes, o relatório citava Bernard- Henry Lévy, embora oficialmente este nunca tenha exercido qualquer função no seio do governo francês. Muitas outras personalidades participaram neste simpósio, entre as quais uma enorme delegação de Sírios vivendo no exterior.
No final desta reunião, a misteriosa conta do Facebook Syrian Revolution 2011 (Revolução síria 2011 - ndT) convocava protestos diante do Conselho do Povo (Assembleia Nacional) em Damasco, a 11 de fevereiro. Embora esta conta pretendesse à época ter mais de 40.000 followers (seguidores) apenas uma dúzia de pessoas responderam ao seu apelo, para os flashes dos fotógrafos e de centenas de polícias (policiais-Br). A manifestação dispersou pacificamente, e os confrontos não começaram senão mais de um mês depois, em Deraa1.
Em 16 de fevereiro de 2011, uma manifestação que se desenrolava em Benghazi, em memória dos membros do Grupo islâmico combatente na Líbia2, massacrados em 1996 na prisão de Abu Selim, degenerou em tiroteio. No dia seguinte, uma segunda manifestação, desta vez em memória das pessoas mortas ao atacar o consulado da Dinamarca por alturas das caricaturas de Maomé, degenerou igualmente em tiroteio. Nesta precisa altura, membros do Grupo islâmico combatente na Líbia vindos do Egito, enquadrados por indivíduos encapuçados e não identificados, atacavam, simultaneamente, quatro bases militares em quatro cidades diferentes. No seguimento de três dias de combates e atrocidades, os contestatários lançaram o levantamento da Cirenaica contra a Tripolitânia3; um ataque terrorista que a imprensa ocidental apresentou, mentirosamente, como uma «revolução democrática» contra «o regime» de Muammar el-Qaddafi.
Em 22 de fevereiro, John McCain estava no Líbano. Ele encontrou-se lá com membros da Corrente do Futuro (o partido de Saad Hariri), que encarregou de supervisionar as transferências de armas para a Síria, por conta do deputado Okab Sakr4. Depois, deixando Beirute, ele inspecionou a fronteira síria e escolheu as aldeias, nomeadamente Ersal, que deveriam servir como base de retaguarda para os mercenários na guerra que se preparava.
As reuniões presididas por John McCain foram, claramente, o ponto de partida de um plano, previsto de longa data, por Washington; plano que previa o ataque da Líbia e da Síria simultaneamente pelo Reino Unido e pela França, de acordo com a doutrina da «liderança de bastidores» e o anexo do Tratado de Lancaster House, de Novembro de 20105.
A viagem ilegal à Síria, em maio de 2013
Em maio de 2013, o senador John McCain dirigiu-se, ilegalmente, para perto de Idleb, na Síria, através da Turquia, para aí se reunir com líderes da «oposição armada». A sua viagem só foi tornada pública após o seu regresso a Washington6.
Esta deslocação fora organizada pela Syrian Emergency Task Force (Força-Tarefa de Emergência Síria) a qual, contrariamente ao seu título, é uma organização sionista dirigida por um funcionário palestino da AIPAC7 .
Nas fotografias difundidas então, nota-se a presença de Mohammad Nour, porta-voz da Brigada Tempestade do Norte (da frente Al-Nosra, quer dizer da Al-Qaida na Síria), que havia sequestrado e detinha 11 peregrinos xiitas libaneses em Azaz8. Interrogado sobre a sua proximidade com os sequestradores, membros da al-Qaida, o senador alegou não conhecer Mohammad Nour, o qual se teria infiltrado por sua própria iniciativa nesta (tomada de - ndT) foto [a foto está no sítio em referência -NE].
O caso deu um grande sururu, e as famílias dos peregrinos raptados apresentaram queixa, perante a justiça libanesa, contra o senador McCain por cumplicidade no sequestro. Por fim, foi alcançado um acordo e os peregrinos foram libertados (liberados-Br).
