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quinta-feira, 26 de abril de 2018

26 de Abril de 1937: Guerra Civil de Espanha. Bombardeamento de Guernica pela força aérea alemã, de Hitler, ao serviço das forças de Francisco Franco.


Guernica, 26 de abril de 1937. É segunda-feira, dia de mercado para os sete mil habitantes da pequena cidade basca. A vida corre com relativa normalidade até que, por volta das 16h30, os sinos da igreja começam a tocar a rebate. Não há tempo para grandes espantos

Cinco minutos depois está um avião a sobrevoar o povoado e a lançar seis bombas explosivas e uma saraivada de granadas. Logo a seguir aparece outro avião. E depois outro. Começava o massacre e um dos episódios mais trágicos da Guerra Civil de Espanha.

No final do ataque aéreo, as esquadras de bombardeiros Heinkel 111 e Junker 52, num total de quarenta aviões, tinham lançado trinta toneladas de bombas e metralhado sem piedade homens, mulheres, crianças e até gado. A cidade estava completamente destruída.


O mistério de Guernica


Há 80 anos começava a ser desenrolada uma história cujos contornos ainda hoje permanecem em parte obscuros. Só nos finais dos anos de 1970, isto é, mais de quarenta anos após os bombardeamentos, começou em Espanha a ser desmontada a versão oficial do franquismo, prontamente seguida pelo Portugal de Salazar, segundo a qual a vila basca não fora bombardeada mas sim incendiada e destruída pelos republicanos rojos em fuga.

Ao longo de décadas foi construída uma complexa teia desculpabilizadora, ao ponto de ainda nestes primeiros anos do século XXI permanecerem em aberto discussões infindáveis sobre se houve ou não bombardeamento, se o número de mortos ficou em pouco mais de cem ou ultrapassou os 1500, se há uma exclusiva responsabilidade dos alemães por uma ação que seria do desconhecimento de Franco, se a povoação era ou não um objetivo militar, se, por ser dia de mercado e estarem a chegar muitos refugiados da frente, estariam ali naquele dia não os habituais 5 a 7 mil habitantes mas perto de 10 mil pessoas, ou, até, porque é que os governos democráticos recuaram quando se tratou de proceder à condenação internacional do bombardeamento de uma cidade aberta.


O ataque da Legião Condor


Não existem hoje dúvidas de que aquelas três horas infernais foram provocadas, no essencial, pela alemã Legião Condor, colocada ao serviço de Franco por Adolfo Hitler, mas subsiste a dúvida sobre os motivos que levaram ao envolvimento germânico nesta operação.

O assunto foi tabu na Alemanha durante décadas e só em 1975 foi oficialmente reconhecido que Guernica tinha sido bombardeada pelos aviões da Legião Condor.

Mais de vinte anos depois, a 27 de março de 1997, o então Presidente da República Federal Alemã, Roman Herzog, foi recebido no Centro "Gernika Gogoratuz" e aí entregou uma declaração formal em que assume aquele passado e reconhece "expressamente a culpa dos aviões alemães".

Perante os sobreviventes da destruição de Guernica, Herzog disse partilhar "o luto pelos mortos e feridos", e ofereceu-lhes, a todos eles, que transportam ainda nas entranhas "as feridas do passado", a mão aberta, suplicando-lhes a reconciliação.


A tese do embuste


Durante anos e anos, a partir de meios franquistas, foi alimentada a tese de que Guernica era um embuste fabricado pelos "vermelhos" e de que a destruição fora provocada por incêndios desencadeados por separatistas.

Historiadores como Herbert Ruitledge Southworth, autor de "La Destruccion de Guernica: periodismo, diplomacia, propaganda e historia", sustentam que "a história da destruição da cidade basca de Guernica é antes de mais um assunto de despachos de imprensa", ao ponto de poder dizer-se que "sem a presença de correspondentes estrangeiros (...) em Bilbau na noite de 26 para 27 de abril de 1937, o acontecimento de Guernica não teria aparecido tal como o conhecemos hoje".

Provavelmente, nem sequer seria conhecido. Na verdade, o conhecimento internacional do bombardeamento de Guernica deve muito a uma sucessão de acasos, o mais importante dos quais terá sido a circunstância de naquela noite estarem em Bilbau quatro jornalistas profissionais, todos eles estrangeiros: George Lowther Steer, do "The Times", Noel Monks, do "The Daily Express", Christopher Holme, da agência Reuters, todos de Londres, e Mathieu Corman, correspondente do "Ce Soir", de Paris.


A importância dos jornais


As primeiras informações sobre os horrores do bombardeamento surgem em Inglaterra na tarde do dia 27, mas é na manhã seguinte que se dá a explosão de indignação quando os respeitados e conservadores "The Times" e "The New York Times" publicam o emocionante relato de George Steer, o mais reproduzido e comentado em quase todo o mundo mas sem qualquer eco em Portugal.

Steer escreve: "Às duas horas da manhã de hoje, quando visitei a cidade, o seu conjunto apresentava uma visão aterradora, ardendo de ponta a ponta. O reflexo das chamas podia ser visto nas nuvens de fumaça acima das montanhas a dez quilómetros de distância. Durante toda a noite caíam casas e as ruas tornavam-se longas pilhas de destroços vermelhos impenetráveis. Muitos dos sobreviventes civis iniciaram a longa caminhada de Guernica a Bilbau em antigas e sólidas carroças bascas puxadas por bois. As carroças, repletas de todo o tipo de utensílios domésticos, obstruiram as estradas durante toda a noite. Outros sobreviventes foram evacuados em camiões do Governo, mas muitos foram forçados a permanecer nas redondezas da cidade incendiada deitados em colchões ou procurando parentes e crianças perdidas, enquanto unidades dos bombeiros e da polícia basca motorizada, sob orientação pessoal do ministro do Interior, senhor Monzon e sua esposa, continuavam o trabalho de resgate até o amanhecer"


Símbolo da Paz


O despacho é longo, mas George Steer, um repórter experimente que seguira já a guerra da Etiópia, tem a percepção imediata da dimensão da catástrofe e escreve: "Pela sua execução e grau de destruição perpetrado, assim como pela eleição do objetivo, o bombardeamento de Guernica não tem exemplo na história militar".

Guernica ficou para sempre como um símbolo da barbárie humana. Imortalizada pelo quadro de Picasso, que como nenhum outro soube simbolizar os horrores da guerra, a cidade é hoje um centro mundial de paz e acolhe todos os anos, a pretexto do aniversário do bombardeamento e destruição de Guernica, colóquios e congressos.


Fonte: Expresso


Guernica - Pablo Picasso
Ficheiro:Bundesarchiv Bild 183-H25224, Guernica, Ruinen.jpg
Ruínas de Guernica

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