Um anão bem vestido atravessa, incólume, a rua ocupada por policiais que desarticularam um protesto contra a ditadura de Pinochet. Imagem simbólica de um país que viveu entre a ordem, o progresso e a tortura. E se havia manifestação no Chile, lá estavam os fotógrafos, dispostos a registrar, principalmente em preto e branco, cenas de uma vida bem real. Geralmente do lado de trás da câmera, os profissionais da imagem são os protagonistas do documentário A cidade dos fotógrafos (La ciudad de los fotógrafos, 2006), dirigido por Sebastián Moreno, ele mesmo filho de um dos que fizeram história arriscando a própria vida.
O filme, de 80 minutos de duração, apresenta as histórias de homens e mulheres que descobriram o poder da imagem contra a farda. Mesmo de veículos diferentes ou freelancers de publicações internacionais, andavam todos juntos, uns protegendo os outros, mosqueteiros da necessidade. Tiravam fotos entre si, para garantir que os eventuais presos não desaparecessem para sempre.
Quem protestava via os fotógrafos como aliados, porque suas imagens eram uma garantia, mesmo tênue, de vida. Por isso que os profissionais eram avisados com antecedência dos atos e conseguiam chegar antes da polícia, a tempo de garantir os cliques antes da porrada e dos jatos d’água.
Paralelamente, os fotógrafos começaram a montar um banco de dados dos desaparecidos da ditadura, visitando as famílias e reproduzindo as imagens das pessoas sorridentes, em momentos caseiros, um contraponto ao álbum sinistro que ia engordando ano após ano com Pinochet no poder.
O documentário mostra os autores de imagens como esta, familiares e amigos emocionados cantando o hino da Internacional Comunista, em mais um velório de mais uma vítima.
Ideologias à parte, os fotógrafos chilenos registraram perdas ao longo dos anos, mas não deixaram de acreditar que o jornalismo pode mudar o mundo.
VÍDEO
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