Vamos supor que o senador McCain tenha dito a verdade, e que ele tenha sido explorado por Mohammad Nour. O objeto da sua viagem, ilegal, à Síria era o de se encontrar o estado-maior do Exército sírio livre. Segundo ele, esta organização era composta «exclusivamente por sírios», combatendo pela «sua liberdade» contra a «ditadura alauíta» (sic). Os organizadores da viagem publicaram esta fotografia para confirmar a reunião.
Se nela podemos ver o brigadeiro-general Salem Idriss, chefe do Exército sírio livre, também aí se pode ver Ibrahim al-Badri (em primeiro plano, à esquerda), com quem o senador está em vias de conferenciar. De regresso desta viagem surpresa, John McCain, afirmou que todos os responsáveis do Exército sírio livre são «moderados nos quais se pode confiar» (sic).
Ora, desde 4 de outubro de 2011, Ibrahim al-Badri, também conhecido como Abu Du’a, figurava na lista dos cinco terroristas mais procurados pelos Estados Unidos (Rewards for Justice - Recompensas para Justiça - ndT). Uma recompensa, podendo ir até aos $ 10 milhões de dólares, era oferecida a quem ajudasse na sua captura9. No dia seguinte, 5 de outubro de 2011, Ibrahim al-Badri foi colocado na lista do Comité de sanções da Onu como membro da Al-Qaida10.
Além disso, um mês antes de receber o senador McCain, Ibrahim al-Badri, com o nome de guerra de Abu Bakr al-Baghdadi, criou o Estado Islâmico no Iraque e no Levante (EIIL) – ao mesmo tempo que pertencia, ainda, ao estado-maior do muito «moderado» Exército sírio livre. Ele reivindicou o ataque às prisões de Taj e de Abu Ghraib no Iraque, de onde fez evadir entre 500 e 1.000 jihadistas que se juntaram à sua organização. Este ataque foi coordenado com outras operações, quase simultâneas, em outros oito países. Em cada ocasião os jihadistas evadidos juntaramse a organizações combatendo na Síria. Este caso é de tal maneira estranho que a Interpol emitiu uma nota, e pediu a assistência dos 190 países membros 11.
Pela minha parte, eu sempre afirmei que não havia, no terreno, nenhuma diferença entre o Exército sírio livre, a frente Al-Nosra, o emirado islâmico, etc. Todas estas organizações são formadas pelos mesmos indivíduos, que mudam de bandeira permanentemente. Quando se reivindicam ser do Exército sírio livre eles arvoram a bandeira da colonização francesa, e só falam em derrubar o «cão Bachar». Quando eles dizem pertencer à Frente Al-Nosra carregam a bandeira da Al-Qaida, e declaram espalhar o seu Islão (Islã-Br) no mundo. Finalmente, quando eles se dizem do Emirado Islâmico brandem, então, o estandarte do Califado, e anunciam que limparão a região de todos os infiéis. Mas, qualquer que seja a etiqueta, eles cometem os mesmos crimes: estupros, torturas, decapitações, crucificações.
No entanto, nem o senador McCain, nem os seus acompanhantes da Syrian Emergency Task Force (Força Tarefa de Emergência síria) forneceram ao Departamento de Estado as informações, em sua posse, sobre Ibrahim al-Badri, nem reclamaram o acesso a esta recompensa. Nem sequer informaram, também, o Comité anti-terrorista da Onu.
Em nenhum país do mundo, qualquer que seja o seu regime político, se aceitaria que o líder da oposição esteja em contacto directo, amigável e público, com um tão perigoso terrorista, procurado por toda a gente.
Quem é pois o senador McCain?
Mas além de John McCain não ser simplesmente o líder da oposição política ao presidente Obama, também ele é, na realidade, um dos seus altos-funcionários!
Ele é, com efeito, presidente do International Republican Institute (Instituto Republicano Internacional - ndT) (IRI), o ramo republicano do NED/CIA 12, desde Janeiro de 1993. Esta pretensa «ONG» foi criada, oficialmente, pelo presidente Ronald Reagan para estender certas atividades da CIA, em cooperação com os serviços secretos britânicos, canadianos (canadenses-Br) e australianos. Contrariamente às suas alegações é, de facto, uma agência inter-governamental. O seu orçamento é aprovado pelo Congresso, numa rubrica orçamental dependente da Secretaria de Estado.
