TALVEZ UM DIA ME CONVENÇAM
Talvez no dia, em que eu ligar uma TV e, sobre a Venezuela (também aplicável a todas as outras coisas), assistir a peças jornalísticas que - falando da crise humanitária que se lá vive - também digam, por exemplo, que desde o início do Chavizmo, os EUA e apaniguados colocaram em causa os resultados eleitorais, orquestraram golpes e aplicaram sanções económicas...
Talvez no dia em que, pegando num jornal e admitindo a fome e miséria na Venezuela, também se diga que, desde o último mandato de Chavez que, EUA e EU desataram a não pagar o petróleo comprado (através de paraísos fiscais), privando o país de mais de metade do seu Orçamento Público, aplicaram sanções comerciais que impediram a Venezuela de se abastecer nos mercados e, numa estratégia com a OPEP, fizeram cair o preço do petróleo para atacar a Russia e todos os seus aliados, depauperando todos os de que não gostam...
Talvez no dia em que eu oiça a rádio e seja dito, como é que um país, que é privado de mais de metade das suas receitas e impedido de se financiar e abastecer, sobrevive sem crise económica, quando na EU um simples aumento de juros da dívida provocou o que nós sabemos...
Talvez no dia em que, me expliquem porque é que um presidente eleito com menos votos que o concorrente, a partir de uma campanha de "fake news" orquestrada nas redes sociais e com uma taxa de abstenção de 60% e sem observadores internacionais, é mais democrático e legítimo que um eleito com 67,7% dos votos e menos de 50% de abstenção, numa eleição acompanhada por observadores como Zapatero...
Talvez quando me explicarem porque é que um Bolsonaro, vazio de ideias e cheio de reação. fascista empedernido, que só fala em privatizações e anexações de terra dos indios, é apresentado pelas agências de rating (ver o que disse a Fitch) como bom para a economia, e tudo isso passa a ser aceitável mesmo que contra as necessidades do povo....
Talvez no dia, em que elucidem, porque é que, sempre que as eleições (em qualquer país deste mundo) elegem quem o sistema não quer (vejam os referendos na UE, não realizados ou repetidos até à vitória), essas mesmas eleições, acabam sempre questionadas, simplesmente porque reflectem a vontade dos mais pobres ou de gente que eles não querem no poder...
Talvez no dia em que me expliquem, porque é que a crise humanitária na Venezuela é grave, mas porque é que é aceitável e democrático mais de metade da população Brasileira viver na pobreza, e cerca de 80% da população mundial viver no limiar ou na pobreza...
Talvez se me fizerem entender porque é que, sempre que os mais pobres se organizam e elegem que lhes dá a esperança de políticas de redistribuição diferentes, essas eleições são sempre catalogadas de "populistas", "demagogas" ou "antidemocráticas" e esses países atacados com as célebres ONG's americanas e com os humanitários bloqueios económicos...
Talvez se me conseguirem fazer entender porque é que, sempre que um estado tem nas suas mãos as suas riquezas naturais, os principais sectores estratégicos, e quando impede a sua privatização, passa a ser apelidado de "ditatorial"....
Talvez se me explicarem porque é que é aceitável, 26 pessoas terem mais de metade da riqueza mundial, quando em 1970 eram mais de 1000 e ainda há uns anos eram trezentas e tal, e tudo isto é inevitável, natural e aceitável, bem como democrático, legítimo e transparente...
Talvez se me explicarem porque é que a propaganda social dos 1% mais ricos, quando dá notícias, só refere uma parte das realidades, ocultando e omitindo enquadramentos históricos e dialéticos, bem como outras visões do problema, e tudo isso é "transparente", "credível" e "de referência"...
Talvez nesse dia... Eu acredite que estou errado nas minhas presunções!
EDGAR MOURIN: "A educação do futuro tem de passar por aceitarmos apenas as ideias que tenham em si a ideia de que o real lhes resiste sempre".
P.S. O Chavizmo cometeu um erro, pelo menos. O de não diversificar a economia e o de manter o estado agarrado ao petróleo, tornando-o vulnerável aos ataques inimigos... Mas, nada que não aconteça em democracias florescentes como a Saudita e outras.
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