No último ano de sessão legislativa, houve dez deputados de quem não se ouviu perguntas ou intervenções nas sessões plenárias da Assembleia da República (AR).
A maioria é do PSD, sendo que há três parlamentares que não abriram a boca desde que foram eleitos, em outubro de 2015: o socialista Miranda Calha e os sociais-democratas Rui Silva e Pedro Pinto.
Se alguns admitiram, ao JN, que não intervieram por opção própria ou devido à gestão dos tempos e da visibilidade dada aos estreantes, decidida pelas direções das bancadas; outros alegaram que há uma "asfixia" imposta pela maioria de Esquerda ao debate.
De acordo com dados da AR, apenas o PS e o PSD tiveram deputados silenciosos nos plenários. Do lado socialista, contam-se Fernando Jesus, eleito pelo Porto há 22 anos, e Miranda Calha, parlamentar desde 1976 e que não se faz ouvir há dois anos.
Pelo PSD, a lista é extensa. Eleito estreante pelo círculo de Braga, Rui Silva não interveio nesta sessão legislativa, nem na anterior. O mesmo aconteceu com Pedro Pinto, deputado desde 1980 e presidente do Conselho de Administração do Parlamento. "Não falei por opção. Sinto que há um trabalho nos bastidores que me absorve e que não é visível", assegurou Pedro Pinto, ao JN.
Na lista laranja, seguem-se o secretário-geral do PSD, José Matos Rosa, que não profere uma palavra desde abril de 2016, e o ex-ministro da Defesa José Pedro Aguiar Branco, que só interveio na sessão de 2016, no debate do Estado da Nação.
Contam-se também os deputados José António Silva, eleito por Leiria, e Isaura Pedro, de Viseu. Ambos só ligaram o microfone para informarem a mesa da entrega de declarações de votos - que chegam à mesa do Parlamento por escrito. A zeros está ainda Ana Oliveira, de Coimbra, mas que conta com o facto de só ser deputada efetiva desde abril deste ano.
Por último, a ex-ministra da Justiça Paula Teixeira da Cruz, em quem o PSD apostou para discursar na sessão comemorativa do 25 de Abril, em 2016. O Parlamento indica que só há duas gravações, de alguns segundos, em que trocou algumas palavras com a mesa do Parlamento, sem que tal configure uma pergunta ou intervenção: uma foi para criticar o presidente da AR pela condução dos trabalhos, e, outra, quando pediu a distribuição de fotocópias pelas bancadas da Esquerda.
"Há um enorme condicionamento democrático no debate, onde tudo é permitido às bancadas da maioria: ofensas, gritos e desconsiderações. Contra isto, tenho lavrado o meu descontentamento", denunciou Teixeira da Cruz ao JN, garantindo ter muito trabalho produzido, em sede da comissão parlamentar. "Não contem comigo para fazer uma política que não dignifica o regime democrático e contra uma verdade ditatorial que se instalou."
Outros dois deputados, ao JN, apontaram às direções das suas bancadas a razão do seu silêncio. "Aposta-se sempre nos mesmos", disse um deles. O social-democrata Firmino Pereira, que esteve um ano e meio sem intervir, tendo-o feito a 14 de junho, corrobora este motivo. "Não se dá espaço a novos deputados para terem um papel mais ativo", explicou.
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