E, é por isso, porque é uma agência conjunta dos serviços secretos Anglo-saxões, que vários Estados no mundo lhe interditam toda a actividade no seu território.
A lista das intervenções de John McCain por conta do departamento de Estado é impressionante. Ele participou em todas as revoluções coloridas dos últimos vinte anos.
Para não dar senão alguns exemplos, ele preparou, sempre em nome da «democracia», o golpe de Estado fracassado contra o presidente constitucional Hugo Chávez na Venezuela 13, o derrube (derrubada - Br) do presidente constitucional Jean- Bertrand Aristide no Haiti 14, a tentativa de derrube do presidente constitucional Mwai Kibaki no Quénia 15 e, mais recentemente, a do presidente constitucional ucraniano Viktor Yanukovych.
Não interessa em que estado do mundo, logo que um cidadão toma a iniciativa de derrubar o regime de outro Estado, ele poderá ser felicitado se nisso for bem sucedido, e que o novo regime se mostre um aliado, mas ele será severamente condenado se as suas iniciativas tiverem consequências nefastas para o seu próprio país. Ora, nunca o senador McCain foi inquietado pelas suas ações anti-democráticas, em estados onde ele fracassou e que se voltaram contra Washington. Na Venezuela, por exemplo. É que, para os Estados Unidos John McCain não é um traidor, mas sim um agente (secreto).
E um agente que dispõe da melhor cobertura que se possa imaginar: ele é o opositor oficial de Barack Obama. Nesta condição ele pode viajar para qualquer lugar no mundo (é o senador norte-americano que mais viaja), e encontrar-se com quem ele quiser sem temer. Se os seus interlocutores aprovam a política de Washington ele promete-lhes mantê-la, se a combatem, ele atira a responsabilidade para cima do presidente Obama.
John McCain é conhecido por ter sido prisioneiro de guerra no Vietname (Vietnã - Br), durante 5 anos, e disse aí ter sido torturado. Ele foi vítima de um programa concebido não para extrair informações, mas para incutir uma confissão. Tratava-se de transformar a sua personalidade, para que ele fizesse declarações contra o seu próprio país. Este programa, estudado a partir do exemplo coreano, para a Rand Corporation, pelo professor Albert D. Biderman, serviu de base às pesquisas conduzidas em Guantánamo, e em outros lugares, pelo Dr. Martin Seligman 16. Aplicado sob George W. Bush a mais de 80.000 prisioneiros permitiu transformar vários de entre eles, para fazer, assim, verdadeiros combatentes ao serviço de Washington. John McCain, que havia “rachado” no Vietname, compreende-o, pois, perfeitamente. Ele sabe como manipular, sem escrúpulos, os jihadistas.
Qual é a estratégia dos norte-americana com os jihadistas no Levante?
Em 1990, os Estados Unidos decidiram destruir o seu antigo aliado iraquiano. Após terem sugerido ao presidente Saddam Hussein, que considerariam o ataque ao Koweit como um caso interno iraquiano, eles aproveitaram o pretexto deste ataque para mobilizar uma vasta coligação (coalizão - Br) contra o Iraque. Porém, devido à oposição da URSS, eles não derrubaram o regime, contentaram-se sim em controlar a zona de exclusão aérea.
Em 2003, a oposição da França não foi suficiente para contrabalançar a influência do Comité para a Libertação do Iraque. Os Estados Unidos atacaram de novo o país e, desta vez, derrubaram o presidente Hussein. Evidentemente, John McCain era um dos principais responsáveis do Comité (Comitê - Br). Depois de ter entregue, durante um ano, a uma sociedade privada o cuidado de pilhar o país 17, eles tentaram parti-lo em três Estados separados, mas tiveram que renunciar a isso diante da resistência da população. Eles tentaram de novo em 2007, com a resolução Biden-Brownback, mas voltaram a falhar 18. Daí, a estratégia atual, que tenta conseguir isso por meio de um ator não-estatal: o Emirado Islâmico.
