No dia 28 de Abril de 1789, a embarcação Bounty é palco de um motim. Assim começa uma das mais conhecidas histórias da marinha inglesa, que ilustra a durabilidade do domínio britânico sobre os mares.
Dois anos antes, em Dezembro de 1787, a embarcação havia deixado o porto inglês de Spithead com uma tripulação de 44 homens com destino ao Taiti, no Pacífico. Posteriormente, a Bounty seguiria para as Antilhas.
Tratava-se de um barco de transporte de carvão de três mastros, antes chamado Bethya, que foi remodelado e rebaptizado como Bounty.
O objectivo da viagem era colher sementes da ‘fruta-pão’, árvore frutífera originária da Oceânia, no Taiti e levá-las à Jamaica, onde os britânicos contavam cultivá-las para poder alimentar os escravos da lavoura.
A missão foi confiada ao tenente William Bligh, 33 anos. Bligh já tinha efectuado diversas viagens transatlânticas e participou da segunda missão do explorador James Cook. Para as necessidades da viagem, o capitão Bligh – seu título a bordo – recrutou marinheiros voluntários, de preferência os reincidentes, ou homens arrebanhados à força nos portos segundo uma prática corrente na marinha britânica.
O quarto oficial, Fletcher Christian, havia cumprido três travessias com Bligh. Este, pouco após a partida, ofereceria a seu amigo a função de quarto-mestre, seu segundo a bordo, ignorando a nomeação oficial pelo Almirantado de John Fryer. Esta seria a primeira causa de dissensão.
A embarcação navio tomou o rumo oeste tendo em vista contornar o continente americano pelo cabo Horn. Várias semanas de tempestades, no entanto, convenceram o capitão a mudar de itinerário, seguindo pelo Cabo da Boa Esperança. Na nova rota, mais um contratempo: a ausência de vento. O problema obrigou a tripulação a conduzir o navio a remo.
As duras condições da travessia e a falta de disciplina levaram o capitão a lidar com a tripulação de maneira mais bruta. Por fim, dois meses depois, a Bounty chegou ao Taiti, onde foi calorosamente acolhido pelos habitantes, em especial as mulheres.
A Bounty partiu do Taiti após algumas semanas a recolher sementes das famosas árvores. Tão logo em alto mar, Bligh conseguiu restaurar a disciplina, mas os novos métodos não foram tolerados pelos marinheiros voluntários. O descontentamento suscitou a revolta de uma parte deles, com o apoio de Fletcher Christian, saudoso das belas taitianas. O capitão Bligh e 18 dos seus fieis trabalhadores foram então abandonados sobre um bote de cinco metros em pleno Oceano Pacífico.
Ao preço de uma severa disciplina e graças a um racionamento extremo dos alimentos, os exilados conseguiram alcançar a ilha de Timor após um périplo de 5 mil quilómetros. A ambição de Bligh, no entanto, era chegar a Londres para pedir um castigo exemplar para os amotinados.
Os que ficaram no barco, um total de 25 tripulantes, retornaram a Taiti, onde ajudaram o rei Pomaré I a reforçar a sua autoridade sobre a ilha.
Para escapar da perseguição da justiça inglesa, os mais decididos resolveram deixar a ilha. Embarcaram novamente na Bounty na companhia de belas taitianas, seis taitianos e um serviçal negro.
O objectivo era refazer a vida num lugar o mais isolado possível. Encontraram então uma ilhota que não estava no mapa, baptizada de Pitcairn, entre as ilhas de Páscoa e o arquipélago de Gambiers. Christian teve o cuidado de mandar queimar a embarcação.
Todavia, o idílio logo se transformou num pesadelo em razão da rivalidade em volta das mulheres. Cada amotinado dispunha de uma mulher enquanto os taitianos deviam ficar com uma para cada dois homens. A morte de uma delas gerou violentas disputas entre os homens na ilha.
Quando os americanos redescobriram Pitcairn em 1808 só restava na ilha um sobrevivente da Bounty, John Adams, que tivera a satisfação de preencher a sua solidão no meio de uma dezena de taitianas e de mais de vinte crianças.
O ex-amotinado morreu em 1829 aos 65 anos, chefe da pequena comunidade mestiça. Ainda hoje, algumas dezenas de pessoas cultivam a lembrança da Bounty.
Quanto aos amotinados que permaneceram no Taiti, todos foram encontrados pelo capitão Edwards, comandante da fragata Pandora, que conhecia o caso Bounty. Entregues à justiça inglesa pelo rei Pomaré, passaram em Londres por um tribunal marcial. Apenas três deles foram condenados à morte e enforcados. O relato da sua tragédia comoveu a opinião pública britânica e obrigou o Almirantado a humanizar a disciplina a bordo dos seus navios.
Os estúdios de Hollywood não deixaram de aproveitar esta história e produziram em 1935 uma epopeia com o título de O Grande Motim, com Clark Gable no papel de Fletcher Christian.
Outros filmes sobre o tema foram feitos, entre eles Revolta na Bounty (1962) com Marlon Brando.
Fontes: Opera Mundi
wikipedia (imagens)
Os amotinados abandonam William Bligh e os seus companheiros do HMAV Bounty
VÍDEO
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