Coragem, num país de vendidos
“Podemos sempre pensar que apenas em cenários limite – genocídio, a guerra, extermínio – acontecem escolhas-limite; e que é a violência absoluta ou é a humilhação ou o sofrimento absoluto que impõem a revolta, o inconformismo, a coragem; ou não. Tenho para mim que as escolhas-limite se fazem todos os dias, no nosso quotidiano, e duvido muito que quem vive de espinha dobrada em tempo de paz, em tempo feliz – como é, já nos esquecemos o tempo democrático – seja capaz de endireitar a espinha em tempos difíceis”.
“Para um país onde, precisamente, 4 décadas de democracia produziram, afinal, uma sociedade asfixiada por valores do silêncio, da cobardia, do bajulamento e dessa gangrena da nossa pátria que é a inveja social. Por junto, uma cultura mesquinha, quase sempre não há ninguém que diga aquilo que todos sabem, que todos devem calar. Uma terra onde, finalmente, se instalou um medo e uma noção puramente alimentar da dignidade individual, traduza-se “está caladinho para guardares o trabalhinho” – neste aspecto, em genocídio ou democracia, os reflexos e os mecanismos são os mesmos”.
Uma crónica que não poderia ter sido mais certeira. O autor deste texto “não esteve caladinho” e, porque falou, “perdeu o trabalhinho”. Vale a pena ouvir, na íntegra, a última crónica de Pedro Rosa Mendes para a Rádio pública. Há honrosas excepções neste povo que se habituou a andar curvado e de mão estendida.
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