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domingo, 31 de agosto de 2014

Um sistema que produz mais de 1 milhão de pobres ano, não interessa.- O Euro, não podendo funcionar senão numa espiral de empobrecimento para um número muito numeroso de países, está condenado.



O Euro, não podendo funcionar senão numa espiral de empobrecimento para um número muito numeroso de países, está condenado.



 Senhor professor, Foi dos primeiros economistas europeus a destacar os danos produzidos pelo Euro e a pedir o seu fim. Numa das vossas últimas análises escreveu que doravante o fim é inevitável. Na vossa opinião, quanto tempo ainda decorrerá até que isso aconteça e de que país partirá a iniciativa? 
Há que distinguir aqui dois problemas. O primeiro é o da análise da situação económica que o Euro criou e das suas consequências. Vemos a partir de agora, após 13 anos, que o Euro não só não induziu convergências macroeconómicas mas que, ao contrário, exacerbou as divergências. Já o disse várias vezes e, doravante, esta posição tem o consenso dos economistas. Também vemos que o Euro é um enorme travão ao crescimento para a maioria dos países que o adoptaram, salvo, naturalmente, a Alemanha.


Vemos finalmente que o Euro agrava os défices, tanto internos como externos, e que ele conduz a um endividamento sempre maior dos países que entraram na União Económica e Monetária. Tudo isto está copiosamente documentado por numerosos autores. 
Deduzo que o Euro, não podendo funcionar senão numa espiral de empobrecimento para um número muito numeroso de países, está condenado. Mas, aqui, temos um segundo problema, o das condições que porão fim ao Euro. Estas condições podem ser uma crise catastrófica que nasce no mercado obrigacionista. 
No momento, deste ponto de vista, a situação está estabilizada pelo Banco Central Europeu. Mas a credibilidade deste último tem muito a ver com o facto de que não está testada. Um dia destes os mercados vão testar a resolução do BCE e, neste dia, o sr. Mario Draghi vai-se encontrar muito desamparado. Estas condições também podem provir das tensões políticas crescentes que o Euro provoca tanto entre os países membros da UEM como no seio destes países em que as forças anti-europeias hoje ganham dimensão. Elas podem a qualquer momento confrontar os actores políticos com a necessidade de dissolver a zona Euro ou de deixar o Euro.
Pessoalmente, super-estimei a rapidez das evoluções financeiras, com base no que havíamos experimentado em 2008-2009. Mas isto em nada muda a análise de fundo.


2. No vosso blog tem feito alusão a um possível retorno ao SME após uma eventual dissolução da zona Euro. Qual é, na vossa opinião, a melhor estratégia para sair do Euro para os países da Europa meridional? 
Um retorno ao SME implica que cada país recupere sua moeda nacional. A questão da estratégia é central aqui. Os países da Europa do Sul tem a opção entre tomar uma decisão de saída isoladamente ou pedir a dissolução da zona Euro. Se alguns países, como a Itália, a França e a Espanha, dissessem num conselho ECOFIN que estão prontos a deixar o Euro mas que seria melhor dissolvê-lo, tendo em conta o apego dos alemães ao Deutsch Mark, a solução da dissolução seria aceite rapidamente. Ela seria de longe a melhor pois sendo tomada de maneira colectiva apareceria como uma decisão "europeia". 
O fim da UEM não implicaria o fim da União Europeia nem o de uma cooperação sobre as questões monetárias entre os países afectados. Entretanto, esta solução é também a menos provável no momento actual. Uma saída isolada de um país é hoje a solução mais provável. Ela implicará a prazo (6 meses provavelmente) a explosão da zona Euro. Mas o contexto político será bem mais conflituoso.

3. Qual é, na vossa opinião, a parte de responsabilidade dos partidos socialistas europeus na crise actual e quais forças políticas considera capazes de efectuar uma mudança? 

A responsabilidade dos partidos socialistas europeus é esmagadora. Em primeiro lugar, ela é directa: estes partidos capitularam sem condições diante das exigências da finança e do capital; eles impuseram políticas austeritárias incríveis a suas populações e arcam por isso com uma grande responsabilidade na estagnação económica que experimentamos. Mas há também uma responsabilidade indirecta. Ao pretenderem que não há outras soluções senão a austeridade, e proclamando o "dogma" do Euro, ao agitar catástrofes hipotéticas no caso de uma "saída" do Euro estes partidos socialistas construíram um discurso político que bloqueia a situação e que faz parte integrante da crise. Eis porque não poderá haver saída da crise senão pela destruição destes partidos, sua explosão, e recomposições políticas importantes. Estamos em vias de assistir a isso em França e na Grécia.
Hoje, é preciso unir as forças tanto de esquerda como de direita que compreenderam o perigo que representa o Euro, não num só partido mas numa aliança que será capaz de avançar com uma política de ruptura.
4. Considera a França como um país da Europa meridional ou da Europa do Norte? Em função da sua posição, quais são os riscos em que o vosso país incorrerá em 2014? 
Muito claramente, para mim, a França é um país da Europa Meridional. Ela o é se se examinam as características tanto estruturais como conjunturais da economia e se se as compararem àquelas, por exemplo, da economia italiana. A França também culturalmente está bem mais próxima da Europa meridional do que da Europa do Norte. Por isso, ela é a mais exposta às consequências conjugadas das políticas de austeridade adoptadas na Itália e na Espanha. Enquanto estes três países permanecerem na zona Euro estão condenados a estarem numa concorrência feroz uns contra os outros. Em contrapartida, a partir do momento em que tiverem recuperado suas moedas nacionais, poderão reencontrar margens de manobra importantes.

5. Para concluir: como julga as vicissitudes da política italiana desde Novembro de 2011, quando Mario Monti começou a impor as medidas de austeridade da Europa? 
A política de Mario Monti consistiu em procurar obter resultados a muito curto prazo sem se preocupar com o longo prazo. Ele bloqueou os pagamentos que o Estado devia às empresas, deixou o crédito afundar-se e o investimento contrair-se, o que condena a médio prazo a economia italiana. Isto é o contrário de uma política de "perito". A reputação de "especialista" que ele se construiu é perfeitamente ilegítima. Ele conduziu-se como um destes políticos de baixo nível cujo nome
desapareceu nos caixotes de lixo da história.

 por Jacques Sapir
O original encontra-se no blog italiano l'Antidiplomatico e a versão em francês em http://russeurope.hypotheses.

apodrecetuga.blogspot.pt

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