Em tempos de teoria da conspiração não permita que a má intenção de alguém subtraia sua capacidade de pensar e refutar o oportunismo.
Sobre o acidente de Eduardo Campos li muita coisa que rompe com a lógica publicada pelos gurus da teoria da conspiração. Pensei em apenas ignorar. No entanto, na medida em que ignoramos deixamos ainda mais espaço para a desinformação recrutar vítimas nas redes sociais.
O comentário mais presente por meio de “piadas” e até mesmo textos pretensamente sérios, era de que a presidente Dilma teria encomendado a morte de Eduardo Campos.
Além de descabido do ponto de vista da humanidade e da ética, passível inclusive de processos por calúnia e difamação, o comentário parece desconhecer o cenário eleitoral na véspera do acidente.
Um dia antes do acidente a BAND publicou uma média ponderada entre os institutos que realizaram pesquisa de intensão de votos para a corrida presidencial no mês de agosto. Neste indicativo se analisarmos apenas os votos válidos, a presidente Dilma havia marcado 51% das intenções de voto. Ou seja, não haveria segundo turno se as eleições fossem realizadas em agosto.
Esta mesma média apontava todos os outros candidatos com apenas 49% dos votos válidos. Aécio Neves (PSDB) manteve 29% e Eduardo Campos (PSB) seguia com 11%. O quarto colocado, Pastor Everaldo (PSC), mantendo os 4% dos votos válidos. Os demais candidatos somando 5%. José Maria (PSTU), Eduardo Jorge (PV), Luciana Genro (PSOL), Eymael (PSDC) e Rui Costa Pimenta (PCO) têm 1% cada.
Não haveria o menor interesse da presidente Dilma em alterar o cenário eleitoral que tão confortavelmente a oferecia 51% dos votos válidos antes do horário eleitoral gratuito. Vale lembrar que nos 25 minutos diários destinados aos presidenciáveis a líder das pesquisas, em função de sua ampla coligação, possui o triplo de tempo do segundo colocado. O que poderia ampliar ainda mais a vantagem sobre os demais concorrentes.
A partir de 19/08/2014 a presidente Dilma Rousseff (PT) terá 11min24s, ante 4min35s do tucano Aécio Neves (PSDB) e dos 2min03s do (PSB). Os demais terão menos de 1 minuto em função da pouca representatividade parlamentar dos partidos. Neste cenário fica claro que se alguém teria motivos para realizar um atentado não seria quem lidera a corrida eleitoral e possui tanto tempo de exposição na TV e no Rádio.
Outra falácia amplamente difundida é a de que o governo federal teria tornado sigilosa a investigação de acidentes aéreos no Brasil. Não foi a presidência, e sim o Congresso Nacional que aprovou a lei. Vale destacar que este projeto de lei tramita desde 2007. O texto do projeto foi elaborado pelo CENIPA (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos).
O que gerou o projeto da lei 12.970 foi o carnaval midiático que comentaristas e apresentadores de programas policiais fizeram quando em setembro de 2006 um Boeing da GOL colidiu com um jato Legacy. Apresentadores que sequer possuíam o curso de jornalismo se aventuravam a tecer teorias sobre engenharia aeronáutica e eleger culpados e inocentes ao sabor dos índices de audiência.
Também foi fartamente compartilhada a informação de que a caixa preta do avião teria sido trocada. Um erro grave de interpretação, ou mesmo uma perniciosa e tendenciosa forma de propagar a informação levou incautos a acreditarem na possibilidade de substituição do equipamento para fraudar a investigação.
Na verdade o áudio registrado na caixa preta que não era do voo que vitimou Eduardo Campos. E sim de voos anteriores ao do acidente na mesma aeronave. Algum fator levou o equipamento a não funcionar nas últimas duas horas de voo. (conheça 5 possíveis fatores lendo este link)É muito importante destacar que a mesma aeronave já havia apresentado problemas técnicos dias antes.
A CENIPA informou em diversas entrevistas que a maior parte dos acidentes aéreos é causada por erros humanos motivados pelo excesso de trabalho e inexistência de repousos condizentes com a responsabilidade de operar uma aeronave que transporta vidas. O piloto chegou a manifestar em redes sociais seu elevado cansaço nos últimos dias.
É muito importante em períodos eleitorais não se mover exclusivamente pelo impulso. Faça uma pesquisa mais aprofundada antes de compartilhar informações, e sobretudo, de emitir opiniões de natureza condenatória. Não podemos confundir liberdade de expressão com liberdade para caluniar, difamar e ofender a honra de quem quer que seja. Isso é crime !
www.ocioso.com.br
Sem comentários:
Enviar um comentário