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A história não era praticamente conhecida até o jornalista norte-americano David Grann ter decidido contá-la em “Killers of the Flower Moon: The Osage Murders and the Birth of the FBI”, publicado em 2017 (em Portugal foi publicado pela editora Quetzal, com o título “Assassino da Lua das Flores). E decidiu contá-la depois de ter encontrado num museu sobre a história dos Osage uma fotografia de um homem com a cabeça recortada.
David Grann ficou intrigado, quis resolver as suas dúvidas e disseram-lhe que aquele homem era William Hale, de quem se diz ter elaborado o plano para exterminar os membros daquela tribo. “Eles não podiam esquecer-se de algo que o resto dos EUA ignorava, que não se estuda nos colégios e que mesmo em Oklahoma não era do conhecimento da população”, explicou o autor ao jornal “El País”, por ocasião da recente publicação do livro em Espanha.
No meio desta história há uma heroína — Mollie Burkhart, uma Osage cuja família foi toda assassinada, ou a tiro ou por causa de intoxicações causadas por álcool adulterado ou ainda por causa de doenças das quais nunca se tinha ouvido falar. Mesmo sozinha e indefesa, Mollie Burkhart nunca desistiu. “É impossível contar tudo aquilo que ela sofreu. E também não é esse o objetivo do livro”, afirmou David Grann, que prefere homenagear os Osage pelo sofrimento em que viveram.
À descoberta da vasta reserva de petróleo, a mais vasta dos EUA, conforme se veio a perceber depois, seguiu-se uma indignação geral: a prosperidade da tribo não correspondia à imagem que se tinha então dos índios americanos, assente nas impressões e descrições dos homens brancos que com eles primeiro contactaram.
A imprensa da época começou então a classificar os Osage como “plutocratas” ou a referir-se a eles como os “pele-vermelha milionários” que viviam em autênticos palácios de tijolo e usavam casacos de pele e compravam diamantes e até carros e aviões. “Um jornalista manifestava todo o seu espanto ao ver as raparigas Osage que frequentavam os melhores internatos e vestiam sumptuosos figurinos franceses, como se belas damas das avenidas de Paris se tivessem perdido naquela pequena cidade da reserva”, escreve o autor do livro.
Também o Estado norte-americano usou todos os seus recursos para roubar os Osage
O drama dos Osage é que os direitos de exploração dos recursos da reserva só podiam ser transferidos por herança. Aqui entra em cena William King Hale, um cowboy conhecido como “Bill” e com muito poder na região; começa a casar os seus sobrinhos e amigos com índios para depois matá-los e herdar os direitos de exploração.Não agia sozinho; também o Estado norte-americano usou todos os seus recursos para roubar os Osage, declarando os membros da tribo como menores de idade e nomeando um tutor branco para gerir cada fortuna acumulada por via da venda de petróleo. “Criou-se um sistema federal de roubo que permitiu a alguns ganhar milhões e milhões e milhões. William King Hale é o criminoso clássico e muitos sentiam-se confortáveis em culpá-lo somente a ele, em declará-lo responsável por esta matança prolongada.” Perceber que a “maldade afinal vinha de gente comum foi terrível”, acrescenta David Grann.
Para se defenderem, os Osage contrataram detetives privados como o conhecido William J. Burns e recorreram aos serviços da há muito defunta agência de detetives Pinkerton, fundada em 1850 por Allan Pinkerton. No entanto, foi fraca a resistência que conseguiram criar, dada a conivência das autoridades, polícia e justiça com os criminosos. W. W. Vaughan, o primeiro advogado que se interessou pelos Osage, foi atirado de um comboio em andamento quando tinha em sua posse provas dos crimes cometidos. A imprensa da época falou numa “conspiração para matar os índios ricos” mas o assunto foi enterrado.
Houve quem mais tentasse investigar os crimes já passados muitos anos depois de eles terem ocorrido.
É o caso de J. Edgar Hoover, que enquanto diretor do FBI fez da investigação aos crimes cometidos contra os Osage a sua missão e a missão da agência federal, no século XX. O processo, no entanto, haveria de prolongar-se durante muito tempo.
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