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terça-feira, 29 de janeiro de 2019

Foram expulsos das suas terras, encontraram petróleo, ficaram ricos e foram assassinados. A história dos Osage






expresso.pt


 



Foram expulsos das suas terras no Kansas e levados para uma reserva rochosa em Oklahoma onde não havia sinal de abundância ou simples sustento. Tempos depois, no entanto, os índios Osage deram com uma imensa reserva de petróleo, ficaram ricos, muito ricos, os mais ricos (per capita) do mundo no início da década de 1920, e houve logo quem se sentisse incomodado com a ideia — ficou incomodado o Congresso norte-americano, que impôs uma série de medidas para restringir os gastos financeiros dos índios que eram proprietários das jazidas de petróleo, e ficaram incomodados alguns homens brancos da região, entre negociantes e advogados, que orquestraram esquemas para roubar e assassinar os Osage e ficar com o dinheiro deles.


A história não era praticamente conhecida até o jornalista norte-americano David Grann ter decidido contá-la em “Killers of the Flower Moon: The Osage Murders and the Birth of the FBI”, publicado em 2017 (em Portugal foi publicado pela editora Quetzal, com o título “Assassino da Lua das Flores). E decidiu contá-la depois de ter encontrado num museu sobre a história dos Osage uma fotografia de um homem com a cabeça recortada.


David Grann ficou intrigado, quis resolver as suas dúvidas e disseram-lhe que aquele homem era William Hale, de quem se diz ter elaborado o plano para exterminar os membros daquela tribo. “Eles não podiam esquecer-se de algo que o resto dos EUA ignorava, que não se estuda nos colégios e que mesmo em Oklahoma não era do conhecimento da população”, explicou o autor ao jornal “El País”, por ocasião da recente publicação do livro em Espanha.


No meio desta história há uma heroína — Mollie Burkhart, uma Osage cuja família foi toda assassinada, ou a tiro ou por causa de intoxicações causadas por álcool adulterado ou ainda por causa de doenças das quais nunca se tinha ouvido falar. Mesmo sozinha e indefesa, Mollie Burkhart nunca desistiu. “É impossível contar tudo aquilo que ela sofreu. E também não é esse o objetivo do livro”, afirmou David Grann, que prefere homenagear os Osage pelo sofrimento em que viveram.

À descoberta da vasta reserva de petróleo, a mais vasta dos EUA, conforme se veio a perceber depois, seguiu-se uma indignação geral: a prosperidade da tribo não correspondia à imagem que se tinha então dos índios americanos, assente nas impressões e descrições dos homens brancos que com eles primeiro contactaram. 

A imprensa da época começou então a classificar os Osage como “plutocratas” ou a referir-se a eles como os “pele-vermelha milionários” que viviam em autênticos palácios de tijolo e usavam casacos de pele e compravam diamantes e até carros e aviões. “Um jornalista manifestava todo o seu espanto ao ver as raparigas Osage que frequentavam os melhores internatos e vestiam sumptuosos figurinos franceses, como se belas damas das avenidas de Paris se tivessem perdido naquela pequena cidade da reserva”, escreve o autor do livro.

Também o Estado norte-americano usou todos os seus recursos para roubar os Osage

O drama dos Osage é que os direitos de exploração dos recursos da reserva só podiam ser transferidos por herança. Aqui entra em cena William King Hale, um cowboy conhecido como “Bill” e com muito poder na região; começa a casar os seus sobrinhos e amigos com índios para depois matá-los e herdar os direitos de exploração. 

Não agia sozinho; também o Estado norte-americano usou todos os seus recursos para roubar os Osage, declarando os membros da tribo como menores de idade e nomeando um tutor branco para gerir cada fortuna acumulada por via da venda de petróleo. “Criou-se um sistema federal de roubo que permitiu a alguns ganhar milhões e milhões e milhões. William King Hale é o criminoso clássico e muitos sentiam-se confortáveis em culpá-lo somente a ele, em declará-lo responsável por esta matança prolongada.” Perceber que a “maldade afinal vinha de gente comum foi terrível”, acrescenta David Grann.


Para se defenderem, os Osage contrataram detetives privados como o conhecido William J. Burns e recorreram aos serviços da há muito defunta agência de detetives Pinkerton, fundada em 1850 por Allan Pinkerton. No entanto, foi fraca a resistência que conseguiram criar, dada a conivência das autoridades, polícia e justiça com os criminosos. W. W. Vaughan, o primeiro advogado que se interessou pelos Osage, foi atirado de um comboio em andamento quando tinha em sua posse provas dos crimes cometidos. A imprensa da época falou numa “conspiração para matar os índios ricos” mas o assunto foi enterrado.


Houve quem mais tentasse investigar os crimes já passados muitos anos depois de eles terem ocorrido. 

É o caso de J. Edgar Hoover, que enquanto diretor do FBI fez da investigação aos crimes cometidos contra os Osage a sua missão e a missão da agência federal, no século XX. O processo, no entanto, haveria de prolongar-se durante muito tempo.

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