Gasear civis inocentes é terrível. Oprimir um povo, seja de que maneira for, é inqualificável, inaceitável, horrível e deve ser combatido. Deve ser combatido de forma eficaz, sem meios termos. Deve gerar ruptura. Podem existir contactos diplomáticos, em nome do bem comum, mas se apontamos o dedo a uma ditadura, se a acusamos e condenamos com provas factuais, se nos juntamos aos nossos pares para a atacar, não raras vezes de forma ilegítima e sempre por procuração, então não podemos fazer negócios com tais facínoras. Não podemos ter os seus mealheiros nos nossos bancos, as suas empresas a patrocinar as nossas competições e clubes de futebol, as suas bandeiras hasteadas no centro das nossas praças financeiras. Ou podemos, e nesse caso temos que nos deixar de merdas. Or grow a pair.
Mas já que estamos numa de suprimir todo o mal que há no mundo, e não apenas aquele que se senta em cima de uma importante rota alternativa para um gasoduto que poderá significar um prejuízo colossal para a Federação Russa, porque não apontar os canhões um pouco mais para sul, para esse grande exportador de fundamentalismo wahhabitaque é a Arábia Saudita? A resposta é simples: porque dá mais jeito vendê-los, e os tipos gostam de comprar armas. E compram bem.
Ironicamente, a onda dos tipos é mais chicotes, cimitarras e cabeças cortadas. É malta old school. Vão para a praça central, chamam os homens e as crianças para ver, as vezes até as mulheres, sob supervisão dos homens, claro, e apedrejam pecadores e infiéis, que em bom rigor também são pecadores, lote que inclui crianças que aguardam a maioridade para ser executadas. O Expresso chama-lhe “reino ultraconservador”. Não é. É uma monarquia absoluta. Um totalitarismo implacável, sem escrúpulos, calculista, manipulador, cruel e maligno. Um filme de terror para qualquer democrata.
Nos primeiros quatro meses do ano, a Arábia Saudita executou 48 pessoas, algumas das quais por “crimes” como incesto ou bruxaria. Lei corânica na sua interpretação mais violenta, não muito diferente da que aplica o Daesh. Nos primeiros 8 meses em que o herdeiro do Rei Salman assumiu os destinos do país, 133 pessoas foram executadas, o dobro daqueles que foram sujeitos à pena capital nos 8 meses que o antecederam. O reino sunita foi o terceiro país que mais vezes aplicou a pena de morte em 2017, atrás da China e do Irão, num top 10 onde o único país ocidental que figura é, como não podia deixar de ser, a land of the free. United States of Fuckin America.
Mohammed bin Salman, o príncipe herdeiro do regime carniceiro saudita, bem como o seu pai antes de si, são recebidos em Paris, Londres ou Washington com toda a pompa e circunstância que os petrodólares podem comprar. Um estado que oprime, mutila, apedreja e crucifica. Que chicoteia bloggers que ousam pensar. Onde a imprensa não é livre, o povo não é livre e as mulheres um mero objecto. Mas nada disso interessa, porque a ideologia reinante, no moralíssimo ocidente, é a ideologia do dinheiro, o que em parte explica a natureza paradoxal da jihad americana do troglodita que preside ao planeta Terra.
aventar.eu
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