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domingo, 27 de janeiro de 2019

O «ECORESORT» DA FUZETA, OU COMO A CÂMARA DE OLHÃO COMPROMETE O FUTURO SUSTENTÁVEL DAS COMUNIDADES




A Fuzeta já está a sofrer grande pressão imobiliária.
Os planos apresentados e divulgados pelo presidente da Câmara Municipal de Olhão em declarações públicas a jornais regionais, para o futuro do concelho, revelam uma obsessão pela captação de investimento a todo o custo, centrando o crescimento económico no turismo e obviando preocupações de desenvolvimento das comunidades, das suas vivências e dos seus modos de vida.
Tomemos o exemplo da construção de um «ecoresort» de cinco estrelas na Fuzeta previsto para o pulmão verde que constitui a área do atual Parque de Campismo, explorado pela Junta de Freguesia.
Sob o isco da criação de novos empregos e da defesa ambiental (ecoturismo), pretende-se sobretudo favorecer oportunidades de ouro para o negócio especulativo e para a acumulação de riqueza pela parte da elite empresarial, descuidando-se deliberadamente os interesses e os modos de vida da comunidade e a repartição de rendimentos inerente a qualquer plano de desenvolvimento.
O ambiente já está preservado, quer na lógica de construção e exploração do Parque de Campismo (infraestruturas de qualidade e sustentáveis, importante fonte de receita municipal, arborização e limpeza), quer no investimento público que trouxe à zona ribeirinha da Fuzeta uma requalificação centrada nos habitantes e nos visitantes (passadiços, animação, arranjos e construções sustentáveis que integraram a vocação da pesca e das suas artes), pelo que a pretensão de sustentabilidade inovadora não cola.
O emprego local relacionado já foi gerado e consolidado, colocando-se a dúvida se uma concessão de luxo recrutará trabalhadores do meio a médio, longo prazo, pela exigência de especialização e de experiência que acarreta. Afinal, o que significará tal projeto em pleno coração da Fuzeta?
A primeira evidência é a alienação de um espaço que se tornará essencialmente privado, com tendência para segregar a zona envolvente. Ou seja, um resort tem sempre acesso exclusivo, vocacionado para o turismo de elite. A elite gosta de exclusividade, de comodidade, de segurança, não sendo motivação o contacto com a população envolvente. Prefere a contemplação e usufruto da paisagem, o repouso ou o entretenimento privado.
Adivinha-se assim que as tradicionais ocupações dos espaços próximos desapareçam em função das commodities exigidas pelo resort: câmaras de vigilância e segurança privada evitarão a confusão da proximidade de espaços de lazer ou de festividades locais; bares próximos encerrarão para evitar incómodos; infraestruturas de pesca serão remetidas para a periferia, assim como o habitual reboliço do embarque público para a ilha nos meses de verão; portos de recreio surgirão inevitavelmente servindo a ligação funcional do resort à Ria Formosa e porventura a outro tipo de resorts ou de passeios também exclusivos às ilhas-barreira limítrofes.
A evidência consequente será portanto a gentrificação, ou seja, a expulsão das vivências, identidades, sociabilidades e modos de vida dos habitantes locais para outros espaços pois a apropriação privada sobrepõe-se à apropriação pública.
Num contexto político mais geral para o concelho de Olhão, trata-se da aposta da Câmara em segregar espaços só para alguns, libertar terrenos para favorecer outros tantos, criar condições para a rentabilidade de negócios de milhões que apenas gerarão migalhas para a população.
Na cidade de Olhão, a remodelação dos jardins e da Avenida 5 de Outubro serve para criar «calçadões» de oferta turística.
Nas zonas ribeirinhas e ilhas-barreira, continua a legitimação continuada de demolições, com critérios abusivos, de núcleos populacionais relacionados com o lazer (turismo tradicional local e nacional) e com atividades complementares (pesca e marisqueiro), enquanto se licenciam construções de interesse turístico especulativo em áreas mais que banhadas pelas águas da Ria Formosa.
Também as concessões relacionadas com portos de abrigo e de marinas que colocam riscos ambientais (poluição e destruição de pradarias marinhas), quer pela simples ancoragem, quer pelos detritos que qualquer estadia náutica provoca ou pelo aumento previsível da livre circulação de embarcações, enquanto restrições relacionadas com a pesca tradicional continuam a ser aplicadas e sujeitas a vigilância intensiva.
Também as infraestruturas necessárias a esta atividade continuam negligenciadas. Um exemplo são as promessas de portos de abrigo não cumpridas, o impedimento de multifuncionalidade dos barcos (pesca, transporte de familiares e de géneros), a redução do acesso a bancos de pesca costeiros pela aposta na aquacultura e nas reservas para «investigação científica» ao largo da Armona.
Assim, cá se vai andando com a cabeça entre as orelhas… mas o BE de Olhão alerta: todas as cabeças pensam por mais que cabeças «pseudo-coroadas» o queiram evitar!
Artigo de opinião assinado em coletivo pela Comissão Coordenadora Concelhia de Olhão do Bloco de Esquerda


barlavento.pt

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