A Antena 1 forneceu hoje dois exemplos de como evoluiu o discurso de oposição de direita.
Os casos do incêndio de Pedrógão e o assalto aos armazéns militares de Tancos são o pretexto para a declaração de que se acabou o estado de graça da esquerda, porque mostraram que as funções básicas do Estado - protecção dos cidadãos e segurança - não estão a ser asseguradas.
Rui Ramos, na sua crónica semanal, defendeu que a solução não está no optimismo (leia-se de António Costa), nem no pessimismo (leio eu, de Passos Coelho). A virtude estaria na lucidez, que funcionaria como uma nova lógica de olhar para os problemas. Já Helena Garrido, que foi uma entusiasta da aplicação do Memorando da Troika e uma opositora declarada nas crónicas da Antena1 da política seguida pelas forças de esquerda, sustentou salamonicamente que, se uns dizem que é melhor menos Estado (a direita) e outros mais Estado (a esquerda), a solução está em "melhor Estado".
Se passarmos ao largo do vácuo senso comum de ambas as declarações - ninguém defende uma solução política que não seja lúcida, nem que haja em Portugal políticas que redundem em "pior Estado" - aquilo que está a ser dito é "eu sou contra porque sou lúcido" e "eu defendo um menor Estado que seja melhor Estado". Ou seja, nada de novo à direita. Sobretudo quando se branqueia - por omissão - os efeitos da política económica de direita, na delapidação dos recursos públicos e na defesa de que as funções públicas são melhor executadas por agentes privados.
Geralmente, quem defende que não é de esquerda ou de direita - porque é lúcido -, é porque tem uma lógica de pensamento que se encaixa na direita. Em época de maré baixa, pode apresentar-se com aquela base eminentemente anos 30: "Eu não sou político, sou técnico" (ou seja, outra forma de ser lúcido).
A direita não gosta de ser de direita. Porque acha sinceramente que o poder (à direita) é O PODER. É o "arco-da-governação". Esse PODER é algo que tem séculos e que a direita não gosta de disputar, de ser relativizada a esse ponto, porque se vê uma emanação da natureza. E o Estado é o Poder. Se a direita suscita como essencial a questão do Estado é porque está contra aquilo que a intervenção do Estado pode fazer nas questões essenciais na sociedade - e que a direita não resolveu porque não está na sua essência resolver: a igualdade na repartição de rendimento.
O que parece, pois, estar a acontecer é uma reformatação do discurso das franjas da direita, para que continue a ser direita sem o parecer.
Apenas uma nota final: Curiosamente, nenhum dos dois intervenientes considerou o apagão dos dados das transferências para os offshores como um sinal da quebra das funções do Estado. É assim, a visão lúcida da direita.
Os casos do incêndio de Pedrógão e o assalto aos armazéns militares de Tancos são o pretexto para a declaração de que se acabou o estado de graça da esquerda, porque mostraram que as funções básicas do Estado - protecção dos cidadãos e segurança - não estão a ser asseguradas.
Rui Ramos, na sua crónica semanal, defendeu que a solução não está no optimismo (leia-se de António Costa), nem no pessimismo (leio eu, de Passos Coelho). A virtude estaria na lucidez, que funcionaria como uma nova lógica de olhar para os problemas. Já Helena Garrido, que foi uma entusiasta da aplicação do Memorando da Troika e uma opositora declarada nas crónicas da Antena1 da política seguida pelas forças de esquerda, sustentou salamonicamente que, se uns dizem que é melhor menos Estado (a direita) e outros mais Estado (a esquerda), a solução está em "melhor Estado".
Se passarmos ao largo do vácuo senso comum de ambas as declarações - ninguém defende uma solução política que não seja lúcida, nem que haja em Portugal políticas que redundem em "pior Estado" - aquilo que está a ser dito é "eu sou contra porque sou lúcido" e "eu defendo um menor Estado que seja melhor Estado". Ou seja, nada de novo à direita. Sobretudo quando se branqueia - por omissão - os efeitos da política económica de direita, na delapidação dos recursos públicos e na defesa de que as funções públicas são melhor executadas por agentes privados.
Geralmente, quem defende que não é de esquerda ou de direita - porque é lúcido -, é porque tem uma lógica de pensamento que se encaixa na direita. Em época de maré baixa, pode apresentar-se com aquela base eminentemente anos 30: "Eu não sou político, sou técnico" (ou seja, outra forma de ser lúcido).
A direita não gosta de ser de direita. Porque acha sinceramente que o poder (à direita) é O PODER. É o "arco-da-governação". Esse PODER é algo que tem séculos e que a direita não gosta de disputar, de ser relativizada a esse ponto, porque se vê uma emanação da natureza. E o Estado é o Poder. Se a direita suscita como essencial a questão do Estado é porque está contra aquilo que a intervenção do Estado pode fazer nas questões essenciais na sociedade - e que a direita não resolveu porque não está na sua essência resolver: a igualdade na repartição de rendimento.
O que parece, pois, estar a acontecer é uma reformatação do discurso das franjas da direita, para que continue a ser direita sem o parecer.
Apenas uma nota final: Curiosamente, nenhum dos dois intervenientes considerou o apagão dos dados das transferências para os offshores como um sinal da quebra das funções do Estado. É assim, a visão lúcida da direita.
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