A operação foi preparada durante muito tempo, antes mesmo da reunião de John McCain com Ibrahim al-Badri. Assim, correspondência interna do Ministério catariano das Relações exteriores (Negócios Estrangeiros - Pt), publicada pelos meus amigos James e Joanne Moriarty 19, mostram que 5. 000 jihadistas foram formados, às custas do Catar, na Líbia da Otan em 2012, e que 2,5 milhões de dólares foram atribuídos, na mesma altura, ao futuro califa.
Em janeiro de 2014, o Congresso dos Estados Unidos realizou uma reunião secreta, na qual votou, em violação do direito internacional, o financiamento até Setembro de 2014 da Frente Al-Nosra (Al-Qaida), e do Emirado Islâmico no Iraque e no Levante 20. Embora se desconheça, com detalhe, o que foi realmente acordado a quando desta sessão, revelada pela agência de notícias britânica Reuters 21, e que nenhum média (mídia - Br) norte-americano ousou passar devido à censura, é altamente provável que a lei inclua uma secção sobre o armamento e treino de jihadistas.
Envaidecida com este financiamento norte-americano, a Arábia Saudita reivindicou, no seu canal público de televisão, Al-Arabiya, que o Emirado Islâmico estava colocado sob a autoridade do príncipe Abdul Rahman al-Faisal, irmão do príncipe Saud al Faisal (Ministro dos Negócios Estrangeiros) e do príncipe Turki al-Faisal (embaixador saudita nos Estados Unidos e no Reino Unido)22.
O Emirado Islâmico representa uma nova etapa no mercenarismo. Ao contrário dos grupos jihadistas que combateram no Afeganistão, na Bósnia-Herzegovina e na Chechénia, junto a Osama bin Laden, ele não constitui uma força de reserva, mas é um verdadeiro exército em si. Ao contrário dos grupos precedentes, no Iraque, na Líbia e na Síria, agrupados pelo príncipe Bandar Ben Sultan, eles dispõem de sofisticados serviços integrados de comunicação, que fomentam o alistamento, e de administradores civis, formados nas grandes escolas ocidentais capazes de tomar em mãos, imediatamente, a administração de um território.
Armas ucranianas, chispando de novas, foram compradas pela Arábia Saudita, e comboiadas pelos serviços secretos turcos que as remeteram para o Emirado islâmico. Os detalhes finais foram coordenados com a família Barzani, a quando de uma reunião de grupos jihadistas em Amã, a 1 de Junho de 2014 23. O ataque conjunto ao Iraque, pelo Emirado Islâmico e pelo Governo regional do Curdistão, começou quatro dias mais tarde. O emirado islâmico capturou a parte sunita do país, enquanto o governo regional do Curdistão aumentava o seu território em mais de 40%. Fugindo das atrocidades dos jihadistas, as minorias religiosas deixaram a zona Sunita, preparando assim a via para a partição do país em três.
Violando o acordo de defesa Iraquiano-americano, o Pentágono não interveio e deixou o emirado islâmico prosseguir a sua conquista e os seus massacres. Um mês depois, enquanto os peshmergas do governo regional curdo haviam recuado sem batalha, e quando a emoção da opinião pública mundial se tornou demasiado forte, o presidente Obama deu a ordem para bombardear posições do Emirado islâmico. No entanto, segundo o general William Mayville, diretor de operações no Estado-maior: «Estes bombardeamentos são pouco suscetíveis de afetar as capacidades globais do Emirado Islâmico, ou as suas atividades noutras regiões do Iraque ou da Síria»24. Obviamente, eles não visam destruir o exército jihadista mas, apenas, garantir que cada ator não ultrapasse o território que lhe foi atribuído. Além disso, de momento, eles são puramente simbólicos e não destruíram senão um punhado de veículos. Na realidade tem sido a intervenção dos curdos do PKK, turco e sírio, nisto, que parou a progressão do Emirado Islâmico e, abrindo um corredor, permitiu às populações civis escapar ao massacre.
Numerosa desinformação circula a propósito do Emirado Islâmico e do seu califa. O jornal quotidiano Gulf Daily News fingiu que Edward Snowden havia feito revelações neste sentido 25. No entanto, verificação feita, o antigo espião norte-americano não publicou nada a este respeito. O Gulf Daily News é publicado no Barein, um Estado ocupado por tropas sauditas. O artigo visa, apenas, limpar a Arábia Saudita e o príncipe Abdul Rahman al-Faisal das suas responsabilidades.
O Emirado Islâmico é comparável aos exércitos mercenários do século XVI europeu. Eles conduziam guerras religiosas em nome dos senhores que lhes pagavam, às vezes de um lado, às vezes de outro. O Califa Ibrahim é um condottiere moderno. Embora esteja às ordens do príncipe Abdul Rahman, (membro do clã dos Sudeiris), não seria de espantar que ele continue a sua epopeia na Arábia Saudita, (após um breve desvio no Líbano, ou seja no Koweit), e parta assim o bolo da sucessão real, favorecendo o clã dos Sudeiris contra o príncipe Mithab (filho, e não irmão, do rei Abdallah).
John McCain e o Califa
Na última edição do seu magazine, o Emirado Islâmico consagrou duas páginas a denunciar o senador John McCain, como «o inimigo» e «o cruzado», recordando o seu apoio à invasão norte-americana do Iraque. Temendo que essa acusação passasse em claro nos Estados Unidos, o senador emitiu, imediatamente, um comunicado qualificando o Emirado de «o mais perigoso grupo terrorista islâmico no mundo»26.
Esta polémica destina-se apenas a distrair a «galeria». Nós bem gostaríamos de acreditar nela..., se não existisse esta fotografia( no início desta matéria), de maio de 2013 [A fotografia está no sítio em referência e tem a seguinte legenda: John McCain na Síria. No primeiro plano, à direita, reconhece-se o director da Syrian Emergency Task Force. No enquadramento da porta, ao centro, Mohammad Nour. - NE].
Thierry Meyssan
Tradução Alva
* Thierry Meyssan é um intelectual francês, presidente-fundador da Rede Voltaire e da conferência Axis for Peace. As suas análises sobre política externa publicam-se na imprensa árabe, latino-americana e russa. Última obra em francês: L’Effroyable imposture: Tome 2, Manipulations et désinformations (ed. JP Bertrand, 2007). Última obra publicada em Castelhano (espanhol): La gran impostura II. Manipulación y desinformación en los medios de comunicación (Monte Ávila Editores, 2008).
Notas:
1 Nós retransmitimos os relatos da imprensa garantindo que a manifestação de Deraa foi um protesto após a prisão e tortura de liceais que haviam grafitado slogans (eslogans-Br) hostis à República. Ora, muitos colegas têm tentado estabelecer a identidade desses alunos e encontrar as suas famílias. Nenhum o conseguiu, as únicas testemunhas que falaram fizeram-no para a imprensa britânica, mas de maneira anónima, logo inverificável. Agora, estamos convencidos de que este evento nunca existiu. O estudo dos documentos, contemporâneos, sírios mostra que a manifestação foi na realidade sobre um aumento para os salários e pensões dos funcionários públicos. Ela obteve a aprovação do governo. Neste ponto, nenhum jornal mencionou estes estudantes, tendo esta história sido inventada pela Al-Jazeera, senão, duas semanas mais tarde.
2 Os membros do Grupo islâmico combatente na Líbia, quer dizer, da Al-Qaida na Líbia, haviam tentado assassinar Mouamar el-Kadhafi por conta do MI 6 britânico. O assunto foi revelado por um oficial da contra-espionagem britânica, David Shyler. Cf «David Shayler: "J’ai quitté les services secrets britanniques lorsque le MI6 a décidé de financer des associés d’Oussama Ben Laden"» («David Shayler: “Deixei os serviços secretos britânicos quando o MI 6 decidiu financiar os associados de Osama bin Laden”»-ndT), Réseau Voltaire, 18 novembre 2005.
mafarricovermelho.blogspot.pt
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